O USO DE ANÁFORAS INDIRETAS PARA EXPRESSAR A ARGUMENTAÇÃO EM PERFIL DO TWITTER
SIMÃO; Renata Quental 1 RESUMO: Este artigo relata de que forma as Anáforas Indiretas são estratégias de ativação de referentes novos, capazes de garantir a progressão e a argumentação possibilitando assim analisa-las dentro do texto. Para esta finalidade, utilizaremos publicações de cunho politico social, na página pessoal do deputado Jair Bolsonaro (@Depbolsonaro), apresentadas no micro blog Twitter . PALAVRA CHAVE: Linguística Textual; Referenciação; Anáfora Indireta; Twitter.
1.
INTRODUÇÃO Neste artigo aprofundaremos nosso estudo sobre a referenciação, analisando de que
forma o uso de Anáfora Indireta, que subscreve-se a partir de agora AI é é capaz de agregar ao texto novos referentes sem que o sentido do texto seja prejudicado, mas sim, enriquecendo o conteúdo e léxico textual. Para melhor indicar esta estratégia linguística, faremos o uso de trechos retirados do micro blog twitter . Atualmente o twitter é um dos principais meios de comunicação digital, utilizado para retratar o cotidiano de pessoas anônimas e famosas, o seu uso é livre para que todos expressem sua opinião sobre o que julgar conveniente e é nesta vertente que analisaremos tuítes do Deputado Jair
Bolsonaro.
Em virtude do cenário politico que vivemos atualmente, não temos por interesse partilhar de opiniões ou posicionamentos posicionamentos contrários e favoráveis de qualquer parte inserida neste contexto, faremos a análise com foco no uso das anáforas indiretas, pois segundo MARCUSCHI (pág 56, 2001): “É o fato de nas AI não não ocorrer uma retomada de referentes, mas sim uma ativação de referentes novos .”, esta .”, esta estratégia de referenciação tem a valiosa função de ancorar a progressão textual sem que se faça o uso da retomada de algum determinado trecho do texto, mas sim agregar novos referentes ao texto. É dessa forma que analisaremos um pouco mais sobre a construção do discurso, e o uso de referentes capazes de tornar o estudo da referenciaçã r eferenciaçãoo uma fonte de novos aprendizados.
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Aluna do quinto semestre do Curso de Língua Portuguesa, da Faculdade Metodista de Piracicaba – UNIMEP UNIMEP E-mail:
[email protected]
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A definição deste artigo será feita da seguinte forma: Inicialmente, a anáfora indireta será apresentada dentro da linguística textual e também em seu processo de referenciação. Em seguida trataremos das características dessa ferramenta analisando sua utilização dentro do Corpus escolhido, aprofundando nossa visão sobre o tema proposto através de problemáticas
a serem julgadas de suma importância para que seja colocado em prática o uso da linguística textual em nossa sociedade e nos diversos meios de comunicação que se fazem presentes na mídia atual e, por fim, defendemos como o processo de referenciação pode ser ancorado há um limite reduzido de palavras.
2.
PRESSUPOSTOS TEÓRICOS
2.1.
Linguística Textual A linguística textual surge com a função de preencher as lacunas deixadas pela
gramatica de frases, ampliando assim o fato de ser analisada somente uma fração do texto, para sua análise como um todo. Conforme afirma Chomsky (1965, IN , linguística textual: Introdução. p. 14), “o texto é muito mais do que uma simples sequencia de enunciados, a sua compreensão e a sua produção derivam de uma competência especifica do falante, – a competência textual- que se distingue da competência frasal ou linguística em sen tido estrito”. Segundo KOCH E FAVERO (Linguística textual: Introdução. PG 11) “a Linguística textual, consiste em tomar como unidade básica, ou seja, como objeto partícula de investigação não mais a palavra ou frase, mas sim o texto, por serem os textos a forma especifica de manifestação da linguagem”. Dessa forma, conseguimos entender que o texto deve ser analisado como um todo, e neste âmbito temos sobre objetos de estudo além do texto, outras ferramentas de analise, tais como a argumentação que trataremos a seguir. 2.2.
