METODOLOGIA
DO TRABALHO CIENTÍFICO
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SOMESB Sociedade Mantenedora de Educação Superior da Bahia S/C Ltda. Metodologia do
Trabalho Científico
Presidente ♦ Gervásio Meneses de Oliveira Vice-Presidente ♦ William Oliveira Superintendente Administrativo e Financeiro ♦ Samuel Soares Superintendente de Ensino, Pesquisa e Extensão ♦ Germano Tabacof Superintendente de Desenvolvimento e>> Planejamento Acadêmico ♦ Pedro Daltro Gusmão da Silva
FTC - EaD Faculdade de Tecnologia e Ciências - Ensino a Distância ♦ ♦ ♦ ♦ ♦ ♦ ♦ Coord. de Softwares e Sistemas ♦ Coord. de Telecomunicações e Hardware ♦ Coord. de Produção de Material Didático ♦ Diretor Geral Diretor Acadêmico Diretor de Tecnologia Diretor Administrativo e Financeiro Gerente Acadêmico Gerente de Ensino Gerente de Suporte Tecnológico
EQUIPE
Waldeck Ornelas Roberto Frederico Merhy Reinaldo de Oliveira Borba André Portnoi Ronaldo Costa Jane Freire Jean Carlo Nerone Romulo Augusto Merhy Osmane Chaves João Jacomel
DE ELABORAÇÃO/PRODUÇÃO DE MATERIAL DIDÁTICO:
♦PRODUÇÃO
ACADÊMICA♦
Gerente de Ensino ♦ Jane Freire Autora ♦ Ana Paula Amorim ♦PRODUÇÃO TÉCNICA ♦ Designer ♦ João Jacomel Revisão Final ♦ Idalina Neta Estagiários ♦ Israel Dantas e Lucas do Vale. copyright © FTC EaD Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19/02/98. É proibida a reprodução total ou parcial, por quaisquer meios, sem autorização prévia, por escrito, da FTC EaD - Faculdade de Tecnologia e Ciências - Ensino a Distância. www.ftc.br/ead
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ÍNDICE O Conhecimento Humano e a Ciência O HOMEM, A SOCIEDADE E O CONHECIMENTO
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Natureza Humana, Conhecimento e Saber Introdução ao Conhecimento O Ato de Conhecer Modos de Conhecer A Teoria do Conhecimento Tipos de Conhecimento Concepções de Ciência A Ciência Concepções de Ciência Natureza/Dimensão da Ciência Componentes da Ciência Classificação e Divisão da Ciência Características Objetivos e Funções da Ciência Metodologia Científica Aplicada às Ciências da Educação Conceitos e Objetivos Metodologia Científica e Universidade ○
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Método e Estratégia de Estudo e Aprendizagem Fundamentos do Método do Estudo Fatores Condicionantes do Estudo A Aprendizagem Planejamento e Organização Regras Gerais de Estudo Leitura e Análise de Textos Elementos da Leitura Modalidades de Leitura Etapas da Leitura Finalidades da Leitura Motivação para Leitura Condições para uma Leitura Proveitosa Técnicas de Leitura Maus Hábitos de Leitura Etapas da Análise e Interpretação de Textos ○
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Recomendações Técnicas para sistematização do conhecimento I Técnica para Sublinhar Técnica para Esquematizar Técnicas para sistematização do conhecimento II Técnica para Fichar Técnica para Resumir ○
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Conceito, finalidade e requisitos da Pesquisa Científica Linguagem Científica Técnicas de Pesquisa Níveis de Pesquisa Tipos de Pesquisa Pesquisa Quantitativa Pesquisa Qualitativa Fases da Pesquisa Científica Projeto de Pesquisa Científica Pesquisa-Piloto ou Pré-Teste Estrutura do Projeto de Pesquisa Relatório de Pesquisa e Monografia Aspectos Relevantes de um Relatório de Pesquisa Estrutura do Relatório de Pesquisa Monografia Características da Monografia Estrutura da Monografia Tipos de Monografia Formatação da Monografia Elementos da Monografia Atividade Orientada Referências Bibliográficas ○
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A PESQUISA CIENTÍFICA E SUAS FASES
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ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO DE TRABALHOS ACADÊMICOS
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PRODUÇÃO ACADÊMICA E CIENTÍFICA DO CONHECIMENTO
Redação Científica (Normas da ABNT) Resenha, Artigo Científico e Memorial Seminário, Painel e Mesa Redonda Estudo de Caso, Palestra e Conferência
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Em educação, nenhuma oportunidade deve ser perdida, tanto para aprender, quanto para ensinar, como para sentir. Arca, 2001.
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Metodologia do
Trabalho Científico
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Apresentação da disciplina Olá Caro Aluno!! Frente às mudanças que vêm ocorrendo no mundo, evidenciamos a necessidade do homem estar preparado para as demandas sociais, o mercado de trabalho, o conhecimento pluricultural, as novas tecnologias da informação etc. Por isso, investir no estudo e na pesquisa, enfim, na construção do conhecimento, no desenvolvimento do espírito científico e do pensamento crítico e reflexivo é o mais seguro método para alcançarmos o progresso da ciência e da humanidade. Visto que o acréscimo do conhecimento humano vem acompanhado pelo aumento da sabedoria, concebida como a prudência e a retidão que encaminham o sentido vital de finalidade do homem, que não se expõe na construção do presente, mas que se origina em um diálogo de passado/presente e futuridade, a disciplina Metodologia do Trabalho Científico se propõe a despertar nos estudantes a importância do seu potencial de elaborador e produtor de conhecimentos, dando-lhes condições para que, efetivamente, ampliem a capacidade de desenvolver, a partir dos conteúdos e atividades trabalhados pelas diversas disciplinas, o poder de questionar e repensar o que é e como interagir com o mundo que os circunda. Os conhecimentos trabalhados em nossa disciplina darão condições de nos organizarmos no ato de estudar e ler para que esses momentos sejam proveitosos e atinjam seus objetivos, isto é, o ato de estudar e ler é o momento de apreensão dos conhecimentos pertinentes, necessários e relevantes para nosso crescimento pessoal e profissional. Lembremo-nos: o profissional que queremos ser, começa a se desenhar desde o primeiro dia em que se iniciam nossas atividades. Logo, é de vital importância que nos preocupemos com nossas posturas diante do curso, dos textos, das atividades, dos conteúdos que serão trabalhados em todas as disciplinas e ao longo de todo o processo. O que significa dizer que cada reação nossa diante do proposto pelos conhecimentos aqui preparados para fazer elevar o nosso nível cultural, cristalizará o profissional que seremos.
Seja bem vindo!!! Desejo discernimento, iniciativa e realizações. Profª Ana Paula Amorim
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O CONHECIMENTO HUMANO E A CIÊNCIA O HOMEM, A SOCIEDADE E O CONHECIMENTO Nesse conteúdo estaremos preocupados em descobrir o que é CONHECIMENTO, como ele acontece e quais os tipos de conhecimento, com suas características. Esse conteúdo é muito importante pelo fato de o estudante do Ensino Superior estar lidando com ele em todos os conteúdos propostos pelas diversas disciplinas ao longo do semestre e do curso. Por outro lado, o estudante do ensino superior se propõe a elevar o seu nível cultural, a sua forma de ver o mundo, isto é, sair de uma visão ingênua (senso comum) para uma visão mais filosófico-científica. Isso só se consegue quando comprometemonos a CONHECER, buscar o conhecimento e organizá-lo sistematicamente. Então vamos aos conteúdos!! Mãos à obra!!
Natureza Humana, Conhecimento e Saber Você já se indagou sobre todo este conhecimento e informações que nós nos deparamos em nosso dia-a-dia? Como você acha que este conhecimento é produzido? Para você existem tipos diferenciados de conhecimento? Quem produz estes conhecimentos? Você produz conhecimento? Como?
Qual o papel e importância do ato de pesquisar e de estudar neste processo de aquisição e produção de conhecimento? Pois é... Estas e muitas outras indagações estaremos discutindo ao longo dos nossos estudos. Além disso, aqui será um espaço para descobrirmos métodos para estudarmos com mais eficiência, produzirmos nossos textos com mais qualidade, enfim... Conhecermos, produzirmos e divulgarmos nossos conhecimentos e os de outros, entendendo que é através deles que podemos compreender melhor o mundo. O Ato de Conhecer No dia-a-dia, o ato de conhecer se manifesta tão natural que nós nem nos damos conta da sua complexidade. Desde cedo, os mestres nos falam da necessidade de aprender a conhecer o mundo e posteriormente da necessidade de autoconhecimento.
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Metodologia do
Trabalho Científico
Assim, entramos na engrenagem do conhecimento do mundo, considerado real, sem colocar em pauta o que significa conhecer. Todavia, à medida que nos defrontamos, na relação com o mundo, com os vários campos e formas de conhecimento, entramos num emaranhado de conceitos. Então percebemos que quase não tematizamos questões básicas como: Quem conhece?
* Como conhece? * Para que conhece? conhecimento verdadeiro é o conhecimento * Oobjetivo? * E o conhecimento subjetivo é falso? * Hoje recebemos passivamente, através das instituições escolares, um modelo de
conhecimento imposto pela ideologia do sistema tecnocrata. É o modelo, muitas vezes deturpado, do conhecimento científico. Esse modelo tem a sua razão de ser, exprime um modo de conhecer e dominar racionalmente a realidade, mas não deveria ser a única abordagem. E mais ainda, esse modelo se acha comprometido muitas vezes com os interesses do sistema. O estudo desses problemas nos remete à constatação de controvertidas respostas a exigir uma análise esclarecedora do sentido do conhecimento. Já que existem múltiplas interpretações a respeito do real, diversos são os modos de se enfocar o conhecimento. Só o exame nos possibilita compreender o que está sendo passado de obscuro e de ideológico no meio cultural, e recebido por nós, na maioria das vezes sem nenhuma crítica.
Então, finalmente, o que é conhecimento? Partindo da etimologia da palavra, o termo conhecimento vem do latim cognoscere, que significa conhecer pelos sentidos. Desta forma, conhecimento é o atributo geral que tem os seres vivos de reagir ativamente ao mundo circundante, na medida de sua organização biológica e no sentido de sua sobrevivência. É o pensamento que resulta da relação que se estabelece entre o sujeito que conhece e o objeto a ser conhecido. Modos de Conhecer O conhecimento também pode ser definido como a manifestação da consciênciade-conhecer. Em outras palavras, ele existe quando o indivíduo consegue explicar um “dado” vivido. Portanto, o conhecimento e/ou o ato de conhecer existe como forma de solução de problemas próprios e comuns à vida. Por ser um processo dinâmico e inacabado, somente é possível considerá-lo dentro de uma visão dialética. No dia-a-dia, o ato de conhecer se manifesta tão natural que nem nos damos conta da sua complexidade. Visto que existem múltiplas interpretações a respeito do real, diversos são os modos de enfocar o conhecimento. Só o exame nos possibilita compreender o que está sendo passado de obscuro e de ideológico no meio cultural, e recebido por nós, na maioria das vezes sem nenhuma crítica. 10
Vejamos no quadro abaixo uma síntese de como ocorre o conhecimento no homem.
CONHECIMENTO E SABER
capacidade e necessidade do homem (sobrevivência)
proporciona conhecimentos
sentido, finalidade e razão das coisas e do mundo
Então ... Então... O conhecimento é o atributo geral que tem os seres vivos de reagir ativamente ao mundo circundante, na medida de sua organização biológica e no sentido de sua sobrevivência. O homem, utilizando de suas capacidades, procura conhecer o mundo que o rodeia, o conhecimento, a informação, enfim, a prática de vida resulta em conhecimentos. Á primeira vista pode até parecer complicado, mas é só impressão... E entender o conhecimento é entender a nossa realidade. Você seria capaz de responder as perguntas abaixo? se origina de onde? * ODoconhecimento (o homem)? * Do sujeito objeto (o mundo)? * Da relação entre sujeito e objeto? * Para compreendermos de fato esse assunto vamos a algumas teorias.
A Teoria do Conhecimento A teoria do conhecimento é uma explicação ou interpretação filosófica do conhecimento humano. Mas, antes de filosofar sobre um objeto, é necessário examinálo cuidadosa e criteriosamente. No conhecimento encontram-se frente a frente a consciência Entendendo e o objeto, o sujeito e o objeto. O conhecimento apresenta-se o fenômeno do como uma relação entre estes dois elementos, que nela permeiam conhecimento eternamente separados um do outro. O dualismo sujeito e objeto pertence à essência do conhecimento. 11
A relação entre os dois elementos é ao mesmo tempo uma correlação. O sujeito só é sujeito para um objeto e o objeto para um sujeito. Ambos só são o que são enquanto o são para o outro. Mas está correlação não é reversível. Metodologia do Ser sujeito é algo completamente distinto de ser objeto. A função do sujeito apreender o objeto, a do objeto em ser apreendido pelo sujeito. Trabalho consisteOsem homens são os únicos seres que possuem razão, capacidade de Científico relacionar, e ir além da realidade imediata. O conhecimento é uma forma de estar no mundo, e o processo do conhecimento mostra aos homens que eles jamais são alguma coisa pronta na medida em que estão sempre nascendo de novo, quando têm a coragem de se mostrarem abertos diante da realidade. A capacidade dos homens pode:
FAZER CONHECIMENTO
USAR CONHECIMENTO
POSICIONAR-SE DIANTE DO CONHECIMENTO
ESTAR
ESTAR
ESTAR
CRIATIVAMENTE
SIMPLEMENTE
CRITICAMENTE
NO MUNDO
NO MUNDO
NO MUNDO
estar aberto para reavaliar a própria capacidade no trabalho do conhecer
usa alguma coisa que já está pronta, acabada, definitiva, conforme determinado conhecimento considerado como suficiente
implica colocar a relação do fazer e do usar de maneira dialética
Tipos de Conhecimento Face à necessidade de se explicitar a complexidade do real onde se dá o conhecimento, se impõe um estudo. Ele, o conhecimento, pode ser categorizado em quatro: popular ou senso comum; científico ou ciência; filosófico ou filosofia; e religioso ou teologia. Apesar desta separação “metodológica” e categórica no processo de apreensão da realidade do objeto, o sujeito pode penetrar nas diversas categorias. Por sua vez, estas formas de conhecimento podem coexistir na mesma pessoa: um cientista, voltado ao estudo da física, pode ser praticante de determinada religião, estar filiado a um sistema filosófico e, em muitos aspectos de sua vida cotidiana, agir segundo conhecimentos provenientes do senso comum.
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Conhecimento Popular Denominado de popular ou senso comum, resulta do modo espontâneo e corrente de conhecer. É o conhecimento do dia-a-dia e se obtém pela experiência cotidiana. Suas características são: superficial, isto é, conforma-se com a aparência; sensitivo e valorativo, ou seja, referente a vivências, estados de ânimo e emoções da vida diária; subjetivo, pois é o próprio sujeito que organiza suas experiências e conhecimentos; assistemático, pois esta “organização” das experiências não visa a uma sistematização das idéias; acrítico, pois a pretensão de que esses conhecimentos o sejam não se manifesta sempre de uma forma crítica; assistemático, por basear-se na “organização” particular das experiências próprias do sujeito cognoscente, e não em uma sistematização das idéias; verificável, visto que está limitado ao âmbito da vida diária e diz respeito àquilo que se pode perceber no dia-a-dia; e, finalmente, falível e inexato, pois se conforma com a aparência e com o que se ouviu dizer a respeito do objeto.
Conhecimento Científico É o conjunto organizado de conhecimentos sobre um determinado objeto, em especial obtidos mediante a observação, a experiência dos fatos e um método próprio. Caracterizando-se pela capacidade de analisar, de explicar, de desdobrar, de justificar, de induzir ou aplicar leis, de predizer com segurança eventos futuros. Ele explica os fenômenos e não só os apreende. O conhecimento científico é crítico, rigoroso, objetivo, nasce da dúvida e se consolida na certeza das leis demonstradas. É real (factual) porque lida com ocorrência ou fatos; constitui um conhecimento contingente, pois suas proposições ou hipóteses têm sua veracidade ou falsidade conhecida através da experiência; é sistemático, já que se trata de um saber ordenado logicamente; é verificável, visto que as afirmações (hipóteses) que não podem ser comprovadas não pertencem ao âmbito da ciência; é falível, em virtude de não ser definitivo, absoluto ou final e, por este motivo, é aproximadamente exato: novas proposições e o desenvolvimento de técnicas podem reformular o acervo de teoria existente.
Conhecimento Filosófico Em sentido etimológico, Filosofia significa devotamento à sabedoria / amigo da sabedoria, isto é, interesse em acertar nos julgamentos sobre a verdade e a falsidade, sobre o bem e sobre o mal. A Filosofia usa princípios racionais, procede de acordo com as leis formais do pensamento, tem método próprio, predominantemente dedutivo, nas suas colocações críticas. Portanto, ela indaga, traça rumos, assume posições, estrutura correntes que inspiram ou dominam mentalidades em determinados períodos. O conhecimento filosófico é valorativo, pois seu ponto de partida consiste em hipóteses; é não verificável, já que os enunciados das hipóteses filosóficas não podem ser confirmados nem refutados; é racional, em virtude de consistir num conjunto de enunciados logicamente correlacionados; é sistemático, pois suas hipóteses e enunciados visam a uma representação coerente da realidade estudada, numa tentativa de apreendê-la em sua totalidade; é infalível e exato, já que seus postulados, assim
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como suas hipóteses, não são submetidos ao decisivo teste da observação (experimentação). Portanto o conhecimento filosófico é caracterizado pelo esforço da razão pura para questionar os problemas humanos e poder discernir entre o certo e o errado, unicamente recorrendo às luzes da própria razão humana.
Conhecimento Religioso O conhecimento religioso supõe e exige a autoridade divina; nela se fundamenta e só a ela atende. Apóia-se em doutrinas que contêm proposições sagradas (valorativas), por terem sido reveladas pelo sobrenatural (inspiracional) e, por esse motivo, tais verdades são consideradas infalíveis, e indiscutíveis (exatas); é um conhecimento sistemático do mundo (origem, significado, finalidade e destino) como obra de um criador divino; suas evidências não são verificáveis: está sempre implícita uma atitude de fé perante um conhecimento revelado. Assim, o conhecimento religioso parte do princípio de que as “verdades” tratadas são infalíveis e indiscutíveis, por consistirem em “revelações” da divindade. Para compreender efetivamente os tipos de conhecimento, relacionando-os, analise atentamente o quadro abaixo.
CONHECIMENTO CONHECIMENTO CONHECIMENTO CONHECIMENTO POPULAR FILOSÓFICO RELIGIOSO CIENTÍFICO Valorativo Reflexivo Assistemático Verificável Falível Inexato
Valorativo Racional Sistemático Não Verificável Infalível Exato
Valorativo Inspiracional Sistemático Não verificável Infalível Exato
Real (factual) Contingente Assistemático Verificável Falível Aproximadamente Exato
Fonte: SANTOS, Izequias Estevam dos. Textos selecionados de métodos e técnicas de pesquisa científica. 3. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2002.
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Agora, busque ativar sua memória e tente relacionar os diversos tipos de conhecimento destacando as principais características de cada um deles. Lembre-se, é para buscar na memória... Não vale olhar no texto, nem no quadro comparativo. Deixe estas informações apenas para verificar se suas observações estavam corretas, ok?!! Confio em você!!!
Concepções de Ciência O homem sempre empreendeu esforços em busca da verdade, da compreensão do real, da explicação de sua natureza interna e da natureza externa que o cerca, sempre buscando dar conta das questões sobre seu surgimento, seu papel no planeta, enfim a razão da sua existência, a melhor maneira de superar os desafios. Nas diferentes dimensões do conhecimento humano, o homem apresenta respostas e avança na compreensão do mundo. Visto que a ciência é fruto da tendência humana para procurar respostas e justificações positivas e convincentes, nesse conteúdo iremos analisar a natureza da ciência, conceituando seu aspecto lógico como método de raciocínio e de inferência acerca dos fenômenos já conhecidos ou a serem investigados. A ciência aumentou sobremaneira a capacidade de instrumentalização do homem. Desenvolvendo tecnologias avançadas, liberou a mão de obra para atuar na área de serviços e pesquisas científicas. À medida que a ciência avança, o indivíduo se torna cada vez mais capaz de dominar as circunstâncias à sua volta.
Ciência: do latim scientia, isto é, conhecimento, arte, habilidade. A ciência pode ser entendida como uma sistematização de conhecimentos, um conjunto de proposições logicamente correlacionadas sobre o comportamento de certos fenômenos que se deseja estudar.
Para Ander-Egg (1978) a ciência é um conjunto de conhecimentos racionais, certos ou prováveis, obtidos metodicamente sistematizados e verificáveis, que fazem referência a objetos de uma mesma natureza. Para Freire-Maia (1991) a ciência é um conjunto de descrições, interpretações, teorias, leis, modelos, etc., visando ao conhecimento de uma parcela da realidade, em contínua ampliação e renovação, que resulta da aplicação deliberada de uma metodologia especial (metodologia científica). Desses conceitos emana a característica de apresentar a ciência como um pensamento racional, objetivo, lógico e confiável. Concepções de Ciência Não existe uma única concepção de ciência. Podemos dividi-la em períodos históricos, cada um com modelos e paradigmas teóricos diferentes a respeito da concepção de mundo, de ciência e de método, destacando-se três grande concepções: a ciência grega, que abrange o período que vai do século VIII a. C. até o final do século XVI; a ciência moderna, do século XVII até o início do século XX; e a ciência contemporânea, que surge no início deste século até nossos dias. Com os gregos, a ciência é tida e conhecida como filosofia da natureza. Tinha como única preocupação a busca do saber, a compreensão da natureza das coisas e do homem. 15
A concepção de ciência moderna opõe-se à ciência grega e ao dogmatismo religioso. Propõe como caminho do conhecimento, o caminho da ciência, através do experimentar, do medir e comprovar. Surge o Metodologia do cientificismo, isto é, a crença de que o único conhecimento válido era o científico tudo poderia ser conhecido pela ciência. Trabalho e de que A visão contemporânea de ciência centra-se na incerteza e na ruptura Científico com o cientificismo (dogmatismo e a certeza da ciência). É o contexto de crise da ciência e da ruptura do paradigma cartesiano, fundamentado na experiência e adotando a indução e a confirmabilidade para constatar a certeza de seus enunciados.
E então, mãos à obra!!! Lembre-se que quanto mais informações adquirimos, mais condições temos de construir conhecimento. Portanto, busque investigar um pouco mais acerca dessas concepções de ciência: ciência grega, ciência moderna e ciência contemporânea. Aproveite para descobrir outras concepções de ciências que não estão citadas aqui.
Natureza/Dimensão da Ciência A palavra ciência pode ser entendida em duas acepções:
LATO
SENSU
STRICTO
SENSU
Conhecimento
Conhecimento demostrado pelas causas determinantes
Compreensiva (contextual)
Metodológica (operacional)
Em se tratando de analisar a natureza da ciência, podem ser explicitadas duas dimensões, na realidade inseparáveis, ou seja, a compreensiva (contextual ou de conteúdo) e a metodológica (operacional), abrangendo tanto aspectos lógicos quanto
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técnicos. Pode-se conceituar o aspecto lógico da ciência como o método de raciocínio e de inferência acerca dos fenômenos já conhecimentos ou a serem investigados; em outras palavras, pode-se considerar que o aspecto lógico constitui o método para a construção de proposições e enunciados, objetivando, dessa maneira, uma descrição, interpretação, explicação e verificação mais precisas. Podemos ainda considerar a natureza da ciência sob três aspectos. São eles:
NATUREZA DA CIÊNCIA
1. Conhecimento Científico
2. Investigação Científica
3. Tecnologia
Sistema de enunciados provisoriamente estabelecidos
Busca da verdade e produtora de idéias
Produtora de bens materias
Componentes da Ciência As ciências caracterizam-se por possuírem: a) objetividade ou finalidade - preocupação em distinguir a característica comum ou as leis gerais que regem determinados eventos; b) função - aperfeiçoamento, através do crescente acervo de conhecimentos, da relação do homem com o seu mundo; c) objeto - subdividido em material, aquilo que se pretende estudar, analisar, interpretar ou verificar, de modo geral; formal, o enfoque especial, em face das diversas ciências que possuem o mesmo objeto material.
Classificação e Divisão da Ciência Pode-se classificar as ciências em duas grandes categorias: formais e empíricas. As primeiras tratam de entidades ideais e de suas relações, sendo a Matemática e a Lógica as mais importantes. As segundas tratam de fatos e de processos, incluem-se nesta categoria ciências como a Física, a Química, a Biologia, a Psicologia. As ciências empíricas, por sua vez, podem ser classificadas em naturais e sociais. Dentre as ciências naturais estão: a Física, a Química, a Biologia, a Astronomia. Dentre as ciências sociais estão: a Sociologia, a Antropologia, a Ciência Política, a Economia, a Psicologia, a História.
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Características
Metodologia do
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De maneira geral, a ciência possui características e exigências comuns a serem consideradas. São elas: pelas causas (racionalismo) * Conhecimento Implica em conhecer pelas causas. Se o cientista observa a chuva, ele quer saber porque chove, dispensando a influência dos deuses. Utiliza-se o raciocínio analítico, lógico e despojado de impactos emocionais. Trata-se da racionalização do conhecimento. e generalidade de suas condições * Profundidade O conhecimento pelas causas é o modo mais íntimo e profundo de se atingir o real. A ciência não se contenta em registrar fatos, quer também verificar a sua regularidade, a sua coerência lógica, a sua previsão etc. A ciência generaliza porque atinge a constituição íntima e a causa comum a todos os fenômenos da mesma espécie. A validade universal dos enunciados científicos confere à ciência a prerrogativa de fazer prognósticos seguros.
formal * Objeto A finalidade da ciência é manifestar a evidência dos fatos e não das idéias. Procede por via experimental, indutiva, objetiva; suas demonstrações consistem na apresentação das causas físicas determinantes ou constitutivas das realidades experimentalmente controladas. Não se submete a argumentos de autoridade, mas tãosomente à evidência dos fatos. dos fatos * Controle Ao utilizar a observação, a experiência e os testes estatísticos tenta dar um caráter de exatidão aos fatos. Embora os enunciados científicos possam ser passíveis de revisões pela sua natureza “tentativa”, no seu estado atual de desenvolvimento, a ciência fixa degraus sólidos na subida para o integral conhecimento da realidade. (Ruiz, 1979, p. 124 a 126). investigação e a utilização de métodos * Exige Investigar implica em pesquisar, e a ciência ocorre à base de questionamentos, buscas e descobertas. Na ciência, a investigação é também a disposição do pesquisador em submeter-se a um rigor metodológico.
* ÉOscomunicável estudos e resultados das investigações científicas devem ser comunicados à sociedade. Para tal, o cientista deve fazer uso das definições, conceitos e termos, a fim de representar fielmente as idéias que se quer expressar.
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Objetivos e Funções da Ciência Os objetivos da ciência são determinados pela necessidade que o homem tem de compreender e controlar a natureza das coisas e do universo. Delineados os objetivos, cabe à ciência realizar suas três funções, a saber: descrever, explicar e prever os dados que permeiam a realidade em estudo. Segundo Ferrari (1982), a ciência ainda deve proporcionar “aumento e melhoria de conhecimento; descoberta de novos fatos e fenômenos; aproveitamento espiritual; aproveitamento material do conhecimento”.
Metodologia Científica Aplicada às Ciências da Educação Metodologia Científica não é um simples conteúdo a ser decorado pelos alunos. Trata-se de fornecer aos alunos um instrumental indispensável para que sejam capazes de atingir os objetivos da Academia, que são o estudo e a pesquisa em qualquer área do conhecimento. Trata-se, então, de se aprender fazendo, como sugere os conceitos mais modernos da Pedagogia. O que se deve fazer, na medida do possível, é seguir rigorosamente as regras definidas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT, para elaboração de trabalhos científicos. Caso alguma regra não esteja sendo cumprida, a responsabilidade é da desatenção do autor. Quando falamos de um curso superior, estamos nos referindo, indiretamente, a uma Academia de Ciências, já que qualquer Faculdade nada mais é do que o local próprio da busca incessante do saber científico. Neste sentido, a Metodologia Científica tem uma importância fundamental na formação do profissional. Se os alunos procuram a Academia para buscar saber, precisamos entender que Metodologia Científica nada mais é do que o “estudo dos caminhos do saber”, se entendermos que “método” quer dizer caminho, “logia” quer dizer estudo e “ciência” que dizer saber.
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Conceitos e Objetivos Método, etimologicamente, significa methodos ou metodus meta = meta, hodos = caminho Caminho para se chegar a determinado fim
O Método Científico é a ordem que se segue na investigação da verdade, no estudo feito por uma ciência, ou para alcançar um fim determinado. Não há ciência sem o emprego de métodos científicos. Confere segurança
IMPORTÂNCIA DO MÉTODO
fator de economia
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Metodologia do
Trabalho Científico
A Metodologia Científica é uma disciplina que está intimamente relacionada com o estudo crítico dos fatos. Ela estuda e avalia os métodos disponíveis e suas implicações, além de avaliar as técnicas de pesquisa. De modo geral, ela é uma reunião de procedimentos utilizados por uma técnica. É através da Metodologia Científica que ocorre o contato entre o conhecimento e a análise crítica, possibilitando a ampliação do saber, posicionando-o no plano sócio-histórico e político. Vale considerar que a metodologia Científica não aponta soluções, mas indica o caminho para
encontrá-las. Visto que essa disciplina permite o questionamento da realidade, ela tem função também de oferecer suporte à Pesquisa Científica. Desta forma, ela pode ser entendida como uma abstração, observando-se a relação intrínseca entre o conhecer e o intervir. A sua maior importância está na apresentação e exame de diretrizes para a eficácia do estudo e da aprendizagem. Ela está sincronicamente relacionada com o principal objetivo da universidade que é ensinar e divulgar o procedimento científico. Portanto, para adquirir o método de estudo mais adequado e conveniente, o estudante deve fazer uso dos fundamentos e estratégias da Metodologia Científica, a fim de sistematizar o conhecimento que o orientará no processo de investigação para tomadas de decisões oportunas na busca do saber e na formação do seu espírito crítico. Metodologia Científica e Universidade A história da ciência é a da conquista gradual, pela ciência experimental, de uma posição central na cultura e na visão do mundo do homem moderno. A ciência se desenvolveu basicamente fora das universidades tradicionais, e só no século XIX a ligação íntima entre ciência e universidade, que hoje muitos consideram natural, ocorre de forma efetiva. Os novos parâmetros curriculares serão propostos visando a orientar as ações educativas nas escolas e assegurar a todos “a aquisição do instrumental básico para acesso aos códigos do mundo contemporâneo (leitura, escrita, expressão oral, cálculo, etc.)”. Também deverão incentivar um conjunto de conhecimentos de habilidades e valores que contribuam para que os alunos desenvolvam-se para o exercício da cidadania, o desempenho das atividades cotidianas e a inserção no mercado de trabalho.
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Atividades
Complementares
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Considerando que o conhecimento científico é a forma mais adequada que o homem (o sujeito) tem para compreender o mundo (o objeto), e com base nos nossos estudos, elabore um texto comparativo, de 10 linhas, relacionando o conhecimento científico e os demais tipos de conhecimento. Mãos à obra!!!
2.
Nas diferentes dimensões do conhecimento humano, o homem apresenta respostas que visam avançar a compreensão do mundo. Com base nos nossos estudos, elabore um texto de 10 linhas, evidenciando as diversas concepções de ciência e a importância dessas concepções para a compreensão do mundo. Bom Trabalho!!!
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REGISTRO E SISTEMATIZAÇÃO DO CONHECIMENTO Metodologia do
Trabalho Científico
Método e Estratégia de Estudo e Aprendizagem
Estudar corresponde a trabalhar. Exige empenho responsável e dedicação generosa. Conseqüentemente, pressupõe sacrifícios e escolhas conscientes. Quem de fato quer estudar deve estabelecer uma hierarquia de valores em sua vida. Já vimos anteriormente que o vocábulo metodologia vem do grego “methodos” (meta + hodos = caminho) em latim “methodus”, e indica um caminho para chegar a um fim, ou a um determinado resultado. Nos estudos, a metodologia pretende oferecer ao estudante os instrumentos necessários e úteis para obter êxito no seu trabalho intelectual, tornando assim essa atividade menos pesada e mais eficiente. Agir metodologicamente é condição básica de qualquer pesquisa científica, por mais elementar que seja. Trata-se efetivamente de um conjunto de processos que o espírito humano deve empregar na investigação e demonstração da verdade. Não devemos considerar o método como o essencial, lembrar que ele é um instrumento intelectual, um meio de acesso, enquanto a inteligência, junto com a reflexão, descobre o que os fatos realmente são. Um estudo é eficaz quando se torna significativo, isto é, quando os novos conhecimentos e informações são assimilados pessoalmente e confrontados e integrados no complexo de conhecimentos já existentes, podendo ser reutilizados em outras situações. Assim, o estudo contribui para a formação integral da pessoa e de sua maturação. Fundamentos do Método do Estudo Entre duas pessoas que tenham o mesmo grau de escolaridade, processos cognitivos semelhantes e graus de motivação semelhantes, certamente aquele que fizer uso de um método de estudar compatível terá melhor rendimento. A eficiência do estudo depende de método, mas o método depende de quem o aplica, da maneira como o faz, adequando-o as suas necessidades e convicções. Podemos citar com pontos essenciais para eficiência nos estudos o que se segue: Finalidade: desenvolver hábitos de estudo eficientes que não se restrinjam apenas a determinado setor de atividade ou matéria específica;
Abrangência: servir de instrumento a todos os que tenham as mesmas necessidades e interesses, em qualquer fase de desenvolvimento e escolaridade, podendo aperfeiçoarse à medida que o indivíduo progride, através de seus próprios recursos. Fatores Condicionantes do Estudo O ofício de estudar requer algumas qualidades específicas que podemos sintetizar na seguinte trilogia:
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constância, paciência e perseverança. A constância vence as impressões de falso cansaço que freqüentemente se apoderam do espírito e do corpo. A persistência, no entanto, faz as articulações se desenferrujarem, os músculos se revigorarem, a respiração se dilatar, de repente, um novo ânimo empurra para frente, coisa semelhante pode acontecer com os estudos, em vez de ceder diante dos primeiros sintomas de fadiga, o estudante deve romper para frente, forçar a saída da energia interior. E a paciência para aguardar com amor o natural resultado dos esforços desenvolvidos. É regra de ouro não empreender nada além da capacidade pessoal. Cada um tem seu ritmo próprio e suas limitações. O presunçoso é aquele que se julga superior ao que realmente é e pode ser, contenta-se com aparências e facilmente é vítima de auto-ilusão. Conhecer os reais limites pessoais é fator de honestidade para consigo mesmo e para com os outros. Quando o trabalho é fruto do próprio esforço, então é que tem valor, mesmo não atingindo inteiramente a qualidade acadêmica exigida. Deve-se desistir da tentação de sempre querer comparar-se com os outros. O que eu mesmo sou capaz de produzir, dentro das minhas condições pessoais, é o que contribui efetivamente para minha realização humana. Portanto, as condições físicas e as do seu ambiente de estudo devem ser favoráveis, possibilitando o trabalho atento e tranqüilo. Criar melhores condições físicas de estudo é melhorar o seu rendimento. Veja agora alguns fatores e dicas que podem melhorar o seu desempenho nos estudos: Ambiente: Procura-se, se possível, um lugar sossegado. O quarto de estudo deve ser bem arejado e iluminado. Na escrivaninha do estudante devem ser afastados todos os objetos que podem distrair. O que não pode faltar é um bom dicionário, papel ou fichas, lápis, borracha e caneta. Motivação: Um fator absolutamente central no estudo é a motivação, ou seja, uma disposição interior que nos impulsiona a adotar e manter um estilo de vida e um comportamento que
expressam e concretizam valores tidos com importantes. Sem objetivos concretos, que devem ser constantemente lembrados, corremos o risco de desanimar diante das primeiras dificuldades que se apresentam, enquanto a experiência de fracasso provoca uma profunda frustração psicológica. Ao contrário, uma forte motivação garante um estudo perseverante e bem-sucedido. Intercâmbio: É de grande utilidade reunir-se de tempos em tempos com colegas estudantes para trocar experiências de estudo, confrontar resultados, preparar um exame ou um debate
em aula. Esse tipo de intercâmbio abre novos horizontes, estimula o esforço e esclarece dúvidas. Saúde: Às vezes tratam-se de casos relativamente simples de serem resolvidos. Assim, por exemplo, sonolência constante em períodos de estudos pode ter como motivação a
inadequação do horário de estudo ou tipo de alimentação efetuada antes do estudo.