Argumentação Charaudeau (“Linguagem e discurso – modos de organização.” Contexto, 2008),
explica que argumentar é uma atividade discursiva de influenciar o nosso interlocutor por meio de argumentos, ou seja, a argumentação está intrínseca em nós, ela faz parte do ser humano desde o começo de seu ciclo de evolução. A criança já nasce com a capacidade do argumentar, ela chora ou muda seu tom de voz para conseguir um brinquedo, um doce ou o que quer que seja, quando adolescentes usamos a argumentação para obter sucesso em uma paquera, ou persuadir nossos pais para obter liberação para chegar mais tarde em casa, quando
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adultos, usamos para influenciar nosso ciclo de amigos em relação a política, futebol, um bom local para se hospedar nas férias e também argumentamos em uma entrevista de emprego, ou defendendo nossas teses em bancas de conclusão de cursos, enfim, a argumentação é a tentativa que usamos para persuadir o nosso interlocutor afim de que este mude seu comportamento para que seja moldado de acordo com nossas intenções. Koch, 2015. (“Escrever e Argumentar” -Contexto. P. 24), ensina três itens essenciais para que uma argumentação seja bem sucedida. I)
Uma proposta que provoque em alguém um questionamento, quanto a sua legitimidade;
II)
Um sujeito que desenvolva um raciocínio para demonstrar a aceitabilidade ou legitimidade quanto a essa proposta;
III)
Um outro sujeito que se constitua alvo da argumentação. Trata-se da pessoa a quem se dirige o sujeito que argumenta, na esperança de conduzi-la a compartilhar da mesma convicção, sabendo que ela pode aceitar (ficar a favor) ou refutar (ficar contra) a argumentação.
Então é preciso que haja uma combinação de elementos textuais com conhecimento de mundo e vivências pessoais para que o sujeito possa construir a partir de um ponto de vista racional, sua argumentação e consiga persuadir o seu interlocutor. Veremos em nossa análise, como estes conceitos são colocados em prática, de que forma o Deputado Jair Bolsonaro utiliza de argumentação para persuadir seus eleitores e companheiros políticos a compartilharem de seus mesmos ideais que são contrários ao partido político que atualmente dirige o nosso país, portanto sendo contra a presidenta Dilma e o PT (Partido dos Trabalhadores). 2.3
O Processo de Referenciação e Anáfora Indireta Associativa Vejamos o entendimento de referenciação através de RASTIER (1994) ( IN
CAVALCANTE, M., RODRIGUES, B.,CIULIA, A., (Org) – Clássicos da Linguística – Referenciação. Contexto. 2003. P,20.), ela não diz respeito a “uma relação de representação das coisas ou dos estados das coisas, mas a uma relação entre o texto e a parte não-linguística da prática em que ele é produzido e interpretado” (1994:19) ou seja, é possível entender que a referenciação vai além do fato exposto, está intrínseca na subjetividade da intensão do
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individuo. É a parte em que se quer transmitir superando a representação visível da coisa, sendo assim um objetivo mais profundo, pois tende a remeter a visão de mundo daquele indivíduo e sua intencionalidade. É possível complementar esta visão com a ideia de que “a instabilidade se manifesta em todos os níveis da organização Linguística” (MONDADA; DUBOIS, 2003;P. 29). Visto que a referenciação está em movimento e atividade durante a criação do texto, sendo de capacidade flexível e dinâmica, ou seja, os objetos de discurso são construídos e reconstruídos a todo momento dentro do texto, esta flexibilidade é traçada através do uso de recursos linguísticos denominados anáforas, são elas que têm a responsabilidade de garantir a progressão referencial e a construção do discurso. Para Koch e Marcuschi (1988, p 169) é possível entender que o texto é ancorado em duas fontes de progressão, a sequencialidade e a topicidade. Para os autores a sequencialidade é definida como a progressão referencial, ou seja, no momento em que se utiliza a estratégia de um referente, é possível que o texto continue desempenhando sua continuidade, já a topicidade ou a progressão tópica tem a função de retomar o assunto principal do texto para que sua ideia central não seja perdida. É neste contexto que a o uso da estratégia textual referencial, ou seja, a anáfora se faz necessária, o seu uso auxilia na possiblidade de progressão do texto, por assim dizer, é possível que se faça menção a um trecho anterior, ou que uma ideia que esteja em segundo plano seja retomada, causando assim a referenciação. Este processo pode ser feito através do uso de anáforas diretas ou indiretas. A AI ocorre quando um referente é retomado dentro de um texto através de uma dependência interpretativa do texto. MARCUSCHI(2005, p. 53) define e caracteriza a AI como “expressões nominais definidas, indefinidas e pronomes interpretados referencialmente sem que lhes corresponda um antecedente (ou subsequente) explicito no texto”, ou seja, a progressão textual é feita por uma função subjetiva, é preciso que o leitor ative a função cognitiva da interpretação para que ele alcance o entendimento necessário que lhe foi proposto. Está função é mais complexa do se parece, pois na AI não ocorre uma retomada de referente, mas sim uma ativação de novos referentes que são ancorados no co-texto ou no contexto cognitivo, abrindo assim um leque de possibilidades para que ocorra a referenciação. Esta função não depende somente do emissor do discurso, é necessário que haja uma
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interação com o receptor da mensagem, pelo fato de introduzir ou remeter a um conteúdo explicito na mensagem, é indispensável que este possua um conhecimento de mundo, tão amplo quanto o emissor, para que o objetivo final do emissor seja alcançado, vejamos como SCHIFFRIN (IN MARCUSHI, 2005 P. 59), define Anáfora Indireta. “É difícil traçar uma linha divisória e estabelecer as relações entre o mundo criado por palavras (o texto) e o mundo representado pelas palavras (o contexto)”, para estabelecer melhor estas relações temos ouso das Anáforas Indiretas Associativas, sendo estas um subtipo da Anáforas Indiretas. A Anáfora Indireta Associativa, nada mais é do que objetos do discurso ancorados em uma expressão anterior no texto, mesmo que o termo referente não represente a mesma entidade do termo a qual se refira. Em uma relação de anáfora associativa, existe a complexidade de entender, identificar e estabelecer a âncora textual que sirva de referente para uma descrição apresentada. MARCUSCHI (2000) relata vários exemplos de AI Associativa, vejamos um deles a seguir: 1) Entrei no restaurante, e o garçom veio me atender. O termo garçom, refere-se sem dúvida a restaurante, vemos explicitamente uma ideia do que seja a AI Associativa, o termo grifado esta ancorado ao referente restaurante, por uma forma indireta, e associativa pelo fato de que se existe um restaurante, conseguimos subentender que exista um garçom. O exemplo citado nos demonstra com clareza o uso desta estratégia textual, porém existe mais complexidade neste assunto, vejamos outro exemplo a seguir: 2) Laura está ansiosa para o grande dia, o vestido de noiva está pronto. No exemplo acima temos apresentado uma das derivações presentes nas AIs associativas, que se estabelecem através dos FRAMES, que segundo Marcuschi (2000), são as ancoras textuais mais complexas de analises. “não é fácil estabelecer distinções claras e rígidas entre conhecimentos conceituais armazenados na memória e conhecimentos semânticos lexicalizados, pois essas fronteiras são tênues e não há um sistema que se dê naturalmente”. Os Frames são informações cognitivas que possuímos em nossa memoria. Essas informações dependem de eventos e conhecimentos específicos de cada pessoa. Por
este
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motivo identifica-las dentro do texto depende muito mais de uma ancoragem extra linguística, pois para que a identificação aconteça é necessário que tanto emissor e receptor compartilhem do mesmo conhecimento de mundo. No exemplo acima vestido de noiva refere-se ao grande dia, que por conhecimento de mundo, através do frame sabemos que tanto vestido de noiva, como grande dia estão ancorados extras linguisticamente no referente casamento, que está implícito no texto. Neste artigo não aprofundaremos nossos estudos aos subgrupos pertencentes as Ais associativas, precisamos somente entende-las para coloca-las em função nos tuítes aqui apresentados. É possível definir então que AI associativas carregam em si a complexidade de identificação. Para conseguirmos obter sucesso em identifica-las precisamos voltar nossos olhares para relações de sentido escondidas no texto, tais como: fatores linguísticos e extra linguísticos, como aspectos textuais, discursivos e cognitivos da linguagem. Para concluir as definições apresentadas por AI e AI associativa, podemos entender então que de fato a AI refere-se a um contexto presente no âmbito extratextual, ativado por novos referentes ou ancorados em memorias e conhecimentos individuais presentes no emissor e no receptor, tratando-se assim de uma configuração discursiva sem antecedente literal explicito. Outras fortes características presente nas AIs são: a não- vinculação da anáfora com a co-referencialidade, segundo, a não vinculação com a noção de retomada e, terceiro, a introdução de referente novo. (MARCUSCHI, 2005, P. 61). E também o uso de Anáforas Indiretas Associativas, que são ativadas através do conhecimento de cada um, seus conceitos de mundo, linguísticos e capacidade de interação e interpretação textual. 2.3