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Metodologia do
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Autodisciplina: No campo da formação intelectual nada se faz sem autodisciplina. A concentração – elemento primordial nos estudos – depende em boa parte dela, pelo fato de exigir força de vontade e tenacidade na ação. Sem esta disposição firme e empenho decidido não adianta absolutamente nada oferecer subsídios metodológicos, acompanhamento pessoal nos estudos ou técnicas sofisticadas de aprendizagem.
A Aprendizagem O “todo” ajuda a compreender as partes, não são as partes que ajudam a compreender o “todo”, portanto não deve-se procurar aprender por “pedaços”. Toda aprendizagem é uma “estrutura” que deve ser assimilada globalmente, portanto deve-se pensar sempre em termos de totalidade e relação das partes entre si. Um estudo eficiente passa necessariamente por três etapas que, articuladas, levarão o educando a atingir com mais eficiência a aprendizagem desejada, denominada aqui de síncrese, a primeira etapa, análise, a etapa intermediária, e síntese, a etapa final. Vejamos o quadro abaixo:
SINCRESE
ANÁLISE
SÍNTESE
Procurar o sentido estrutural do todo
Procurar ver e compreender todos os detalhes
Eliminar da investigação tudo que não for fundamental
Visão difusa do conteúdo
Ordenar o conteúdo
Conclusões, definições, princípios, esquemas, diagramas
Planejamento e Organização Não se pode esperar ter êxito nos estudos sem planejamento e organização. O planejamento diz respeito ao tempo disponível, enquanto a organização se refere à utilização eficiente deste tempo em termos de estudo. Estudo exige, por sua própria natureza, autodisciplina e disponibilidade. Devemos garantir o espaço de tempo necessário para a atividade intelectual através de um horário elaborado a partir da situação pessoal. Elaborar um “Quadro de Horário” prevendo a distribuição do tempo dedicado ao estudo é um excelente recurso para otimização do tempo, possibilitando o acompanhamento das tarefas a médio e longo prazo. Também no sentido de contribuir na organização das atividades seria bom elaborar um “Quadro de Tarefas”, possibilitando o acompanhar das atividades.
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Regras Gerais de Estudo As regras que se seguem ajudam a melhorar o rendimento do estudo. Conheça-as e use-as com bom senso. estude individualmente, salvo se tiver a certeza de que estudando com outros você aumenta a própria eficácia (discutindo pontos de dúvidas, por exemplo); tenha idéia clara dos resultados que você deseja alcançar e afaste do seu pensamento tudo o que seja alheio ao seu estudo; aprenda os conceitos, princípios e regras gerais antes de tentar aplicá-los; destaque os aspectos importantes de sua tarefa, seja ela qual for, e considere-os de acordo com essa importância; faça constantes revisões, aproveitando tais oportunidades para eliminar os seus pontos fracos; procure resolver as suas dificuldades sozinho, mas não deixe de pedir auxílio se perceber que ele é mesmo necessário; distribua bem os seus esforços durante o estudo, ou seja, estude por etapas a matéria muito vasta, importante ou difícil. Distribua as etapas por mais de um período de estudo; aprenda a matéria estudada de modo a poder reduzi-la a uma unidade; aplique o aprendido, usando sempre que lhe seja possível. Veja no quadro da página seguinte um método de estudo:
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Metodologia do
Trabalho Científico FASES
G L O B A L
P A R C I A L
MÉTODO DE ESTUDO ATITUDE E
COMPORTAMENTO Curiosidade Interesse Propósito Definido
TÉCNICAS BÁSICAS
DO
ESTUDO
1.Perguntar-se antes do estudo: Qual é o assunto? O que sei sobre isso? Que acho que vai tratar-se aqui? 2.Pausa para responder-se mentalmente a essas perguntas. 3.Leitura rápida sobre todo o livro (quando é o primeiro contato com ele): Tentar obter o plano da obra; Informações sobre o autor e seu trabalho; Tentar descobrir seu método expositivo.
”Olho clínico” Atenção Não-passividade
Concentração Análise Crítica
Síntese
Sistematização
Ordenação lógica
4.Leitura rápida sobre o capítulo, a lição: Tentar apenas se informar do que se trata; Tentar esboçar o plano do capítulo ou do texto; Estabelecer rapidamente relações com temas anteriores; Sem anotações – veloz; Esta primeira leitura é sem análise – levada a cabo, mesmo sem entender tudo. 5.Nova leitura: demorada, refletida Assinalar as partes importantes; Obtenção da idéia principal; Obtenção dos detalhes importantes; Assinalar a lápis no livro; Relacionar as partes; Criticar (se for o caso) pontos de vista do autor; Confrontá-los com os próprios; Levantar dúvidas; Procurar respostas. 6. Anotações (de preferência em fichas) Breves transcrições; Esquemas; Resumos próprios; Conclusões tiradas; Análises e críticas pessoais (se for o caso); Documentar-se não apenas para o presente, o imediato. A anotação deve servir para o futuro. Daí ser concisa, sem ser obscura. 7. Relacionar o assunto com o anterior e o seguinte Consultar outras fontes. Não se escravizar ao livro de textos.
G L O B A L 26
Concentração Persistência Adaptação às situações reais, fora do contexto lido
8. Revisão e assimilação Rever toda a anotação feita; Confrontar com o texto; Repetir para si o aprendido, imaginando que o está comunicando a alguém; Treinar-se para que tal “comunicação” tenha clareza e seqüência lógica; Testar a memória para assegurar-se de que não esqueceu algo importante. Não decorar, mas assimilar.
Se você adotar as técnicas aqui expostas, em pouco tempo terá aprendido a aprender. Seu estudo renderá mais, terá maior eficácia. Mas as regras apresentadas não devem escravizá-lo. Você deverá dominá-las e aplicá-las como um senhor, usando-as em seu proveito. Não se esqueça de que os bons resultados do seu estudo dependem de sua capacidade de concentrar-se. A concentração é um dos grandes segredos da superioridade intelectual. Concentrado, você estará desperto, ativo e consciente, pronto para compreender, aprender e pensar. Aí está a chave do sucesso: use-a.
Leitura e Análise de Textos
!
É preciso ler, e principalmente, ler bem. Quem não sabe ler não saberá resumir, não saberá tomar apontamentos e, finalmente, não saberá estudar. Ler bem é o ponto fundamental para os que quiserem ampliar e desenvolver as orientações e aberturas das aulas. O processo de aprendizagem, no que tange as atividades estudantis, depende, dentre outros elementos, da capacidade de leitura e assimilação reflexiva dos conteúdos trabalhados. As leituras necessárias e justificáveis podem ser realizadas de modo proveitoso e com menor grau de esforço quando efetuadas com base em algumas técnicas. O que é uma leitura proveitosa, que técnicas podemos fazer uso, que cuidados devemos ter para maior proveito será agora objeto do nosso estudo. Vamos à ele!!!
Elementos da Leitura A leitura amplia e integra os conhecimentos, desonerando a memória, abrindo cada vez mais os horizontes do saber, enriquecendo o vocabulário e a facilidade de comunicação, disciplinando a mente e alargando a consciência pelo contato com formas e ângulos diferentes sob os quais o mesmo problema pode ser considerado. Quem lê constrói sua própria ciência; quem não lê memoriza elementos de um todo que não se atingiu. Apesar de todo o avanço tecnológico observado na área de comunicações, principalmente audiovisuais, nos últimos tempos, ainda é, fundamentalmente, através da leitura que se realiza o processo de transmissão/aquisição do conhecimento. Daí a importância capital que se atribui ao ato de ler, enquanto habilidade indispensável. Aprender a ler não é uma tarefa tão simples, pois exige uma postura crítica, sistemática, uma disciplina intelectual por parte do leitor, e esses requisitos básicos só podem ser adquiridos através da prática, da experiência. Os livros, de modo geral, expressam a forma pela qual seus autores vêem o mundo. Para entendê-los é indispensável não só penetrar em seu conteúdo básico, mas também ter sensibilidade e espírito de busca, para identificar, em cada texto lido, os vários níveis de significação e as várias interpretações das idéias expostas por seus autores. Os livros ou textos selecionados servem para leituras ou consultas: podem ajudar nos estudos em face dos conhecimentos técnicos e atualizados que contêm, ou oferecer subsídios para a elaboração de trabalhos científicos, incluindo seminários, trabalhos escolares, monografias etc.
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Modalidades de Leitura
Metodologia do
Trabalho Científico
A realidade da leitura é extremamente complexa e variada, visto que o diálogo que se estabelece entre emissor e receptor não se dá sempre da mesma forma. As nossas leituras têm origens e objetivos bastante diferenciados. Assim, há leituras de pura informação, como noticiários, jornais, revistas; leituras de passatempo, como revistas em quadrinhos, romances etc.; leituras literárias que são, antes de tudo, uma comunicação íntima entre o texto
e o leitor. No caso específico de leituras acadêmicas, trata-se de uma linguagem científica que se caracteriza pela clareza, precisão e objetividade. Ela é fundamentalmente informativa e técnica, firma-se em dados concretos, a partir dos quais analisa e sintetiza, argumenta e conclui. A objetividade e racionalidade da linguagem científica a distingue de outras expressões, igualmente válidas e necessárias. O que é mais presente é a leitura de estudo ou informativa, pois visa à coleta de informações para determinado propósito, destacando-se três objetivos predominantes:
1 certificar-se do conteúdo do texto, constatando o que o autor afirma, os dados que apresenta e as informações que oferece;
2 correlacionar os dados coletados a partir das informações do autor com o problema em pauta;
3 verificar a validade dessas informações. Etapas da Leitura Decodificação: Tradução dos sinais gráficos em palavras; Intelecção: Percepção do assunto, emissão de significado ao que foi lido; Interpretação: Apreensão das idéias e estabelecimento de relações entre o texto e o contexto; Aplicação: Função prática da leitura, de acordo com os objetivos que se propôs.
Finalidades da Leitura Informação com ou sem objetivo da aquisição de conhecimentos. Leitura informativa: cultura em geral. Leitura formativa: aquisição ou ampliação de conhecimentos.
Motivação para Leitura A leitura pode ser feita com diferentes finalidades. Em outras palavras, você está lendo para adquirir conhecimentos suficientes que o levará ao sucesso.
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A seleção dos seus textos de leitura deve ser feita a partir daí. As técnicas de leitura que você deverá usar serão escolhidas também a partir dessa finalidade principal. Portanto: inicialmente a principal finalidade da leitura, mantendo as unidades de * Determine pensamento, avaliando o que se lê; os textos (livros, apostilhas, etc.) tendo em vista a finalidade principal * Escolha da leitura; as técnicas de leitura mais indicadas à finalidade fixada e aos textos a ler; * Use com objetivo determinado, preocupe-se com o conhecimento de todas as * Leia palavras, utilizando para isso glossários, dicionários especializados da disciplina ou mesmo dicionário geral; a leitura, quer periódica quer definitivamente, se perceber que as * Interrompa informações não são as que esperava ou não são mais importantes;
* Discuta freqüentemente o que foi lido com colegas, professores e outras pessoas. Condições para uma Leitura Proveitosa Para um estudo proveitos de um texto, de um artigo ou de um livro, com boa assimilação de seu conteúdo, alguns passos fazem-se necessários: 1
atenção - aplicação cuidadosa e profunda da mente, buscando o entendimento, a assimilação dos conteúdos básicos do texto;
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intenção - interesse ou propósito de conseguir algum proveito por meio da leitura;
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reflexão - consideração e ponderação sobre o que se lê, observando todos os ângulos, tentando descobrir novos pontos de vista, novas perspectivas e relações;
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espírito crítico - ler com espírito crítico significa fazê-lo com reflexão, não admitindo idéias sem analisar ou ponderar, proposições sem discutir, nem raciocínio sem examinar;
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análise - divisão do tema em partes, determinação das relações existentes entre elas, seguidas do entendimento de toda sua organização;
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síntese - reconstituição das partes decompostas pela análise, procedendo-se ao resumo dos aspectos essenciais, deixando de lado tudo o que for secundário e acessório, sem perder a seqüência lógica do pensamento.
Técnicas de Leitura A leitura não é simplesmente o ato de ler. É uma questão de hábito ou aprendizagem, que pressupõe uma teoria que fundamente o método; uma estratégia a ser empregada; um conjunto de técnicas; e treinamento. Não há, portanto, soluções miraculosas, é preciso que o interessado conheça os métodos, verifique a sua real contribuição e através do treinamento adquira hábitos de leitura tecnicamente mais adequados.
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Antes de iniciar uma leitura, e particularmente, antes de iniciar o período de treinamento, é importante observar as seguintes condições: Metodologia do
Trabalho Científico
sossegado; * ambiente em posição correta; * luz ler sempre no mesmo local e no mesmo horário (isso ajuda a * procurar condicionar o organismo); correta do livro: a mais indicada é a que forme um ângulo próximo * posição de 90 graus com o tórax, a uma distância aproximada de 30 cm dos olhos (estes devem alcançar um ângulo de visão tal que toda a extensão da linha seja abarcada, sem movimento ocular); ler tendo pensamentos que o preocupam e possam obstruir * não freqüentemente a dinâmica da leitura: não trabalhar com duas idéias ao mesmo tempo (acaba não havendo definição de nenhuma).
* ler com propósito definido e com decisão. Quem tem possibilidade de fazer leitura oral, convém que, de vez em quando, a exercite. A leitura oral é sempre indicada quando, após ler e reler um parágrafo ou trecho, ainda não se conseguiu captar-lhe o sentido. Lembre-se que: o “bom leitor” é capaz de ler alto (caso não tenha impossibilidade física ou de outra procedência) com clareza e expressão; lê sem tropeços; todos o entendem e ele gosta do que lê; sabe fazer as pontuações e modulações com naturalidade e agrado; o “bom leitor” revela-se pela leitura oral, porque não lê, mas interpreta através da leitura oral.
Maus Hábitos de Leitura A maioria dos chamados “maus hábitos” de leitura está relacionado com o emprego dos olhos. Certos hábitos em si não são nem “bons” nem “maus”, passam a sê-lo a partir do momento em que seu uso prejudica a leitura; isso, provavelmente, vai variar de pessoa para pessoa, de situação para situação. Eis alguns:
Movimentos labiais durante a leitura silenciosa - geralmente são indício de leitura vagarosa: quem o faz está falando para si mesmo, quer tenha consciência disso, quer não. Está lendo palavras e não conjunto de palavras de uma só vez. É possível que o leitor não saiba que move os lábios enquanto lê. É fácil verificá-lo: basta colocar o dedo indicador sobre os lábios enquanto estiver lendo – sentirá se os lábios se movem ou não;
Percurso do dedo ao longo da linha durante a leitura – é a prática mais controvertida, inclusive há cursos de leitura dinâmica cuja técnica fundamental é recomendar e treinar o leitor a ler percorrendo com o dedo a linha que se lê. Por outro lado, outros condenam a prática alegando que o percurso do dedo, particularmente através de movimento – parada – movimento – parada ..., está substituindo o movimento que os olhos deveriam fazer. É difícil decidir quem tem razão. Fica a critério de cada um verificar o que lhe é mais proveitoso;
Movimento da cabeça durante a leitura – este é um defeito apontado unanimemente pelos autores de técnicas de leitura. Quem move a cabeça enquanto lê está fazendo com a cabeça o que os olhos deveriam fazer;
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Hábito de ler os sinais e letras e não as idéias – já foi observado em investigações que o “bom leitor” geralmente não constata muitos erros gráficos, trocas de letras, deslizes de ortografia, concordância etc.Justamente porque lê idéias e não palavras.
Apresento agora à você um desafio!!! Sim, praticar sempre é um desafio, pois exige disposição, vontade e tempo. Mas, como todo trabalho gera progresso, você, certamente, terá a recompensa merecida pelo esforço empreendido. Então, convido-o a experimentar entrar no mundo da leitura. Certamente você desfrutará de descobertas maravilhosas que serão de muita valia para a sua vida, principalmente a vida acadêmica. Vamos nessa? É muito simples!!! Você deverá LER as orientações descritas abaixo e seguí-las.
A atividade é a seguinte: Recorte um pedaço de cartolina, com as dimensões de 12cm X 11cm. Este cartão deve ser branco (cartões coloridos podem distrair a visão). Todas as vezes que iniciar uma leitura, coloque o cartão sobre a primeira linha e puxe-o para baixo por sobre as linhas, uma a uma, mantendo o mesmo ritmo. Procure sentir o andamento, apressando-o se sentir que pode aumentar o ritmo. Não deixe, em circunstância alguma, que os olhos voltem para trás. Se algo escapar, esqueça. Simplesmente leia, leia e leia o mais depressa que puder. Este será o seu cartão de velocidade. Bom será usá-lo todas as vezes que iniciar uma leitura de qualquer tipo. Marque no verso do cartão a sua velocidade atual, e dentro de trinta dias volte a medi-la. Só assim você saberá quanto melhorou.
Etapas da Análise e Interpretação de Textos* DECOMPOSIÇÃO Verificação dos componentes de um conjunto e suas possíveis relações.
GENERALIZAÇÃO
ANÁLISE
Permite a classificação, fundamentada em traços comuns, dos elementos constitutivos.