GÊNERO TWITTER Criado em março de 2006, o Twitter é um serviço de comunicação virtual idealizado
por uma empresa de podcasting 2 de São Francisco, nos Estados Unidos (O’REILLY; MILSTEIN, 2009:13). O Twitter é mais um dos novos gêneros textuais que vêm surgindo com a era digital, tendo suas características semelhantes ao blog, o microblog Twitter, apresenta algumas facetas especificas em suas funções. Segundo o site G1, em notícia 2
Podcasting é uma forma de publicação de arquivos de mídia digital ( áudio, vídeo, foto, PPS, etc…) pela Internet, através de um feed RSS, que permite aos utilizadores acompanhar a sua atualização. Com isso, é possível o acompanhamento e/ou download automático do conteúdo de um podcast.
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publicada em 22 de fevereiro deste ano, o site conta com aproximadamente 320 milhões de usuários em todo o mundo, o gênero ganhou força nacional em 2009, quando artistas de sucesso fizeram graça desta ferramenta de comunicação, atualmente é usado para diversas funções, os jornais, apresentam noticias e entrevistas, os famosos relatam seu cotidiano, acreditando que dessa forma os seus seguidores se sintam mais próximos de seus ídolos, criando assim uma proximidade virtual, pessoas anônimas, fazem relatos diversos, interagem com seus ídolos, criam piadas, e etc. Segundo LÉ. J. (“Referir e argumentar”. 2010) o twitter apresenta 5 características relevantes:
(1) limite de 140 caracteres; (2) uso de RT´s
(retweets); (3) mensagem aos interlocutores por meio de link no formato @___; (4) criação de etiquetas (hashtags) por meio de link no formato #___; (5) atualização da página home (tweets). Através dessas funções é possível uma gama imensa de informações a serem inseridas no universo digital. Para nosso estudo temos o objetivo de entender de que forma esse gênero possibilita que as analises textuais ocorram, e de que forma um locutor faz uso dessas funções para argumentar com seus seguidores e persuadi-los através do uso das anáforas indiretas.
3.
DEPUTADO JAIR BOLSONARO Nascido na cidade de Campinas, interior de São Paulo, em 21 de março de 1955,
Bolsonaro é um militar da reserva e político brasileiro. Cumpre atualmente o seu sexto mandato
na
Câmara
dos
Deputados do
Brasil,
eleito
pelo Partido
Progressista (PP).Nas eleições gerais de 2014, foi o deputado mais votado do estado do Rio de Janeiro com apoio de 6% do eleitorado fluminense (464 mil votos).Atualmente, o parlamentar é filiado ao Partido Social Cristão (PSC) e pré-candidato à presidência. Bolsonaro também foi titular da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional e da Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado, além de ter sido suplente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados Além dele, três filhos seus também são políticos: Carlos Bolsonaro (vereador do Rio de Janeiro pelo PP), Flávio Bolsonaro (deputado estadual do RJ pelo PP) e Eduardo Bolsonaro (deputado federal de São Paulo pelo PSC).
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Bolsonaro
tornou-se
conhecido
nacionalmente
por
suas
posições
nacionalistas e conservadoras, por suas críticas ao comunismo e à esquerda 3 e por declarações controversas. Também é conhecido por defender a ditadura militar no Brasil e por considerar a tortura uma prática legítima. Suas posições políticas geralmente são classificadas como alinhadas aos discursos da extrema-direita política. Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Jair_Bolsonaro
4.
ANÁLISE Veremos a partir de agora, através das publicações feitas pelo Deputado Jair
Bolsonaro como a utilização das AIs e as AI s associativas são colocadas no texto para que o deputado consiga convencer seu eleitorado e os demais e levando-os assim a partilharem de suas ideias políticas. Na publicação a seguir veremos como o Deputado rebate a uma ameaça de morte feita por um seguidor e eleitor contrario ao seu partido político.