Objetividade, explicação e a justificativa são três elementos importantes para se chegar à validade.
* Recomendações: a) Evite pensar preconceituosamente;
CRÍTICA
c) Evite concluir quando tem insuficiência de dados e quando ainda não formulou todas as hipóteses possíveis;
b) É preciso distinguir fatos de opiniões;
d) Pensamentos e opiniões devem ser comprovados.
O QUE DEVO IDENTIFICAR NUM TEXTO? TEMA: I d é i a central ou assunto tratado pelo autor, o fenômeno que se discute no decorrer do texto. Em primeiro lugar, busca-se saber do que fala o texto. A resposta a esta questão revela o tema ou assunto da unidade.
1
PROBLEMA:
2
A apreensão da problemática, aquilo que “provocou” o autor, isto é, pode ser visto como o questionamento de motivação do autor.
3
TESE:
A idéia de afirmação do autor a respeito do assunto. Captada a problemática, a terceira questão surge espontaneamente: o que o autor fala sobre o tema, ou seja, como responde à dificuldade, ao problema levantado? Que posição assume, que idéia defende, o que quer demonstrar? A resposta a esta questão revela tese, proposição fundamental: trata-se sempre da idéia mestra, da idéia principal defendida pelo autor naquela unidade.
4
OBJETIVO:
A finalidade que o autor busca atingir. Que mensagem ele espera transmitir com o texto. O objetivo pode estar explícito ou implícito no texto.
5
IDÉIAS CENTRAIS:
I d é i a s p r i n c i pa i s do texto. A cada parágrafo podemos selecionar idéias centrais ou secundárias.
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Metodologia do
Trabalho Científico
MAP A CONCEITU AL D A ANÁLISE DE MAPA CONCEITUAL DA TEXTO
1. ANÁLISE TEXTU AL TEXTUAL
Visão global do texto: - Busca de esclarecimentos; vocabulário, teorias, biografia da autoria, etc; - Identificação do assunto/ Área de conhecimento; - Esquema do texto.
2. ANÁLISE TEMÁTICA
Compreensão da mensagem do autor: - Identificação do Tema, Tese/ Problema/ Objetivo/ Idéias centrais.
3. ANÁLISE INTERPRET ATIV A INTERPRETA TIVA
Interpretação da mensagem do autor: - Influências teóricas; - Associação de idéias; - Avaliação Crítica.
4. PROBLEMA TIZAÇÃO PROBLEMATIZAÇÃO
Levantamento e discussão de problemas relacionados com a mensagem do autor.
5. SÍNTESE
Reelaboração mental (oral ou escrita) da mensagem do autor com base na reflexão pessoal.
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Técnicas para Sistematização do Conhecimento I A necessidade de romper com a tendência fragmentadora e desarticulada do processo do conhecimento, justifica-se pela compreensão da importância da interação e transformação recíprocas entre as diferentes áreas do saber. Essa compreensão crítica colabora para a superação da divisão do pensamento e do conhecimento, que vem colocando a pesquisa e o ensino como processo reprodutor de um saber parcelado que conseqüentemente muito tem refletido na profissionalização, nas relações de trabalho, no fortalecimento da predominância reprodutivista e na desvinculação do conhecimento do projeto global de sociedade. Portanto, faz-se necessário a produção e a sistematização do conhecimento, no sentido de ampliar as possibilidades de minimizar a complexidade do mundo em que vivemos. Neste sentido, a interdisciplinaridade aparece como entendimento de uma nova forma de institucionalizar a produção do conhecimento, possibilitando a articulação de novos paradigmas, as determinações do domínio das investigações, as pluralidades dos saberes e as possibilidades de trocas de experiências. A seguir, verificaremos as diversas técnicas de sistematizar o conhecimento e as suas devidas aplicações práticas.
Técnica para Sublinhar A leitura informativa, também denominada de leitura de estudo, como visto, pretende, através das técnicas, evidenciar ao estudante como deve ele proceder para melhor estudar e absorver os conteúdos e significados do texto. As sucessivas etapas são o caminho a ser percorrido. Para tanto, mais duas outras técnicas são necessárias: saber como sublinhar e como fazer os resumos da parte lida. Em primeiro lugar, devemos compreender que cada texto, capítulo, Normas para Sublinhar subdivisão ou m e s m o a) Leitura integral do texto; b) Esclarecimento de dúvidas de vocabulário, parágrafo têm uma idéia principal, um conceito termos técnicos e outras; fundamental, uma palavra-chave, que se apresenta c) Releitura do texto, para identificar as idéias principais; como fio condutor do pensamento. Como geralmente d) Não sublinhar após a primeira leitura; não se destaca do restante, descobri-lo é a base de e) Ler e sublinhar, em cada parágrafo, as palavras que contém a idéia-núcleo e os toda a aprendizagem. Na realidade, em cada detalhes mais importantes. Não sublinha-se parágrafo, deve-se captar esse fator essencial, pois a mesma palavra novamente; f) Sublinhar apenas as idéias principais e os a leitura que conduz à compreensão é feita de tal detalhes importantes, usando dois traços para modo que as idéias expressas são organizadas as palavras-chave e um para os pormenores mais significativos, assinalar com uma linha numa hierarquia para se descobrir a palavra-chave. vertical, à margem do texto, os tópicos mais Ao descobrir, concretizar e formular as idéias importantes, com dois os tópicos muito importantíssimos; diretrizes dos parágrafos, encontra-se todo o fio g) Assinalar, à margem do texto, com um condutor que dá unidade ao texto, que desenvolve ponto de interrogação, os casos de discordância, as passagens obscuras, os o raciocínio que demonstra as proposições. argumentos discutíveis; Por sua vez, a idéia-mestra não se apresenta h) Reconstruir o parágrafo a partir das palavras sublinhadas; desprovida de outras, que revelam pormenores i) Ler o texto sublinhado com continuidade e importantes, gravitando ao seu redor, como uma plenitude de um telegrama. miniatura do sistema solar. Nas proximidades da
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Metodologia do
Trabalho Científico
idéia principal aparecem argumentos que a justificam, analogias que a esclarecem, exemplos que a elucidam e fatos aos quais ela se aplica. É por esse motivo que o bom leitor utiliza o recurso de sublinhar, de assinalar com traços verticais às margens, de utilizar cores e marcas diferentes para cada parte importante do todo.
Técnica para Esquematizar
Depois de assinalar, com marcas ou cores diferentes, as várias partes constitutivas do texto, após sucessivas leituras, devemos proceder à elaboração de um esquema que respeite a hierarquia emanada do fato de que, em cada frase, a idéia expressa pode ser condensada em palavras-chave; em um parágrafo, a idéia principal é geralmente expressa numa frase-mestra; e finalmente, na exposição, a sucessão das principais Normas para Esquema idéias concretiza-se nos parágrafos-chave. a) seja fiel ao texto; No esquema, devemos levar em consideração b) aponte o tema do autor, destaque títulos, também que as idéias secundárias têm de ser subtítulos; c) seja simples, claro, distribuindo diferenciadas entre si. Portanto, depois de desprezar organicamente o conteúdo; as não importantes, deve-se procurar as ligações d) subordine idéias e fatos, não os reúna apenas; que unem as idéias sucessivas, quer sejam e) faça uma distribuição gráfica do assunto, paralelas, opostas, coordenadas ou subordinadas, mediante divisões e subdivisões que representem a sua subordinação hierárquica; analisando-se sua seqüência, encadeamento lógico f) construa o esquema através de chaves de e raciocínio desenvolvido. Dessa forma, o esquema separação ou por listagens itemizadas com diferenciação de espaço e/ou classificação emerge naturalmente do trabalho de análise numérica para as divisões e subdivisões dos realizado. elementos; g) lembre-se que o esquema tem, também, um Assim, teríamos, através do esquema, uma conteúdo pessoal. radiografia do texto, pois nele aparece apenas o “esqueleto”, ou seja, as palavras-chave, sem necessidade de se apresentar frases redigidas. Deve ser elaborado com base na hierarquia das palavras, frases e parágrafos-chave que, destacados após várias leituras, devem apresentar ligações entre as idéias sucessivas para evidenciar o raciocínio desenvolvido. O esquema é utilizado como trabalho preparatório para o resumo, para memorizar mais facilmente o conteúdo integral de um texto. Utiliza-se de setas, linhas retas ou curvas, círculos, colchetes, chaves, símbolos diversos. Pode ser montado em linha vertical ou horizontal, é importante que nele apareçam as palavras que contém as idéias principais, de forma clara, compreensível.
Técnicas para Sistematização do Conhecimento II Técnica para Fichar Fichar é transcrever anotações em fichas, para fins de estudo ou pesquisa. À medida que o pesquisador tem em mãos as fontes de referência, deve transcrever os dados em fichas, com o máximo de exatidão e cuidado. A ficha, sendo de fácil manipulação, permite a ordenação do assunto, ocupa pouco espaço e pode ser transportada de um lugar para outro. Até certo ponto, leva o indivíduo a pôr ordem no seu material. Possibilita ainda uma seleção constante da documentação e de seu ordenamento.
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Fichas Para o pesquisador, a ficha é um instrumento de trabalho imprescindível. Como o investigador manipula o material bibliográfico, que em sua maior parte não lhe pertence, as fichas permitem: identificar as obras; conhecer seu conteúdo; fazer citações; analisar o material; elaborar críticas. O sistema de ficha é atualmente utilizado nas mais diversas instituições para serviços administrativos e nas bibliotecas, onde, para consulta do público, existem fichas de autores, de títulos, de séries e de assuntos, todas em ordem alfabética. Apresentam vantagens como: fácil manipulação; permite ordenação; ocupa pouco espaço; fácil de transportar; possibilita obter a informação exata, na hora necessária. Composição/Estrutura das Fichas A estrutura das fichas, de qualquer tipo, compreende cinco partes principais: cabeçalho, referência bibliográfica e corpo ou texto, a indicação da obra (quem, principalmente, deve lê-la) e o local em que ela pode ser encontrada (qual biblioteca). cabeçalho - compreende o título genérico, título específico, número de classificação da ficha, e a letra indicativa da seqüência (quando se utiliza mais de uma ficha, em continuação). Esses elementos são escritos na parte superior da ficha, em duas linhas: na primeira, consta apenas, à esquerda, o título genérico remoto, na segunda, em quatro quadrinhos, da esquerda para a direita, o título genérico, o título específico, o número de classificação e o código indicativo da seqüência; referência bibliográfica - deve sempre seguir normas da ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas. Para proceder-se corretamente é importante consultar também a Ficha Catalográfica da obra, que traz todos os elementos necessários e, na ausência dela, a folha de rosto e outras partes do livro, até obter as informações completas. Quando se trata de revistas e outros periódicos, muitas vezes os elementos importantes da referência bibliográfica localizam-se na lombada. No caso de jornais, a primeira página é que fornece a maioria das indicações; corpo - o conteúdo que constitui o corpo ou texto das fichas varia segundo o tipo e finalidade da ficha; indicação da obra - onde poderá ser utilizada (quer para estudos, pesquisa em determinada área ou para campos específicos); local - onde pode ser encontrado o livro, pois é possível que uma obra depois de fichada, seja necessário voltar a consultá-la. O conteúdo das fichas será delineado pelo propósito da ficha, podendo ser: a) bibliográfica; b) citações; c) resumo ou conteúdo; d) esboço; e) comentário ou analítica.
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Metodologia do
Trabalho Científico FICHA DE ESBOÇO Assemelha-se a ficha de resumo, pois apresenta as idéias principais do autor, porém de forma detalhada; É a mais extensa das fichas.
FICHA DE RESUMO Apresenta síntese clara das principais idéias do autor; Não é transcrição, é elaboração de leitor; Não é longa, é intermediária entre bibliográfica e de esboço; Não precisa obedecer estritamente à obra.
FICHA DE COMENTÁRIO Consiste na interpretação e crítica pessoal das idéias do leitor; Apresenta comentários sobre a forma, análise crítica do conteúdo, comparação da obra com outros trabalhos, etc.
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TIPOS DE FICHAS FICHA BIBLIOGRÁFICA Também denominada de ficha de indicações bibliográficas; Deve utilizar verbos ativos e frases breves para caracterizar a forma pela qual o autor escreve, analisa, compara, contém, critica, etc; Evitar repetições desnecessárias como: esse livro, esta obra, este artigo, o autor.
FICHA DE CITAÇÃO Serve para selecionar trechos de alguns autores; Toda citação deve vir entre aspas; Após a citação, deve constar o nº da página de onde foi extraída; A supressão de uma ou mais palavras e de um ou mais parágrafos deve ser indicada.
Ficha Bibliográfica Também denominada de ficha de indicações bibliográficas, trata da reunião de elementos que permitem a identificação, no todo ou em parte, de documentos impressos ou registrados em diversos tipos de material, sendo fundamentalmente os seguintes: autor, título, número da edição (da segunda em diante); local de publicação; editora; data da publicação; outras informações (campo do saber; tema; aspectos significativos). Essas indicações bibliográficas obedecem às normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Constituem-se, também, num grande auxílio no momento de colocar as obras em ordem alfabética, para organizar a bibliografia de um trabalho. Recomenda-se:
*
ser breve - quando se desejam maiores detalhes sobre a obra, o ideal é a ficha de resumo ou conteúdo, ou, melhor ainda, a de esboço. Na ficha bibliográfica algumas frases são suficientes;
*
utilizar verbos ativos - para se caracterizar a forma pela qual o autor escreve, as idéias principais devem ser precedidas por verbos tais como: analisa, compara, contém, critica, define, descreve, examina, apresenta, registra, revisa, sugere;
*
evitar repetições desnecessárias - não há nenhuma necessidade de colocar expressões como: esse livro, esta obra, este artigo, o autor.
Ficha de Citações Enquanto se realiza a leitura analítica ou interpretativa das fontes bibliográficas, convém selecionar trechos de alguns autores, que poderão (ou não) ser usados como citações no trabalho ou servir para destacar idéias fundamentais de determinados autores, nas obras consultadas. Deve-se observar os seguintes cuidados:
*
toda citação tem de vir entre aspas - é através desse sinal que se distingue uma ficha de citações das de outro tipo. Além disso, a colocação das aspas evita que, mais tarde, ao utilizar a ficha, se transcreva como do fichador os pensamentos nela contidos;
*
após a citação, deve constar o número da página de onde foi extraída - isso permitirá a posterior utilização no trabalho, com a correta indicação bibliográfica;
*
a transcrição tem de ser textual - isso inclui os erros de grafia, se houver. Após eles, coloca-se o termo sic, em minúsculas e entre parênteses ou colchetes;
*
a supressão de uma ou mais palavras deve ser indicada utilizando-se no local da omissão, três pontos, precedidos e seguidos por espaços, no início ou final do texto e entre parênteses, no meio;
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a supressão de um ou mais parágrafos também deve ser assinalada, utilizando-se uma linha completa de pontos; Metodologia do
Trabalho Científico
* *
a frase deve ser complementada, se necessário - quando se extraí uma parte ou parágrafo de um texto, este pode perder seu significado, necessitando de um esclarecimento, o qual deve ser intercalado, entre colchetes;
*
quando o pensamento transcrito é de outro autor, tal fato tem de ser assinalado - muitas vezes o autor fichado cita frases ou parágrafos escritos por outra pessoa. Nesse caso, é imprescindível indicar, entre parênteses, a referência bibliográfica da obra da qual foi extraída a citação.
Ficha de Resumo Apresenta uma síntese bem clara e concisa das idéias principais do autor ou um resumo dos aspectos essenciais da obra. Caracteriza-se por:
não é um sumário ou índice das partes componentes da obra, mas exposição abreviada das idéias do autor;
* *
não é transcrição, como na ficha de citações, mas é elaborada pelo leitor, com suas próprias palavras, sendo mais uma interpretação do autor;
* *
não é longa, apresenta mais informações do que a ficha bibliográfica, que por sua vez, é menos extensa do que a do esboço; não precisa obedecer estritamente à estrutura da obra, lendo a obra, o estudioso vai fazendo anotações dos pontos principais. Ao final, redige um resumo, contendo a essência do texto.
Técnica para Resumir Um resumo é uma apresentação breve, concisa e seletiva de um texto que permite ao destinatário tomar conhecimento de um documento sem a necessidade de ler as partes componentes. Nele destacam-se os elementos de maior interesse e importância, identificando as idéias principais do autor e da obra. Um resumo precisa explicitar a abordagem implícita, o valor dos achados e a originalidade, se houver. A finalidade de se resumir consiste na difusão das informações contidas em livros, artigos, teses etc., permitindo a quem o ler resolver sobre a conveniência ou não de consultar o texto completo. O como fazer um resumo depende muito do objetivo ou demanda que se tenha. Ele pode ser uma apresentação de um sumário narrativo das partes mais significativas, não dispensando a leitura do texto; uma condensação do conteúdo, expondo ao mesmo tempo, tanto a metodologia e as finalidades quanto os resultados obtidos e as conclusões, permitindo a utilização em trabalhos acadêmicos, dispensando, assim, a leitura posterior do texto original; uma análise interpretativa de um documento criticando os diferentes aspectos inerentes ao texto.
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Como Resumir Levando-se em consideração que quem escreve obedece a um plano lógico através do qual desenvolve as idéias em uma ordem hierárquica, ou seja, proposição, explicação, discussão e demonstração, é aconselhável, em uma primeira leitura, fazer um esboço do texto, tentando captar o plano geral da obra e seu desenvolvimento. A seguir, volta-se a ler o trabalho para responder a duas questões principais: de que trata este texto? o que pretende demonstrar? Com isso, identifica-se a idéia central e o propósito que nortearam o autor. Em uma terceira leitura, a preocupação é com a questão: como disse? Em outras palavras, trataNormas para Resumir se de descobrir as partes principais em que se a) evitar começar a resumir antes de levantar o estrutura o texto. Esse passo significa a esquema do texto ou de preparar as anotações da leitura; compreensão das idéias, provas, exemplos etc. que b) apresentar, de maneira sucinta, o assunto servem como explicação, discussão e demonstração da obra; c) não apresentar juízos críticos ou comentários da proposição original (idéia principal). É importante pessoais; distinguir a ordem em que aparecem as diferentes d) respeitar a ordem das idéias e fatos apresentados; partes do texto. Geralmente quando o autor passa e) empregar linguagem clara e objetiva; de uma idéia para outra, inicia novo parágrafo. f) evitar a transcrição de frases do original; g) apontar as conclusões do autor; Uma vez compreendido o texto, selecionadas h) dispensar a consulta ao original para a as palavras-chave e entendida a relação entre as compreensão do assunto. partes essenciais, pode-se passar à elaboração do resumo.