Dessa forma temos empregados no texto o uso de AI, pois segundo MARCUSCHI (2000) as AIs agregam ao texto um novo referente ancorado na subjetividade, como é o caso 3
Denomina-se como partido de oposição. À esquerda, que favorece o controle estatal da economia e a interferência ativa do governo em todos os setores da vida social, colocando o ideal igualitário acima de outras considerações de ordem moral, cultural, patriótica ou religiosa.
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do uso de “Essa esquerda” que ancora o referente e submete -se que Jair está tratando de pessoas que são aliadas ao partido da oposição. Como esta informação não está anexa no texto, temos então a ativação da memoria e da organização de conhecimento de mundo esperada aos leitores de Bolsonaro. Na continuação da publicação, o deputado utiliza a palavra “amor” para rebater a utilização do verbo matar. Essa indicação nos faz referencia ao Frame sentimento, então dessa forma podemos entender que temos a utilização de uma AI associativa, pois seu antecedente anafórico literal não está explicito. Através do tuíte mencionado, vemos que mesmo com o uso tão limitado de caractéres é possível ativar os contextos cognitivos e perceber que a ancoragem do termo apresentado pertence a um referente que não está presente diretamente no texto.
No Tuíte acima é possível observar que Bolsonaro utiliza de AIs para fazer referência a algo que aconteceu ao jornalista Reinaldo Azevedo. O Jornalista se meteu em uma confusão com Olavo de carvalho (Jornalista) ao defender as acusações feitas por Kim Kataguiri (líder do Movimento Brasil Livre) a Bolsonaro. Em algumas situações somente o uso de Anáforas Indiretas acaba não sendo o suficiente para que a continuidade do texto seja dada, é preciso que o interlocutor tenha um conhecimento de mundo do assunto tratado, ou seja, o referente anafórico esta implícito no texto, é o que vimos na situação acima, nesses casos então temos presente no texto as AI associativas, que são estratégias ancoradas em escolhas cognitivas que vão além do texto. Ao usar a substituição gramatical “Eles” Bolsonaro faz referência a Kim e Olavo, mesmo que os envolvidos não sejam citados diretamente, é notório aos que sabem do assunto, que a referência é para eles. Já nas expressões “Mata -Burro e Alfafa”, Bolsonaro, crítica e
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ofende a todos os envolvidos de forma clara e objetiva, além disso, a palav ra “Alfafa” também possui a função de retomada textual, está é uma das funções das anáforas, além do entrelaçamento do texto.
Já nesta publicação o Deputado, usa a AI associativa “Quadrilha” para remetê-la e retomar “Um Governo”, assim dando a entender q ue ele afirma que o governo atual PT e presidente Dilma, são ladrões. Outra importante característica que encontramos nos tuítes de Bolsonaro é a intenção de sempre persuadir o seu leitor, o deputado argumenta, tentando convencer seu eleitor assim como aqueles que são adeptos da oposição. A argumentação é usada a todo o momento na linguística textual sempre para causar mudança em seu interlocutor, levando-o a pensar e agir conforme nossas intenções. É possível observar também na declaração feita abaixo, já que o deputado faz uso de palavras que colocam em dúvida a integridade da imprensa e Datafolha.