Tipos de Resumo Com efeito, um resumo pode ser de três tipos: Resumo descritivo ou indicativo - nesse tipo de resumo descrevem-se os principais tópicos do texto original, e indicamse sucintamente seus conteúdos. 1
Resumo informativo ou analítico - é o tipo de resumo que reduz o texto a 1/3 ou 1/4 do original, abolindo-se gráficos, citações, exemplificações abundantes, mantendo-se, porém, as idéias principais. 2
Resumo crítico - consiste na condensação do texto original a 1/3 ou 1/4 de sua extensão, mantendo as idéias fundamentais, mas permite opiniões e comentários do autor do resumo sobre o trabalho e não sobre o autor, pode se centrar na forma (com relação aos aspectos metodológicos), do conteúdo (análise do teor em si do trabalho), do desenvolvimento (da lógica utilizada na demonstração); e da técnica de apresentação das idéias principais. 3
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Atividades
Complementares
Metodologia do
Trabalho Científico
1.
Agir metodologicamente é condição básica de qualquer pesquisa científica. A leitura de estudo mostra ao estudante como ele deve proceder para melhor estudar e absorver os conteúdos e significados do texto. Leia atentamente o texto abaixo, sublinhando os pontos mais importantes e elabore um esquema do texto, evidenciando os pontos principais e os secundários. O papel da educação no despertar da Consciência
Quando falamos de educação, devemos lembrar que ela pressupõe um movimento de dentro para fora, mais precisamente no gênero humano. Daí a necessidade de investirmos nas nossas potencialidades internas. Para tanto, muito importa utilizarmos como atividade meio o autoconhecimento, pois o Ser Humano não vive sem o saber, enfim, sem o conhecimento. Mas o único conhecimento que o Ser Humano não pode desprezar é o conhecimento de si mesmo. Eis a senda da educação verdadeira. Entendemos que é necessário nos relacionarmos, através da educação, não só com o mundo objetivo e empírico do conhecimento moderno, mas também com o mundo subjetivo e espiritual da sabedoria. É um ledo engano a idéia de que, acumulando ensinamentos e adquirindo técnicas, estamos nos educando. Isso só nos trouxe separatividade e guerra. Basta olhar ao nosso redor e verificar o estado em que nos encontramos, com a corrupção, violência e volúpia como que globalizados. Enquanto houver no Ser Humano uma distância significativa entre a sua ação, o seu pensamento e o seu sentimento, ou seja, entre o sentir, o pensar e o agir, é evidente que não haverá auto-integração; portanto não haverá autoconhecimento e tampouco autotransformação, mas sim fragmentação. E o que pode produzir um fragmentado, se toda ação produz uma reação igual e em sentido contrário? Assim, não haverá ação criativa, mas sim ação condicionada, esta que nos colocou hoje como estamos: em caos generalizado. Considerando nossa intenção em contribuir para a realização de um processo educativo que prime pela unidade de pensamento entre os conhecimentos religioso, filosófico e científico, a partir da compreensão da necessidade de integração de todos os níveis e de todas as dimensões do Ser Humano, volvemos nossa atenção para o estudo da Consciência, essa amiga que é, para todos nós, tanto bússola quanto mapa, nessa jornada rumo à totalidade. Estamos mais do que confiantes. Estamos convictos e certos de que a educação integral, fundamentada no estudo da Consciência, responde aos anseios da educação para o século XXI, tal como expressa o Relatório Internacional da educação para o século XXI, da UNESCO (DELORS et al., 1999), intitulado “Educação – um tesouro a descobrir”. Este documento expõe, claramente, os quatro pilares da educação para esse período: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos e aprender a ser. O aprender a conhecer significa a aprendizagem do conhecimento científico e cultural que nos ajudam a distinguir o que é real e o que é ilusório, e a ter um acesso inteligente aos saberes de nossa época. Afinal, o Ser Humano não vive sem o saber. Nesse contexto, o espírito científico, como uma aquisição fundamental da aventura humana, é indispensável. Aprender a conhecer também significa ser capaz de estabelecer pontes entre os diferentes saberes; entre estes saberes e seus significados para nossa vida cotidiana; entre estes saberes e significados e nossas capacidades interiores. Já o aprender a fazer significa a aquisição de uma profissão e dos conhecimentos e práticas que lhe são peculiares. Toda profissão, no futuro, deveria ser uma verdadeira profissão a ser tecida; uma profissão que estaria ligada, no interior do Ser Humano, aos fios que a ligam a outras profissões. No fim das contas, aprender a fazer é um aprendizado da criatividade. Fazer também significa fazer o novo, criar, trazer suas potencialidades criativas à luz. 40
Quando tratamos do respeito às normas que regem as relações entre os seres que compõem uma coletividade, estamos nos referindo à aprendizagem do viver juntos, segundo expressa o Relatório da UNESCO. Todavia, estas normas devem ser realmente compreendidas, admitidas interiormente por cada sujeito, e não sentidas como pressões externas. Envolve, diretamente, reconhecer-se na face do Outro. Trata-se de um aprendizado permanente, que deve começar na mais tenra infância e continuar ao longo da vida. Afinal, em boas condições vive, quem boa condução tem. Por fim, o aprender a ser significa formar-se integralmente. A construção de uma pessoa passa, inevitavelmente, pelas tensões entre o interior e o exterior, entre o empírico, o mental e o espiritual. Aprender a ser também é aprender a conhecer e respeitar aquilo que liga o Sujeito e o Objeto. O Relatório da UNESCO afirma que os três primeiros objetivos ou pilares da educação assentam-se sobre o quarto; ou seja, o aprender a conhecer, o aprender a fazer, o aprender a viver juntos só fazem sentido se estiverem assentados no aprender a ser. É o Ser que integra, em si, as diversas dimensões da vida, que nele se assentam. Afinal, Ser se pratica (DELORS et al., 1999). Conforme podemos observar, há uma inter-relação bastante evidente entre os quatro pilares propostos para a educação do século XXI e a visão do desenvolvimento integral do Ser Humano, como foi configurado anteriormente. Situamos o aprender a conhecer e o aprender a fazer nos quadrantes superior e inferior direito, ambos relacionados às nossas realidades objetiva e interobjetiva; o aprender a viver juntos no quadrante inferior esquerdo e o aprender a ser no quadrante superior esquerdo, referindo-os às nossas realidades intersubjetiva e subjetiva. Nem tudo é tangível. Pensamos, portanto, em uma educação que se dirija à totalidade do Ser Humano, e não apenas a uma ou outra de suas dimensões; ou a um outro dos seus níveis. Uma educação que não privilegie, prioritariamente, nem à espiritualidade, nem à materialidade, nem à individualidade, nem à coletividade, mas sim que integre todas essas dimensões e níveis. A educação integral, a partir desses referenciais, esclarece, de uma maneira sempre nova, a necessidade que cada vez mais se faz sentir atualmente: a de uma educação permanente para o viver bem, isto é, em equilíbrio dinâmico, factual. Com efeito, essa proposta de educação, por sua própria natureza, necessita ser exercida não apenas nas instituições de ensino, da educação infantil à universidade, mas em todas as experiências da vida, individuais e coletivas, espontâneas e institucionais. Eis que é uma obra de todos nós, porquanto está mais do que na hora de provarmos a nós mesmos que nada vive no isolamento. BARRETO, Maribel Oliveira. O papel da consciência em face dos desafios atuais da educação. Salvador: Sathyarte, 2005.
Faça seu esquema aqui.
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2. Metodologia do
Trabalho Científico
3.
Levando em consideração que quem escreve obedece a um plano lógico através do qual desenvolve as idéias em uma ordem hierárquica, ou seja, proposição, explicação, discussão e demonstração, elabore um resumo descritivo acerca do texto de Barreto, “O Papel da educação no despertar da Conciência.”
Praticar sempre é um desafio, pois exige disposição, vontade e tempo. Vamos agora experimentar entrar no mundo da leitura e compreensão de texto. Certamente você desfrutará de descobertas maravilhosas que será de muita valia para a sua vida, principalmente a vida acadêmica. Você deverá LER o texto de Barreto, “O papel da educação no despertar da Consciência” e identificar nele o que segue: Tema; Problema; Tese; Objetivo; Idéias centrais.
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PRODUÇÃO ACADÊMICA E CIENTÍFICA DO CONHECIMENTO ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO DE TRABALHOS ACADÊMICOS
Redação Científica (Normas da ABNT) Toda atividade pressupõe o uso de normas que visam auxiliar e uniformizar os procedimentos, melhorando a comunicação de modo geral, além de imprimir qualidade e facilitar o intercâmbio de informações. Desta forma, a normatização ou o conjunto de procedimentos padronizados se aplica à elaboração de documentos técnicos e científicos, organizando conteúdo e forma destes documentos de forma geral. No caso específico de redação de trabalhos acadêmicos, esta deve atender algumas características para que a transmissão da informação e a sua compreensão por parte do leitor sejam eficazes. Alguns dos princípios básicos desta interação que deve existir entre autor e leitor são os seguintes:
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Clareza de expressão: Todo o texto escrito deve ser perfeitamente compreensível pelo leitor. Este não deve ter nenhuma dificuldade para entender o texto. As sentenças estão bem construídas? As idéias estão bem encadeadas? Há uma seqüência adequada na apresentação dos seus resultados e de sua argumentação? Leia cuidadosamente o que escreveu como se você fosse o seu leitor. Objetividade na apresentação: Convém selecionar os conteúdos que farão parte do seu texto. Selecione a informação que você dispõe e apresente só o que for relevante. Elabore um relato lógico, objetivo e, se possível, retilíneo tanto das observações como do raciocínio. Isto é ainda mais importante em um artigo, em que a concisão é geralmente desejada pelo periódico e pelo leitor.
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Precisão na linguagem: A linguagem científica deve ser precisa. Cuidado com termos vagos ou que podem ser mal interpretados. As palavras e figuras que entrarão no seu texto devem ser escolhidas com cuidado para exprimir o que o você tem em mente
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Utilização correta das regras da língua: Escrever erradamente pode resultar de ignorância ou de desleixo. Se for por ignorância, informe-se melhor, consulte dicionários e textos de gramática. Se for por desleixo, o leitor (e membro da Banca Examinadora) terá todo direito de pensar que o trabalho em si também foi feito com desleixo. Seja qual for a razão, é um desrespeito ao leitor.
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Trabalho Científico Os trabalhos científicos devem ser elaborados de acordo com normas Metodologia do preestabelecidas e com os fins a que se destinam, devendo ser inéditos ou e contribuírem não só para a ampliação de conhecimentos ou a Trabalho originais compreensão de certos problemas, mas também servirem de modelo ou Científico oferecer subsídios para outros trabalhos. Os trabalhos científicos, originais, devem permitir a outro pesquisador, baseado nas informações dadas: a) reproduzir as experiências e obter os resultados descritos, com a mesma precisão e sem ultrapassar a margem de erro indicada pelo autor; b) repetir as observações e julgar as conclusões do autor; c) verificar a exatidão das análises e deduções que permitiram ao autor chegarem às conclusões. Aponta-se como trabalhos científicos aqueles que apresentam, concomitantemente, uma das seguintes características: a) observações ou descrições originais de fenômenos naturais, espécies novas, estruturas e funções e variações, dados ecológicos etc.; b) trabalhos experimentais cobrindo os mais variados campos e representando uma das mais férteis modalidades de investigação, por submeter o fenômeno estudado às condições controladas da experiência; c) trabalhos teóricos de análise ou síntese de conhecimentos, levando à produção de conceitos novos por via indutiva ou dedutiva; apresentação de hipóteses, teorias etc. Os trabalhos científicos podem ser realizados com base em fontes de informações primárias ou secundárias e elaborados de várias formas, de acordo com a metodologia e com os objetivos propostos. A seguir apresentamos algumas normas atualizadas para elaboração de trabalhos científicos, retiradas da própria ABNT. NBR 14724 (AGO 2002) - Informação e Documentação - Trabalhos Acadêmicos-Apresentação
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Formato de Apresentação: Papel branco, formato A4 (21 cm x 29,7 cm) Margens: Superior 3 cm; Inferior 2 cm; Esquerda 3 cm; Direita 2 cm Espacejamento: Espaço duplo entre linhas Tipo de Fonte: Arial ou Times New Roman Tamanho da Fonte: 12 para o texto e tamanho menor para citações mais de três linhas, notas de rodapé, paginação e legenda das ilustrações e tabelas. Siglas: Ao aparecer pela 1ª vez no texto: a forma completa do nome precede a sigla, que deverá estar entre parênteses. Paginação: Borda direita da folha: 2 cm x 2 cm Estrutura da Capa: - Nome da instituição (opcional) - Nome do autor - Título - Subtítulo, se houver - Local (cidade) da instituição onde deve ser apresentado - Ano de depósito (da entrega)
Estrutura da Folha de Rosto: - Nome do autor - Título principal - Subtítulo, se houver - Natureza (identificação) - Nome do orientador e, se houver, co-orientador - Local (cidade) - Ano de depósito NBR 6023 (AGO 2002) - Informação e Documentação - Referências Apresentação
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Referências Bibliográficas: Devem seguir a norma NBR-6023 da ABNT vigente; Possuir todos os dados necessários à identificação da publicação original; São alinhadas somente à esquerda, separadas entre si por espaço duplo; Devem ser organizadas em ordem alfabética (pelo último sobrenome da autoria); O título da obra deve sempre estar destacado e o recurso tipográfico para tal destaque é: itálico, negrito ou sublinhado. O padrão adotado deve ser uniforme; Podem aparecer em: rodapé, fim do texto ou capítulo, lista de referências ou ainda antecedendo resumos, resenhas ou recensões.
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Autoria: Norma geral Sobrenomes compostos Sobrenomes de parentesco Sobrenome com partículas Até três autores Mais de três autores Sem autor Entidades coletivas
SOBRENOME, Nome. SOBRENOME COMPOSTO, Nome. SOBRENOME NETO, FILHO, Nome. SOBRENOME, Nome de, da. SOBRENOME, Nome;SOBRENOME, Nome; SOBRENOME, Nome. SOBRENOME, Nome et al. A entrada deve ser feita pelo título. NOME de associações, institutos e entidades.
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Livro: SOBRENOME, Nome. Nome do livro. Edição. Local: Editora, Ano. XX p. Ex.: GOMES, Antônio Marcos. Novela e sociedade no Brasil. Petrópolis, RJ: Vozes, 1998. 123 p.
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Capítulo de livro: Quando o autor do capítulo não for o autor do livro: SOBRENOME, Nome. Título do capítulo. In: SOBRENOME, Nome (Org.). Nome do livro. Local: Editora, Ano. p. XX-XX. Ex.: ROMANO, Giovanni. Imagens da juventude na era moderna. In: LEVI, G.; SCHIMIDT, J. (Org.). História dos jovens 2: a época contemporânea. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. p. 7-16. Quando o autor do capítulo for o mesmo autor do livro: SOBRENOME, Nome. Título do capítulo. In: ______. Nome do livro. Local: Editora, Ano. p. XX-XX.
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Ex.: SANTOS, F.R. dos. A colonização da terra dos Tucujús. In: ______. História do Amapá. 2. ed. Macapá: Valcan, 1994. cap.3, p. 15-24. Metodologia do
Trabalho Científico
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Periódico como um todo (referência de toda a coleção): NOME DO PERIÓDICO. Local: Editora, datas de início e de encerramento da publicação, se houver. Ex.: BOLETIM GEOGRÁFICO. Rio de Janeiro: IBGE, 1943-1978.
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Partes de revista, boletim etc.: NOME DA PUBLICAÇÃO. Local: Editora, numeração do ano e/ou volume, numeração do fascículo, informações de períodos e datas de publicação. Ex.: DINHEIRO: revista semanal de negócios. São Paulo: Três, n. 48, 28 jun. 2000.
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Artigo ou matéria de revista, boletim etc.: SOBRENOME, Nome. Título do artigo ou matéria. Nome da revista, Local, volume e/ou ano, número, p. XX-XX, Mês/Ano. Ex.: GURGEL, C. Reforma do estado e segurança pública. Política e administração, Rio de Janeiro, v.3, n. 2, p. 15-21, set. 1997.
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Artigo e/ou matéria de jornal: SOBRENOME, Nome. Título do artigo. Nome do jornal, Local, Data. Seção, caderno ou parte do jornal, p.X. Ex.: NAVES, P. Lagos andinos dão banho de beleza. Folha de S. Paulo, São Paulo, 28 jun. 1999. Folha Turismo, caderno 8, p. 13.
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Material eletrônico: AUTOR. Título da obra. Disponível em: . Acesso em: 00 mês. 0000. Ex.: ALVES, Castro. Navio negreiro. Disponível em: . Acesso em: 10 nov. 2002.
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Imagem em movimento: TÍTULO de filme, videocassete ou DVD. Nome o diretor e/ou produtor. Local: Produtora, data. Ex.OS PERIGOS do uso de tóxicos. Produção de Jorge Ramos de Andrade. São Paulo: CEVARI, 1983.
NBR 10520 (AGO 2002) - Informação e documentação - Citações em Documentos - Apresentação
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Citações no texto, para indicar: Supressões: [...] Interpolações, acréscimos ou comentários: [ ] Ênfase ou destaque: grifo ou negrito ou itálico
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Citação direta no texto (até 3 linhas) Ex.: Para Piaget (2001, p. 26) “a escola deve atender as necessidades básicas do aluno[...]”.
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Citação direta no texto (mais de 3 linhas – recuo de 4 cm à margem esquerda) Ex.: Para Piaget (2001, p. 26), a escola deve atender as necessidades básicas do aluno, levando em consideração seu conhecimento prévio sobre a realidade, seu processo de socialização e seus respectivos estágios de desenvolvimento.
Ex.: Sendo assim, a escola deve atender as necessidades básicas do aluno, levando em consideração seu conhecimento prévio sobre a realidade, seu processo de socialização [...] (PIAGET, 2001, p. 26).
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Citação indireta no texto A escola deve perceber o educando e suas necessidades (PIAGET, 2001).
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Grifo em citação Ex.: Sendo assim, a escola deve atender as necessidades básicas do aluno, levando em consideração seu conhecimento prévio sobre a realidade, seu processo de socialização [...] (PIAGET, 2001, p. 26, grifo nosso). Ex.: Sendo assim, a escola deve atender as necessidades básicas do aluno, levando em consideração seu conhecimento prévio sobre a realidade, seu processo de socialização [...] (PIAGET, 2001, p. 26, grifo do autor).
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Citação de citação Ex.: Para Piaget (2001 apud ZABALA, 2002, p. 57), a escola deve atender as necessidades básicas do aluno, levando em consideração seu conhecimento prévio sobre a realidade, seu processo de socialização [...].
Citar no texto o nome do autor. Ex.: Piaget (2001), considera que a escola deve atender as necessidades do educando.
Resenha, Artigo Científico e Memorial Resenha A Resenha é a apresentação do conteúdo de uma obra. Consiste na leitura, no resumo, na crítica e na formulação de um conceito de valor do livro feitos pelo resenhista. É um tipo de trabalho que exige conhecimento do assunto, para estabelecer comparação com outras obras da mesma área e maturidade intelectual para fazer avaliação e emitir juízo de valor. (ANDRADE, 1995); Tipo de resumo crítico, contudo mais abrangente: permite comentários e opiniões, inclui julgamentos de valor, comparações com outras obras da mesma área e avaliação da relevância da obra com relação às outras do mesmo gênero. (ANDRADE, 1995).
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Elementos de uma resenha Reais: reuniões e acontecimentos em gerais; Textuais: livros, peças teatrais, texto, filme e etc.
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Tipos de Resenha Descritiva: Trabalha com a estrutura da obra, resumo da obra, a perspectiva teórica, o método adotado, etc.
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Crítica: Possui todos os elementos da descritiva, além da apreciação (comentários e julgamentos). Metodologia do
Trabalho Científico
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Aspectos Gerais da Resenha Desenvolve a capacidade de síntese, interpretação e crítica; Utiliza-se a linguagem na terceira pessoa; Conduz o leitor para informações puras; Resenha é diferente de Resumo. Ela admite juízo valorativo, comentário, crítica, enquanto o resumo, pode abolir tais elementos.
Estrutura da Resenha Crítica
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Referência Bibliográfica: Autor. Título da obra. Local da edição, Editora, Data. Número de páginas.
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Resumo da obra (digesto): Resumo das principais idéias expressas pelo autor; Descrição sintetizada do conteúdo dos capítulos ou partes em que se divide a obra.
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Conclusões da autoria: Indica os resultados obtidos pelo autor Quais as conclusões que o autor chegou?
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Crítica do resenhista (apreciação da obra): É o momento de posição pessoal do resenhista: Qual a contribuição da obra? Como é o estilo do autor: conciso, objetivo, simples? Idealista? Realista?
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Indicações do resenhista: A quem é dirigida a resenha (estudantes, especialistas, leitores em gerais) Fornece subsídios para o estudo de que disciplina(s)? Pode ser adotado(a) em que tipo de curso? fidelidade ao pensamento do autor.
Credenciais do autor: Informações sobre o autor, nacionalidade, formação universitária, títulos, cargos exercidos e obras publicadas.
Requisitos Básicos de uma Resenha a) conhecimento completo da obra; b) competência na matéria; c) capacidade de juízo de valor; d) independência de juízo; e) correção e urbanidade; f) fidelidade ao pensamento do autor.
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Artigo Científico A arte de escrever artigos científicos constrói-se no dia-a-dia, através da experiência e da cultura. Para se fazer um bom artigo científico deve-se fazer uma descrição seqüencial dos componentes típicos de um documento desta natureza. O artigo científico comunica idéias e informações de maneira clara e concisa. Sua característica principal é ser publicado em periódicos científicos.
Quanto à análise de conteúdo, os artigos estão divididos nos seguintes tipos: ARTIGO DE DIVULGAÇÃO: É o relato analítico de informações atualizadas sobre um tema de interesse para determinada especialidade. Não requer necessariamente uma revisão de literatura retrospectiva. ARTIGO DE REVISÃO: São conhecidos como “reviews”. Os artigos de revisão com enfoque histórico devem obedecer a uma ordem cronológica de pensamento.
A estrutura e a apresentação de um artigo científico se modificam de uma revista para outra. A ABNT apresenta na NBR 6022 (antiga NB 61) algumas condições exigíveis para orientar colaboradores e editoras de publicações periódicas, no sentido de uma apresentação racional e uniforme dos artigos nela contidos. Considera-se como didático para a elaboração de um artigo científico a estrutura que segue abaixo: Título (Title). Descreve de forma lógica, rigorosa, breve e gramaticalmente correta a essência do artigo. Por vezes opta-se por títulos com duas partes. Autor e filiação (Author and affiliation). Indicação do nome do autor (ou autores) e da instituição a que pertence(m). É freqüente indicar também o endereço de correio electrónico. Resumo (Abstract). Não deve exceder 200 palavras e deve especificar de forma concisa, mas não telegraficamente. O resumo não é uma introdução ao artigo, mas sim um descrição sumária da sua totalidade, na qual se procura realçar os aspectos mencionados. Não se devem citar referências bibliográficas no resumo. Convém lembrar que um resumo pode vir a ser posteriormente reproduzido em publicações que listam resumos (de grande utilidade para o leitor decidir se está ou não interessado em obter e ler a totalidade do artigo). Palavras-chave (Keywords). Por vezes é pedido que um artigo seja acompanhado por um conjunto de palavras-chave que caracterizem o domínio ou domínios em que ele se inscreve. Estas palavras são normalmente utilizadas para permitir que o artigo seja posteriormente encontrado em sistemas eletrônicos de pesquisa. Por isso, devem escolherse palavras-chave tão gerais e comuns quanto possível. Introdução (Introduction). A introdução fornece ao leitor o enquadramento para a leitura do artigo, e deve esclarecer a natureza do problema cuja resolução se descreve no artigo. Corpo do artigo (Body of the paper). Constitui a descrição, ao longo de vários parágrafos, de todos os pontos relevantes do trabalho realizado.
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Conclusões (Conclusions). Devem ser enunciadas claramente, e deverão cobrir o que é que o trabalho descrito no artigo conseguiu e qual a sua relevância, e as vantagens e limitações das propostas que o artigo apresenta. Metodologia do Agradecimentos (Acknowledgments). Um artigo científico resulta com do empenho de muita gente, para além dos que o assinam como Trabalho freqüência autores – elementos da equipe e amigos que contribuíram, de uma forma ou Científico outra, para a sua existência e qualidade. É neste ponto de um artigo científico (entre as “Conclusões” e as “Referências”) que se colocam os “Agradecimentos”. Referências (References). Trata-se de uma listagem dos livros, artigos ou outros elementos bibliográficos que foram referenciados ao longo do artigo.
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Para saber mais acesse:
http://www.hub.unb.br/pesquisa/relatos/como-escrever-artigo_031104.htm
Memorial Trata-se de uma autobiografia que descreve, analisa e critica acontecimentos sobre a trajetória acadêmico-profissional e intelectual do autor, avaliando cada etapa da sua experiência. Deve incluir todas as fases do autor, enfatizando-se as fases mais significativas e importantes. Deve-se destacar as experiências mais relevantes, fazendose um comparativo entre a vida profissional e a vida pessoal, evidenciando-se as influências de uma para com a outra, e vice-versa. O memorial deve ser iniciado com uma breve introdução, evidenciando a finalidade da elaboração do mesmo. Deve-se incluir em sua estrutura informações significativas como formação do autor, atividades tecno-científicas e artístico-culturais importantes, produções científicas, dentre outras. O texto do memorial deve ser escrito na primeira pessoa do singular.
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Estrutura de um Memorial Capa e folha de rosto – deve conter nome, título (memorial), local, ano; Sumário – deve vir logo depois da folha de rosto; Corpo do memorial – apresenta-se de forma narrativa. Deve-se inserir comentários sobre as diversas etapas da vida pessoal, acadêmica e profissional do autor. As folhas devem vir numeradas com algarismos arábicos.
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Apresentação Gráfica de um Memorial (formatação) Formato do papel – recomenda-se a utilização de papel A4 (210x297mm); Digitação – margens: superior, inferior e esquerda = 3cm e inferior = 2cm; Entrelinhamento do texto – 1,5 linha; Fonte e tamanho da letra – preferencialmente Times New Roman ou Arial 12; Paginação – Numerar as páginas com algarismos romanos minúsculos no centro inferior, sendo que a capa e a folha de rosto não são contadas e não
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recebem número. As folhas textuais são numeradas com algarismos arábicos, no canto superior direito, ou centralizados ao pé da folha. A primeira folha de texto é contada mas não numerada.
Seminário, Painel e Mesa Redonda Seminário O seminário é uma técnica de estudo que inclui pesquisa, discussão e debate, constituindo-se numa das técnicas mais eficientes de aprendizagem, quando convenientemente elaborado e apresentado. A pesquisa, especialmente a bibliográfica, é o primeiro passo, requisito indispensável na elaboração do Seminário. A pesquisa leva à discussão do material pesquisado, mas, para que os objetivos sejam alcançados, não se pode dispensar o debate. Objetivos dos Seminários As finalidades gerais da técnica de Seminário basicamente são duas: aprofundar o estudo a respeito de determinado assunto; desenvolver a capacidade de pesquisa, de análise sistemática dos fatos, através do raciocínio, da reflexão, preparando o aluno para a elaboração clara e objetiva dos trabalhos científicos. O seminário possibilita ensinar pesquisando; revelar tendências e aptidões para a pesquisa; ensinar a utilização de instrumentos lógicos de trabalho intelectual; ensinar a coletar material para análise e interpretação e crítica de trabalhos mais avançados; ensinar a trabalhar em grupo e desenvolver o sentimento de comunidade intelectual entre os educandos e entre estes e os professores; ensinar a sistematizar fatos observados e a refletir sobre eles; levar a assumir atitude de honestidade e exatidão nos trabalhos efetuados; dominar a metodologia científica geral. Estrutura de um Seminário Coordenador - geralmente o professor, pode eventualmente orientar as pesquisas. Organizador - figura que surge apenas quando o seminário é grupal, e as tarefas são divididas entre seus integrantes. Relator ou Relatores - é aquele que expõe os resultados dos estudos; pode ser um só elemento, vários ou todos do grupo, cada um apresentando uma parte. Comentador - pode ser um só estudante ou um grupo diferente do responsável pelo seminário. Só aparece quando se deseja um aprofundamento crítico dos trabalhos e é escolhido pelo professor. Deve estudar com antecedência o tema a ser apresentado com o intuito de fazer críticas adequadas à exposição, antes da discussão e debate dos demais participantes da classe. Debatedores - correspondem a todos os alunos da classe. Depois da exposição e da crítica do comentador (se houver), devem participar fazendo perguntas, pedindo esclarecimentos, colocando objeções, reforçando argumentos ou dando alguma contribuição.
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Etapas de um seminário: o coordenador propõe determinado estudo, indica a bibliografia mínima, forma os grupos de seminário, escolhe o comentador e o secretário; 1
Metodologia do
Trabalho Científico
formado o grupo, este escolhe o organizador, decide se haverá um ou mais relatores, divide as tarefas, inicia o trabalho de pesquisa, de procura de informações, através de bibliografia, documentos, entrevistas com especialistas, observações etc. Depois reúne-se diversas vezes, sob a coordenação do organizador, para discutir o material coletado, confrontar pontos de vista, formular conclusões e organizar os dados disponíveis. 2
Lembrando que o Seminário não deve ser um mero resumo ou síntese, mas expressar o que foi aprendido, aquilo que se presta à aprendizagem ou se apresenta como apontamento didático para a consulta. Sua estrutura abrange: Introdução - breve exposição do tema central, objetivos e tópicos a serem apresentados. Deve-se primar pela objetividade e concisão; Conteúdo - apresentação das partes numa seqüência organizada, envolvendo explicação, discussão e demonstração. Não se deter em pormenores, a linguagem deve ser objetiva e concisa; Conclusão - síntese de toda reflexão, com as contribuições do grupo para o tema. Interpretação pessoal através de linguagem objetiva e concisa;
Normas para Apresentação de um Seminário A apresentação escrita de um Seminário segue normas gerais da apresentação dos trabalhos de graduação. Quanto à apresentação oral, compreende os seguintes aspectos: a) Domínio do assunto (por todos os componentes do grupo); b) Clareza nos conceitos expostos; c) Seleção qualitativa e quantitativa do material coletado; d) Adequação da extensão do relato ao tempo disponível; e) Encadeamento das partes (seqüência discursiva).
Bibliografia - incluindo todas as obras e documentos utilizados, além de especificar as qualidades dos especialistas consultados. Quanto ao material de ilustração, comumente, constitui-se de cartazes, retroprojeções e projeções de slides. Os dizeres ou legendas do material, devem estar em cor contrastante a cor do papel utilizado, observando o tamanho que deverá permitir a leitura do que foi escrito até pelos alunos sentados na última fila de carteiras, no fundo da sala. Quando se tratar de imagens ou desenhos, os critérios de tamanho e inteligibilidade da ilustração devem ser igualmente observados, devendo assim evitar a apresentação de vários desenhos pequenos acumulados na mesma folha.
Painel O Painel é uma reunião de várias alunos interessados que vão expor suas idéias sobre determinado assunto, diante dos demais colegas, de maneira informal e dialogada, em tom de conversa, de troca de idéias, mesmo que exponham posições diversas e apreciem perspectivas diferentes. Tem por objetivo proporcionar o conhecimento mais aprofundado de um tema, através da discussão informal que implica a participação mais ativa dos presentes, que não se limitam a ouvir as exposições. A discussão do assunto entre os expositores, diante do auditório, induz o ouvinte à participação espontânea, por meio de perguntas e respostas
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dirigidas aos componentes do painel. O tom da conversa informal não dispensa a participação de um coordenador, que elabora um roteiro, de acordo com os componentes, cujo número vai de três a seis. Sua duração mais adequada é de 50 a 90 minutos, a depender do número de participantes. O Painel pode ser: a) de interrogação, onde cada u m d o s p a r t i c i pa n t e s b u s c a r á responder algumas questões básicas indicadas pelo professor consideradas centrais ao tema;
b) de debate, onde os participantes, além de expressar seu pensamento, questionaram o pensamento e sentimento dos demais, que preferencialmente devem ter posições diferentes.
Condução de um Painel Exige do coordenador, além do domínio do assunto, grande habilidade para produzir as discussões que não devem gerar polêmicas. As atribuições do coordenador são as seguintes: abrir a sessão e apresentar os componentes do painel; levar os componentes a apresentarem os esclarecimentos que os presentes esperam ouvir; propiciar as condições materiais necessários ao desenvolvimento dos trabalhos, inclusive os solicitados pelos convidados; distribuir os painelistas à mesa de forma que fiquem em posição oposta os que tiveram opiniões opostas; intervir na discussão, quando necessário, a fim de: - pedir esclarecimentos de pontos que deixaram dúvidas; - encerrar assuntos e iniciar outros, não permitindo que se voltem a discutir - assuntos já discutidos; - evitar a dispersão, comprometendo a obtenção dos resultados pretendidos; mesmo sem expor seu ponto de vista, propor questões para discussão entre os componentes; levar a platéia à participação organizada, através de perguntas pertinentes; fazer uma síntese dos trabalhos; agradecer aos componentes e encerrar a sessão.
Mesa Redonda Trata-se da apresentação de pontos de vistas ou análises diferentes ou mesmo divergentes, fundamentados sobre um tema específico, seguido de sessão de perguntas e debates. Envolve apresentação de pontos de vista sobre um mesmo tema. Cada mesa poderá ser composta por no mínimo, dois profissionais e no máximo seis, tendo em média um total de 2 horas e meia, sendo esse tempo dividido entre os que compõem a mesa.
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Estudo de Caso, Palestra e Conferência Estudo de Caso A técnica do estudo de caso no processo de aprendizagem parte do Metodologia do pressuposto de que aprendizagem é fundamentalmente preparar-se para Trabalho situações ou problemas não habituais, fazendo uso para tanto do Científico resolver pensamento reflexivo na busca de uma solução satisfatória. Pode ser aplicado de modo individual, acentuando-se os traços de solução do problema e decisão pessoal, quando grupal, a solução de caso, requer que cada participante do grupo tenha clara compreensão da questão, além de conhecimentos e argumentos que permitam convencer os demais membros, na busca de uma solução comum ou aceita por todos. Esta capacidade de convencimento deve ser desenvolvida, pois será fundamental na vida profissional. O estudo de caso estimula a tomada de decisão ou escolha, haja visto que, sempre haverá mais de uma solução adequada para um problema, e que cada indivíduo poderá propor uma das diferentes alternativas. Buscar, ainda assim, a unidade na ação. Quando aplicado em grupo, faz-se necessário a escolha de um coordenador que deverá volverse com a tarefa de contribuir para que o grupo efetivamente trabalhe de modo conjunto e articulado, buscando considerar a contribuição dos membros, de maneira que todos venham a contribuir com suas percepções e intuições, evitando que um membro venha a prevalecer sobre os demais participantes.