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As declarações feitas por Bolsonaro são carregadas de intenções, é nesta hora que conseguimos entender na pratica como a argumentação está presente em nossas relações cotidianas, é possível observar os três itens essenciais que Koch, 2015. (“Escrever e Argumentar” -Contexto. P. 24), relata para que seja necessária uma argumentação bem sucedida. Ao questionar se a opinião do Datafolha é publica ou “publicada” Bolsonaro cria a proposta que provoca em alguém um questionamento, quanto a sua legitimidade, este é o primeiro item que a autora apresenta. O segundo item apresentado pela autora: “ Um sujeito que desenvolva um raciocínio para demonstrar a aceitabilidade ou legitimidade quanto a essa proposta” é criado na publicação do deputado, pois o questionamento que ele apresenta, leva o seu leitor a raciocinar, questionar, duvidar, aceitar ou não a informação transmitida. Em ultimo lugar, é possível perceber que a argumentação usada por Bolsonaro, é direcionada a seu eleitorado, mas principalmente aos que se dizem da oposição, pois através da arte do argumentar, o deputado tem a intenção de agregar a si novos eleitores, aumentando assim a sua popularidade. Esta estratégia é apresentada por Koch no item três, que segundo a autora: “Um outro sujeito que se constitua alvo da argumentação. Trata-se da pessoa a quem se dirige o sujeito que argumenta, na esperança de conduzi-la a compartilhar da mesma convicção, sabendo que ela pode aceitar (ficar a favor) ou refutar (ficar contra) a argumentação.” É possível perceber que em um pequeno Tuíte, vemos a teoria de nossos linguistas sendo apresentadas em nosso cotidiano. Dessa maneira é possível observar que a argumentação é natural de cada falante estando presente, e sendo usada a cada instante por nós. Na publicação a seguir, temos o deputado rebatendo as críticas que são feitas a ele, e a comparação feita a Hitler, (Nazista e militar que comandou a segunda guerra mundial, responsável pelo genocídio de aproximadamente 6 milhões de Judeus). Por ser favorável à ditadura e o regime militar, Bolsonaro recebe as criticas além de ser chamado de burro. Desta forma, ele utiliza das escolhas lexicais e Ais “ruminando” para retomar as ofensas de burro e o uso da AI associativa “alemães” para a retomada a Hitler, que também está incluso na referencia que Bolsonaro faz ao partido que o Nazista era adepto.
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Para terminar nossa analise temos a publicação em que Bolsonaro utiliza da linguagem visual, e também da escrita ao apresentar uma foto de três pessoas negras, em três posições diferentes: Um policial, um advogado e um réu. Estas ferramentas também são muito utilizadas no âmbito virtual, pois como a escrita é limitada, o recurso da imagem tem a tarefa de ampliar a publicação e o entendimento desejado. Assim, entendemos que o deputado faz uso da heterogeneidade como ferramenta de linguagem. Ao se tratar das escolhas lexicais, o deputado faz uso do anafórico associativo “Cor da pele” para se referir a os “Negros”, rebatendo os críticos que relatam que o deputado é racista. Nesta publicação é possível subentender que o deputado tenta demonstrar ao seu publico que a opinião que possuem sobre ele (ser racista) está errada. A imagem e as palavras demonstram que para Bolsonaro, o que define o caráter de uma pessoa são as escolhas que ela faz, e não a pigmentação de sua pele.
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5. CONCLUSÃO Em suma, podemos perceber que a estratégia textual AIs, e o seu subtipo AIs associativas, são essenciais para que se consiga retomar e referenciar o texto, através de referentes explícitos ou não possibilitando ainda que o sentido textual seja preservado. Essa ferramenta é muito utilizada no Twitter , pois possibilita a redução de palavras, já que o limite não pode ser excedido. E através das anáforas que a argumentação e a referenciação ocorrem, então quando seu uso é feito de maneira correta é grande a chance que obter sucesso. O deputado Jair Bolsonaro, utiliza com grande proeza esta ferramenta, em todas as publicações mostradas neste artigo é possível perceber quão carregadas são suas palavras, e a intenção de persuasão sobre seus leitores se faz em cada postagem, para que este mude sua posição partidária ou até mesmo sua opinião em relação à imagem do político, pois com a atual situação politica do país aquele que consegue convencer seu eleitorado, tem mais chances de obter sucesso nas eleições, e é desta forma, utilizando meios de comunicação como o Twitter, que Bolsonaro emprega as AIs com um objetivo único de angariar votos e agregar novos eleitores, ampliando assim suas chances. A intenção deste artigo é observar de que forma a linguística é aplicada em sociedade, e por este motivo, utilizamos de um dos assuntos mais atuais em questão, que é a política. Podemos concluir que a língua é parte fundamental da sociedade e que as ferramentas presentes na linguística textual são responsáveis em tornar um texto de apesar 140 caracteres
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em um discurso rico de questões a serem analisados, como o Corpus apresentado acima, tornando- nos capazes de aprofundar nosso conhecimento e praticar os ensinamentos que temos obtido com os grandes nomes da linguística textual.
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BIBLIOGRAFIA
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