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Etapas Básicas do Estudo de Caso O Estudo de caso envolve algumas etapas básicas na solução do problema, que podem ser apontados como: Leitura cuidadosa do caso - o caso, habitualmente tem nexos com situações do cotidiano das pessoas, incluindo fatos e opiniões congruentes ou divergentes, que podem esconder ou distorcer fatos que realmente ocorreram; Identificação dos fatos - deve-se reunir os principais elementos contidos no caso, de modo sistematizado e por escrito, dos elementos objetivos, assim como dos elementos subjetivos, podendo já considerar as opiniões, sentimentos, intuições; Avaliação dos fatos - em função da relevância dos fatos reunidos, separe-os deixando de lado, aqueles que não tem importância para o caso. Por isso, importa indicar os fatos mais importante e os de menor importância, através de alguma indicação ou sinalização; Identificação do problema - parte mais delicada do caso, e que pressupõe a clara compreensão do caso e do elemento central do mesmo, o problema, além claro, dos seus possíveis desdobramentos; Identificação das alternativas de solução para o problema - não se preocupe em encontrar de imediato uma solução, mas, nesse momento, diversas soluções sempre embasados em fatos, relatando todas as alternativas e seus possíveis desdobramentos no presente e no futuro;
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Escolha da alternativa mais adequada - pressupõe a escolha de uma das alternativas que melhor se aplique a situação, verificando se é claro para você as razões de tal escolha, que o nível de argumentos objetivos, como de elementos subjetivos, a exemplo de sentimentos, intuições; Implementação - aponte, com base nos elementos envolvidos, uma proposta para implementação da alternativa escolhida; Respeite suas percepções e sentimentos - não deixe-se levar por preconceitos, juízos de valor, ousando construir algo baseado no seu sentimento para com o caso trabalhado.
Palestra A palestra é uma atividade pedagógica centrada em exposição oral acerca de um tema ou assunto. Objetiva suscitar, motivar, esclarecer e divulgar, em linhas gerais, a experiência e o trabalho desenvolvido pelo palestrante acerca de um dado tema ou assunto. A palestra caracterizase enquanto atividade onde o palestrante desenvolve de modo metódico e estruturado o tema ou assunto, sem aprofundar-se, ainda que de modo esclarecedor e contribuitivo para a sua audiência, evidenciando a relevância de tais estudos e/ou experiências. A duração considerada adequada para uma palestra e esclarecimento de possíveis indagações é de 1:30 min (uma hora e trinta minutos), que poderão ser dirigidas durante ou ao final da palestra, como melhor convier ao palestrante.
Conferência Conferência é uma exposição científica, oral, acerca de um determinado tema, realizada por especialista, de modo simples e direto, permitindo ao público compreender e assimilar melhor o que está sendo exposto. Ao término da conferência, o conferencista poderá facultar aos participantes a formulação de indagações sobre os pontos que desejam esclarecer. A duração considerada adequada para a conferência deve ser de 01h (uma hora), em razão de indagações dirigidas pela platéia ao conferencista. Considera-se 30min (trinta minutos) um tempo ideal para exposição, pois o alongar da mesma torna-a cansativa, com perda de interesse.
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Atividades
Complementares
Metodologia do
Trabalho Científico
1.
Com base na técnica da atividade acadêmica Estudo de Caso análise e procure soluções para o problema que se propõe a seguir: O professor estagiário da disciplina matemática tem duas turmas para as quais ministra aulas. Ele utiliza o mesmo conteúdo e método nas duas turmas. Ao final do ano letivo, a maioria da turma ‘A’ foi aprovada e a maioria da turma ‘B’ foi reprovada. Os alunos fizeram movimento exigindo providências do professor titular para que averiguasse o caso. Você, sendo o professor titular, que atitudes tomaria?
2.
Elabore um texto de 10 (dez) linhas, fazendo uma análise crítica acerca do que está expresso no texto abaixo, deixando claro suas idéias acerca do assunto. “Pensar criticamente é um dever do homem. No entanto, para tal, é mister e imprescindível o desenvolvimento intelectual dele, para uma apreensão adequada do mundo e para que ele possa construir um conhecimento mais próximo da verdade, fundamentado na certeza dos fatos. Porém, conhecer a realidade adequadamente nem sempre é possível, quer seja pela falta de amadurecimento do pensamento, quer seja pelas elaborações inquestionáveis e exatas - protegido das comprovações, ou por enveredar por um discurso que busca as causas últimas das coisas fundamentado nas especulações”.
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A PESQUISA CIENTÍFICA E SUAS FASES Conceito, Finalidades e Requisitos da Pesquisa Científica Pode-se definir pesquisa como um processo formal e sistemático, controlado e crítico, que permite descobrir novos fatos ou dados, relações ou leis, em qualquer campo do conhecimento. A pesquisa é requerida quando não se dispõe de informações suficientes para responder ao problema, ou então quando a informação disponível se encontra em tal estado de desordem que não possa ser adequadamente relacionada ao problema. A pesquisa, portanto, é um procedimento formal, com método de pensamento reflexivo, que requer um tratamento científico e se constitui no caminho para conhecer a
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realidade ou para descobrir verdades parciais. O desenvolvimento de um projeto de pesquisa compreende seis passos: Seleção do tópico ou problema para a investigação; Definição e diferenciação do problema; Levantamento de hipóteses de trabalho; Coleta, sistematização e classificação dos dados; Análise e interpretação dos dados;
Relatório do resultado da pesquisa.
Linguagem Científica Há, de modo geral, uma tendência a descuidar-se da linguagem quando se redige um trabalho científico ou técnico: talvez sob a alegação de que não se trata de trabalho literário. Importa respeitar, ao menos, os seguintes aspectos fundamentais: correção gramatical, convém sempre solicitar a contribuição de um conhecedor da língua e da gramática para nos auxiliar; exposição clara, concisa, objetiva, condizente com a redação científica; cuidado em evitar parágrafos extensos, construir períodos com no máximo duas ou três linhas, bem como parágrafos com cinco linhas cheias, em média, e no máximo oito; preocupação em redigir com um estilo capaz de equilibrar a simplicidade com o movimento, evitando o colóquio excessivamente familiar e vulgar, os recursos retóricos;
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simplicidade do texto. Com palavras conhecidas de todos, é possível escrever de maneira original e criativa e produzir frases elegantes, variadas, fluentes e bem articuladas; Metodologia do
Trabalho Científico
linguagem direta, pois conduz mais facilmente o leitor à essência do texto, dispensando detalhes irrelevantes e indo diretamente ao que interessa, sem rodeios; precisão e rigor com o vocabulário técnico, sem cair no hermetismo;
impessoalidade, contribui grandemente para a objetividade da redação dos trabalhos científicos, devendo usar verbos nas formas que tendem à impessoalidade; não começar períodos ou parágrafos seguidos com a mesma palavra, nem usar repetidamente a mesma estrutura de frase; evitar longas citações e relatar o fato no menor número possível de palavras; recorrer aos termos técnicos somente quando absolutamente indispensáveis e nesse caso colocar o seu significado entre parênteses; evitar palavras e formas empoladas ou rebuscadas, que tentem transmitir ao leitor mera idéia de erudição; ser rigoroso na escolha das palavras do texto, desconfiando dos sinônimos perfeitos ou de termos que sirvam para todas as ocasiões; encadear o assunto de maneira suave e harmoniosa, evitando a criação de um texto onde os parágrafos se sucedem uns aos outros como compartimentos estanques, sem nenhuma fluência entre si.
Técnicas de Pesquisa Técnica é um conjunto de preceitos ou processos de que se serve uma ciência ou arte; é a habilidade para usar esses preceitos ou normas, a parte prática. Toda ciência utiliza inúmeras técnicas na obtenção de seus propósitos. As técnicas de pesquisa podem ser categorizadas em três grandes grupos: documentação indireta; documentação direta; e observação direta intensiva, a seguir delineadas. DOCUMENTAÇÃO INDIRETA: Toda pesquisa implica o levantamento de dados de variadas fontes, quaisquer que sejam os métodos ou técnicas empregadas. É a fase da pesquisa realizada com intuito de recolher informações prévias sobre o campo de interesse. Esse levantamento de dados, primeiro passo de qualquer pesquisa científica, é feito de duas maneiras: pesquisa documental (ou de fontes primárias) e pesquisa bibliográfica (ou de fontes secundárias). a) Pesquisa documental: a fonte de coleta de dados está restrita a documentos, escritos ou não, constituindo o que se denomina de fontes primárias. Estas podem ser feitas no momento em que o fato ou fenômeno ocorre, ou depois. b) Pesquisa bibliográfica: A pesquisa bibliográfica, ou de fontes secundárias, abrange toda bibliografia já tornada pública em relação ao tema de estudo, desde publicações avulsas, boletins, jornais, revistas, livros, monografias, teses etc., até meios de comunicação orais: rádio, gravações em fita magnética e audiovisuais: filme e televisão. Sua finalidade é colocar o pesquisador em contato direto com tudo aquilo que foi escrito sobre determinado assunto. Esses documentos permitem ao cientista o reforço paralelo na análise de suas pesquisas ou na manipulação de suas informações.
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DOCUMENTAÇÃO DIRETA: A documentação direta constitui-se, em geral, no levantamento de dados no próprio local onde os fenômenos ocorrem. Esses dados podem ser obtidos de duas maneiras: através da pesquisa de campo ou da pesquisa de laboratório. a) Pesquisa de campo: Pesquisa de campo é aquela utilizada com o objetivo de conseguir informações e/ou conhecimentos acerca de um problema, para o qual se procura uma resposta, ou de uma hipótese, que se queira comprovar, ou, ainda, descobrir novos fenômenos ou as relações entre eles. b) Pesquisa de laboratório: A pesquisa de laboratório é um procedimento de investigação mais difícil, porém mais exato. Ela descreve e analisa o que será ou ocorrerá em situações controladas. Exige instrumental específico, preciso, e ambientes adequados.
Níveis de Pesquisa Outro modo de delinear os diferentes tipos de pesquisa é considerar o nível de progresso decorrente da pesquisa, assim como do uso de conhecimentos já à disposição, da utilização dos mesmos, e da constituição desse conhecimento inovador. Pesquisa Bibliográfica: A pesquisa bibliográfica é desenvolvida a partir de material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos. Embora em quase todos os estudos seja exigido algum tipo de trabalho desta natureza, há pesquisas desenvolvidas exclusivamente a partir de fontes bibliográficas. As pesquisas sobre ideologias, bem como aquelas que se propõem à análise das diversas posições acerca de um problema, também costumam ser desenvolvidas quase exclusivamente a partir de fontes bibliográficas. Pesquisa Documental: A pesquisa documental assemelha-se muito à pesquisa bibliográfica. A diferença essencial entre ambas está na natureza das fontes. Enquanto a pesquisa bibliográfica se utiliza fundamentalmente das contribuições dos diversos autores sobre determinado assunto, a pesquisa documental vale-se de materiais que não receberam ainda um tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados de acordo com os objetos da pesquisa. O desenvolvimento da pesquisa documental segue os mesmos passos da pesquisa bibliográfica, cabendo considerar que, enquanto na pesquisa bibliográfica as fontes são constituídas sobretudo por material impresso localizado nas bibliotecas, na pesquisa documental, as fontes são muito mais diversificadas e dispersas. Há de um lado, os documentos “de primeira mão”, que não receberam nenhum tratamento analítico, e os “de segunda mão”, que de alguma maneira já foram analisados.
Pesquisa Experimental: De modo geral, o experimento representa o melhor exemplo de pesquisa científica. Essencialmente, a pesquisa experimental consiste em determinar um objeto de estudo, selecionar as variáveis que seriam capazes de influenciá-lo, definir as formas de controle e de observação dos efeitos que a variável produz no objeto.
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Metodologia do
Trabalho Científico
Estudo de Caso: O estudo de caso é caracterizado pelo estudo profundo e exaustivo de um ou de poucos objetos, de maneira que permita o sem amplo e detalhado conhecimento, tarefa praticamente impossível mediante os outros delineamentos considerados. A maior utilidade do estudo de caso é verificada nas pesquisas exploratórias. Por sua flexibilidade, é recomendável nas fases iniciais de uma investigação sobre temas complexos, para a construção de hipóteses ou reformulação do problema. Também se aplica com pertinência nas situações em que o objeto de estudo já é suficientemente conhecido a ponto de ser enquadrado em determinado tipo ideal. Por exemplo, se as informações disponíveis fossem suficientes para afirmar que existem três tipos diferentes de comunidades de base e houvesse interesse em classificar uma comunidade específica em algum desses tipos, então o estudo de caso seria o delineamento mais adequado.
Pesquisa-Ação: A pesquisa-ação tem sido objeto de bastante controvérsia, em virtude de exigir o envolvimento ativo do pesquisador e a ação por parte das pessoas ou grupos envolvidos no problema, a pesquisa-ação tende a ser vista em certos meios como desprovida da objetividade que deve caracterizar os procedimentos científicos. A despeito, porém, destas críticas, vem sendo reconhecida como muito útil, sobretudo por pesquisadores identificados por ideologias “reformistas” e “participativas”.
Pesquisa Participante: A pesquisa participante, assim como a pesquisa-ação, caracteriza-se pela interação entre pesquisadores e membros das situações investigadas. Há autores que empregam as duas expressões como sinônimas. Todavia, a pesquisa-ação, geralmente supõe uma forma de ação planejada, de caráter social, educacional, técnico ou outro. A pesquisa participante, por sua vez, envolve a distinção entre ciência popular e ciência dominante. Esta última tende a ser vista como uma atividade que privilegia a manutenção do sistema vigente e a primeira como o próprio conhecimento derivado do senso comum, que permitiu ao homem criar, trabalhar e interpretar a realidade sobretudo a partir dos recursos que a natureza lhe oferece.
Tipos de Pesquisa A pesquisa é denominada de pura, quando busca o progresso da ciência, e procura desenvolver os conhecimentos científicos sem a preocupação direta com suas aplicações e conseqüências práticas. Seu desenvolvimento tende a ser bastante formalizado e objetiva à generalização, com vistas na construção de teorias e leis. A pesquisa aplicada, por sua vez, apresenta muitos pontos de contato com a pesquisa pura, pois depende de suas descobertas e se enriquece com o seu desenvolvimento; todavia, tem como característica fundamental o interesse na aplicação, utilização e conseqüências práticas dos conhecimentos. Sua preocupação está menos voltada para o desenvolvimento de teorias de valor universal que para a aplicação imediata
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numa realidade circunstancial. De modo geral, é este o tipo de pesquisa a que mais se dedicam os psicólogos, sociólogos, assistentes sociais e outros pesquisadores sociais. As pesquisas podem ainda ser classificadas, segundo diferentes categorias. A classificação mais adotada, na atualidade, classifica as pesquisas em três tipos: estudos exploratórios, estudos descritivos e estudos que verificam hipótese causais.
Pesquisas Exploratórias: Têm como principal finalidade desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e idéias, com vistas na formulação de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores. De todos os tipos de pesquisa, estas são as que apresentam menor rigidez no planejamento. Habitualmente envolvem levantamento bibliográfico e documental, entrevistas não padronizadas e estudos de caso. Procedimentos de amostragem e técnicas quantitativas de coleta de dados não são costumeiramente aplicados nestas pesquisas. São desenvolvidas, tais pesquisas, com o objetivo de proporcionar visão geral, de tipo aproximativo, acerca de determinado fato. Este tipo de pesquisa é realizado especialmente quando o tema escolhido é pouco explorado e torna-se difícil sobre ele formular hipóteses precisas e operacionalizáveis.
Pesquisas Descritivas: Têm como objetivo primordial a descrição das características de determinada população ou fenômeno ou o estabelecimento de relações entre variáveis. São inúmeros os estudos que podem ser classificados sob este título e uma de suas características mais significativas está na utilização de técnicas padronizadas de coleta de dados. Dentre as pesquisas descritivas salientam-se aquelas que têm por objetivo estudar as características de um grupo: sua distribuição por idade, sexo, procedência, nível de escolaridade, estado de saúde etc. Pesquisas que se propõem estudar o nível de atendimento dos órgãos públicos de uma comunidade, as condições de habitação de seus habitantes etc. Algumas pesquisas descritivas vão além da simples identificação da existência de relações entre variáveis, pretendendo determinar a natureza dessa relação. Neste caso, tem-se uma pesquisa descritiva que se aproxima da explicativa.
Pesquisas Explicativas: Têm como preocupação central identificar os fatores que determinam ou que contribuem para a ocorrência dos fenômenos. Este é o tipo de pesquisa que mais aprofunda o conhecimento da realidade, porque explica a razão, o porquê das coisas. Por isso mesmo é o tipo mais complexo e delicado, já que o risco de cometer erros aumenta consideravelmente. Pode-se dizer que o conhecimento científico está assentado nos resultados oferecidos pelos estudos explicativos. Isto não significa, porém, que as pesquisas exploratórias e descritivas tenham menos valor, porque quase sempre constituem etapa prévia indispensável para que se possam obter explicações científicas. Uma pesquisa explicativa pode ser a continuação de outra descritiva, posto que a identificação dos fatores que determinam um fenômeno exige que este esteja suficientemente descrito e
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Metodologia do
Trabalho Científico
detalhado. As pesquisas explicativas nas ciências naturais valem-se quase que exclusivamente do método experimental. Nas ciências sociais, em virtude das dificuldades já comentadas, recorre-se a outros métodos, sobretudo ao observacional. Nem sempre se torna possível a realização de pesquisas rigidamente explicativas em ciências sociais, mas em algumas áreas, sobretudo da Psicologia, as pesquisa revestem-se de elevado grau de controle, chegando mesmo a ser designadas “quase-experimentais”.
Pesquisa Quantitativa Adequada quando se deseja conhecer a extensão (estatisticamente falando) do objeto de estudo, do ponto de vista do público pesquisado. Aplica-se nos casos em que se busca identificar o grau de conhecimento, as opiniões, impressões, seus hábitos, comportamentos, seja em relação a um produto, sua comunicação, serviço ou instituição. Ou seja, o método quantitativo oferece informações de natureza mais objetiva e aparente. Seus resultados podem refletir as ocorrências do mercado como um todo ou de seus segmentos, de acordo com a amostra com a qual se trabalha. O instrumento de coleta de dados mais utilizado é o questionário, que pode conter questões fechadas (alternativas pré-definidas) e/ou abertas (sem alternativas e com resposta livre). Técnicas Utilizadas na Pesquisa Quantitativa A lgumas técnicas de abordagem utilizadas são: Face à face: Entrevistas realizadas pessoalmente junto ao entrevistado. Estas entrevistas, dependendo do objetivo da pesquisa, podem ser realizadas no domicílio, no local de trabalho, em pontos de fluxo (abordagem de indivíduos em trânsito) ou em local pré-definido, preparado para realização de entrevistas com indivíduos recrutados previamente. Por telefone: Entrevistas realizadas via telefone, assistenciadas por um questionário eletrônico formatado para receber as informações diretamente no sistema de processamento. Esta técnica garante um controle de qualidade ainda maior que as demais técnicas de abordagem, pois além de permitir o acompanhamento simultâneo das entrevistas (através de escuta programada) é possível também realizar uma crítica eletrônica em tempo real, evitando inconsistências de aplicação do questionário. Outras vantagens asseguradas são o prazo e o custo que normalmente tendem a ser menores. Pela Internet: Entrevistas realizadas junto a um público específico que comprovadamente tenha acesso a Internet. Esta técnica permite agilidade na fase de coleta e processamento de dados, além de garantir ao entrevistado total impessoalidade no registro das informações. Auto-Preenchimento: Até pouco tempo, a única maneira utilizada era o questionário impresso, enviado para um grande número de pessoas (em virtude do baixo índice de retorno de questionários preenchidos) de um determinado segmento. Com os recursos tecnológicos, este método passou a ser realizado também, através de palm e internet. Arrolamento: Esta técnica na realidade é um levantamento ou contagem de eventos, realizado através da observação e registro de informações de transeuntes, veículos ou equipamentos urbanos, seja de caráter público, empresarial ou domiciliar. Normalmente usa-se esta técnica quando queremos saber, por A metodologia quantitativa, de modo geral, é a mais utilizada em pesquisa de mercado e opinião. Esta metodologia permite mensurar opiniões, reações, sensações, hábitos e atitudes etc., de um universo (público-alvo) através de uma amostra que o represente de forma estatisticamente comprovada. As amostras podem ser aleatórias ou por cotas (extratos pré-definidos de sexo, idade, classe social, região etc). O método quantitativo orienta para a utilização de questionários estruturados predominantemente elaborados com questões fechadas (lista de respostas pré-codificadas). Em toda pesquisa quantitativa, sem exceção, é necessário calcular a margem de erro para o grau de confiança que se pretende, podendo, assim, tomar decisões com segurança. A pesquisa quantitativa é realizada a partir de entrevistas individuais, apoiadas por um questionário convencional (impresso) ou eletrônico (Computador ou Pocket PC). As entrevistas são conduzidas por um entrevistador ou através de auto-preenchimento.
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exemplo, qual o número diário de frequentadores de um shopping center, ou qual o número de consumidoras que foram atraídas por uma promoção em um supermercado, ou quantos supermercados, farmácias, postos de gasolina, etc. Existem em uma determinada região geográfica. O instrumento de coleta pode ser através de planilha de preenchimento linear, gravador, Palm (coletor de dados) ou um contador mecânico utilizado especialmente para este fim.
Na pesquisa quantitativa, a fim de comprovar as hipóteses, os recursos de estatística nos dirá se os resultados obtidos são significativos ou mero fruto do acaso. A Pesquisa Quantitativa é baseada em rígidos critérios estatísticos, que servem de parâmetro para definição do universo a ser abordado pela pesquisa. Como o nome já diz, o método quantitativo é útil para o dimensionamento de mercados, levantamento de preferências por produtos e serviços de parcelas da população, opiniões sobre temas políticos, econômicos, sociais, dentre outros aspectos. Os passos para o desenvolvimento e aplicação do método quantitativo tem início com a definição dos objetivos que o cliente pretende alcançar. Em seguida faz-se o levantamento amostral do universo, ou seja, o número de entrevistas a serem realizadas; elaboração aplicação de pré-teste para validação do questionário e, posteriormente, a pesquisa em campo; apuração, cruzamento e tabulação dos dados; e, por fim, elaboração de relatórios para análise estratégica.
Pesquisa Qualitativa A pesquisa qualitativa é uma designação que abriga correntes de pesquisa muito diferentes. Em síntese, essas correntes se fundamentam em alguns pressupostos contrários ao modelo Aspectos da experimental e adotam métodos e técnicas de pesquisa Pesquisa Qualitativa diferentes dos estudos a) a delimitação e formulação do problema - o problema, na pesquisa experimentais. Os qualitativa, não é uma definição apriorística, fruto de um distanciamento que o cientistas que partilham pesquisador se impõe para extrair as leis constantes que o explicam e cuja freqüência e regularidade pode-se comprovar pela observação direta e pela verificação da abordagem qualitativa experimental. O problema decorre, antes de tudo, de um processo indutivo que se em pesquisa se opõem, vai definindo e se delimitando na exploração dos contextos ecológico e social, onde se realiza a pesquisa; da observação reiterada e participante do objeto pesquisado, em geral, ao pressuposto e dos contatos duradouros com informantes que conhecem esse objeto e emitem experimental que juízos sobre ele. defende um padrão único b) o pesquisador - é parte fundamental da pesquisa qualitativa. Ele deve, de pesquisa para todas preliminarmente, despojar-se de preconceitos, predisposições para assumir uma atitude aberta a todas as manifestações que observa, sem adiantar explicações as ciências, calcado no nem conduzir-se pelas aparências imediatas, a fim de alcançar uma compreensão modelo de estudo das global dos fenômenos. O pesquisador não se transforma em mero relator passivo: ciências da natureza. sua imersão no cotidiano, a familiaridade com os acontecimentos diários e a percepção das concepções que embasam práticas e costumes supõem que os Estes cientistas se sujeitos da pesquisa têm representações, parciais e incompletas, mas construídas recusam a admitir que as com relativa coerência em relação à sua visão e à sua experiência; ciências humanas e c) os pesquisados - na pesquisa qualitativa, todas as pessoas que sociais devam-se participam da pesquisa são reconhecidas como sujeitos que elaboram conhecimentos e produzem práticas adequadas para intervir nos problemas que conduzir pelo paradigma identificam. Pressupõe-se, pois, que elas têm um conhecimento prático, de senso das ciências da natureza comum e representações relativamente elaboradas que formam uma concepção de vida e orientam as suas ações individuais; e devam legitimar seus conhecimentos por d) os dados - os dados não são coisas isoladas, acontecimentos fixos, captados em um instante de observação. Eles se dão em um contexto fluente de processos quantificáveis relações: são “fenômenos” que não se restringem às percepções sensíveis e que venham a se aparentes, mas se manifestam em uma complexidade de oposições, de revelações e de ocultamentos. Na pesquisa qualitativa todos os fenômenos são igualmente transformar, por técnicas importantes e preciosos: a constância das manifestações e sua ocasionalidade, a de mensuração, em leis e freqüência e a interrupção, a fala e o silêncio. explicações gerais.
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Um segundo marco que separa a pesquisa qualitativa dos estudos experimentais está na forma como apreende e legítima os conhecimentos. A abordagem qualitativa parte do fundamento de que há uma relação dinâmica entre Metodologia do o mundo real e o sujeito, uma interdependência viva entre o sujeito e o objeto, um indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito. O Trabalho vínculo não se reduz a um rol de dados isolados, conectados por uma Científico conhecimento teoria explicativa; o sujeito-observador é parte integrante do processo de conhecimento e interpreta os fenômenos, atribuindo-lhes um significado. O objeto não é um dado inerte e neutro; está possuído de significados e relações que sujeitos concretos criam em suas ações. Algumas pesquisas qualitativas não descartam a coleta de dados quantitativos, principalmente na etapa exploratória de campo ou nas etapas em que estes dados podem mostrar uma relação mais extensa entre fenômenos particulares. Técnicas de Pesquisa Qualitativa A pesquisa qualitativa privilegia algumas técnicas que coadjuvam a descoberta de fenômenos latentes, tais como a observação participante, pesquisa-ação e pesquisaintervenção, história ou relatos de vida, análise de conteúdo, entrevista não-diretiva, estudo de caso etc., que reúnem um corpus qualitativo de informações que, segundo Habermas, se baseia na racionalidade comunicacional. Observando a vida cotidiana em seu contexto ecológico, ouvindo as narrativas, lembranças e biografias, e analisando documentos, obtémse um volume qualitativo de dados originais e relevantes, não filtrados por conceitos operacionais, nem por índices quantitativos. A pesquisa qualitativa pressupõe que a utilização dessas técnicas não deve construir um modelo único e exclusivo. A pesquisa é uma criação que mobiliza a acuidade inventiva do pesquisador, sua habilidade artesanal e sua perspicácia para elaborar a metodologia adequada ao campo de pesquisa, aos problemas que ele enfrenta com as pessoas que participam da investigação. O pesquisador deverá, porém, expor e validar os meios e técnicas adotadas, demonstrando a cientificidade dos dados colhidos e dos conhecimentos produzidos. QUADRO COMPARATIVO DOS TIPOS DE PESQUISA
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PESQUISA QUALITATIVA
PESQUISA QUANTITATIVA
Questões abertas e exploratórias
Predomínio de questões fechadas
Amostra pequena
Amostra grande
Análise subjetiva e interpretativa
Análise estatística, a partir de informações rigorosas e científicas
Pesquisa exploratória
Pesquisa descritiva ou casual
Resultado da linha de conduta (opiniões, atitudes e expectativas)
Resultados quantificáveis condensados em tabelase gráficos
Caráter subjetivo
Caráter objetivo
Interpretação
Mensuração
Múltiplas realidades
Uma realidade
Sistema Organicista
Sistema Mecanicista
Raciocínio dialético e indutivo
Raciocínio lógico e dedutivo
Utiliza a comunicação e a observação (ex.: entrevista)
Utiliza instrumentos específicos (ex.: questionário)
Trabalha com particularidades
Trabalha com generalizações
Fases da Pesquisa Científica Escolha do Tema: Tema é o assunto que se deseja estudar e pesquisar. O trabalho de definir adequadamente um tema pode, inclusive, perdurar por toda a pesquisa. Nesse caso, deverá ser freqüentemente revisto. 1
Levantamento de Dados: Para obtenção de dados podem ser utilizados três procedimentos: pesquisa documental, pesquisa bibliográfica e contatos diretos. A pesquisa bibliográfica é um apanhado geral sobre os principais trabalhos já realizados, revestidos de importância, por serem capazes de fornecer dados atuais e relevantes relacionados com o tema. 2
Formulação do Problema: Problema é uma dificuldade, teórica ou prática, no conhecimento de alguma coisa de real importância, para a qual se deve encontrar uma solução. Definir um problema significa especificá-lo em detalhes precisos e exatos. Na formulação de um problema deve haver clareza, concisão e objetividade. 3
Definição dos Termos: O objetivo principal da definição dos termos é torná-los claros, compreensivos e objetivos e adequados. É importante definir todos os termos que possam dar margem a interpretações errôneas. O uso de termos apropriados, de definições corretas, contribui para a melhor compreensão da realidade observada. 4
Indicação de Variáveis: Ao se colocar o problema e a hipótese, deve ser feita também a indicação das variáveis dependentes e independentes. Elas devem ser definidas com clareza e objetividade e de forma operacional. 5
Delimitação da Pesquisa: Delimitar a pesquisa é estabelecer limites para a investigação. A pesquisa pode ser limitada em relação ao assunto – selecionando um tópico, a fim de impedir que se torne ou muito extenso ou muito complexo; a extensão – porque nem sempre se pode abranger todo o âmbito onde o fato se desenrola. 6
Seleção dos Métodos e Técnicas: Os métodos e as técnicas a serem empregados na pesquisa científica podem ser selecionados desde a proposição do problema, da formulação das hipóteses e da delimitação do universo ou da amostra. 7
Organização do Instrumental de Pesquisa: A elaboração ou organização dos instrumentos de investigação não é fácil, necessita de tempo, mas é uma etapa importante no planejamento da pesquisa. Em geral, as obras sobre pesquisa científica oferecem esboços práticos que servem de orientação na montagem dos formulários, questionários, roteiros de entrevistas, escalas de opinião ou de atitudes e outros aspectos, além de dar indicações sobre o tempo e o material necessários à realização de uma pesquisa. 8
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Projeto de Pesquisa Científica O projeto é uma das etapas componentes do processo de elaboração, execução e apresentação da pesquisa. Esta necessita ser planejada com Metodologia do extremo rigor, caso contrário o investigador, em determinada altura, encontrarperdido num emaranhado de dados colhidos, sem saber como dispor dos Trabalho se-á mesmos ou até desconhecendo seu significado e importância. Científico Em uma pesquisa, nada se faz ao acaso. Desde a escolha do tema, fixação dos objetivos, determinação da metodologia, coleta dos dados, sua análise e interpretação para a elaboração do relatório final, tudo é previsto no projeto de pesquisa. Este, portanto, deve responder às clássicas questões: o quê? porquê? para quê e para quem? onde? como, com quê, quanto e quando? quem? com quanto? Entretanto, antes de redigir um projeto de Pesquisa-Piloto ou Pré-Teste pesquisa, alguns passos devem ser dados. Em primeiro Uma vez terminado o projeto de lugar, exigem-se estudos preliminares que permitirão pesquisa definitivo, a tentação de iniciar verificar o estado da questão que se pretende imediatamente a pesquisa é muito grande. desenvolver sob o aspecto teórico e de outros estudos Todas as etapas foram previstas, as hipótese enunciadas, as variáveis e pesquisas já elaborados. Tal esforço não será identificadas, a metodologia desperdiçado, pois qualquer tema de pesquisa necessita minuciosamente determinada, incluindo as provas estatísticas a que serão de adequada integração na teoria existente e a análise submetidos os dados colhidos; portanto, do material já disponível será incluída no projeto sob o por que não começar incontinente a coleta de dados? título de “revisão da bibliografia”. A seguir, elaborar-se A aplicação da pesquisa-piloto um anteprojeto de pesquisa, cuja finalidade é a é um bom teste para os pesquisadores. Finalmente, o pré-teste permite também integração dos diferentes elementos em quadros a obtenção de uma estimativa sobre os teóricos e aspectos metodológicos adequados, futuros resultados, podendo, inclusive, alterar hipóteses, modificar variáveis e a permitindo também ampliar e especificar os quesitos do relação entre elas. Dessa forma, haverá projeto, a “definição dos termos”. Finalmente, prepara- maior segurança e precisão para a execução da pesquisa. se o projeto definitivo, mais detalhado e apresentando rigor e precisão metodológicos.
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Estrutura do Projeto de Pesquisa Capa: Constituída pelos seguintes elementos: - Nome da instituição (opcional); - Nome do autor; - Título (e subtítulo, se houver) - denominação do projeto; - Subtítulo, se houver; - Local (cidade) da institruição onde deve ser apresentado; - Ano de depósito (da entrega). Sumário: Relacionar nos itens e subitens que compõe o projeto, com o respectivo número da página, onde o mesmo pode ser encontrado. Apresentação: Composto por dois elementos chaves, Quem apresenta, que deverá efetuar um breve histórico e experiências desenvolvidas e realizadas pela Organização e pela Coordenação responsável, e O que apresenta, que também se composto por um breve histórico da atividade em questão e O que espera com tal apresentação. Objeto: Composto pela caracterização do O que é a atividade ou trabalho científico de maneira sucinta, óbvia e lúcida. Finalidade: Composto pelo termo Para que é tal trabalho científico, descritos no seu contexto geral e específico. - Objetivo Geral: - Objetivos Específicos:
Justificativa/fundamentos: Versa acerca do O por quê da existência da atividade proposta, evidenciando ainda os fundamentos, quer teóricos, quer práticos que o sustenta. Método: Versa acerca de como será realizado a atividade, o modo, a maneira. Recursos: Busca atender as indagações acerca de Com quem, com quanto e com que será realizado, desdobrando-se nos seguintes elementos: - Humanos; - Financeiros; - Técnicos (Conhecimento teórico/prático científico); - Materiais (de consumo e de uso permanente). Bibliografia: Relacionar as fontes consultadas, indicadas e/ou existentes afeita ao assunto desenvolvido no projeto em questão. Anexos: Relacionar e inserir os formulários citados no corpo do projeto e que serão utilizados no desenvolvimento das atividades propostas pelo mesmo. Capa de fundo: Contento a identificação e o contato do autor/realizador.
Relatório de Pesquisa e Monografia Ao iniciar a redação do relatório de um projeto de pesquisa, o pesquisador deve sentir-se gratificado por ter conseguido chegar ao término de um processo, que na maioria das vezes foi trabalhoso, ASPECTOS RELEVANTES DE cheio de dificuldades. Significa o ápice de um trabalho UM RELATÓRIO DE PESQUISA realizado, podendo representar o surgimento de novos Em um trabalho científico não se projetos de pesquisa, a partir de questionamentos não exige do relator qualidades artísticas e concluídos ou da descoberta de aspectos relevantes no literárias, características de romancistas e poetas, mas é imprescindível a estudo da problemática. comunicação fidedigna de um estudo, não A preocupação do relator será a de poder deixar se podendo jamais sujeitar-se ao estado de espírito individual. Deve-se para tanto registrado todo o caminho percorrido durante a pesquisa, observar alguns aspectos: especificando os elementos que possam ser importantes a) Uso adequado da linguagem e da para a análise posterior do estudo realizado. gramática, ou seja, uso preciso dos
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Estrutura do Relatório de Pesquisa No relatório de pesquisa, fazendo uso da metodologia, dá-se a sua divisão nas seguintes partes:
termos empregados no decorrer do relato, buscando refletir precisão e objetividade, devendo evitar indicativos subjetivos como “acho”, “penso que”, “julgo que” e adjetivações que obscureçam a objetividade dos dados referentes aos fatos ou à realidade estudada;
Introdução: Na introdução considerada como b) Assimilação e uso correto do introdutória ao corpo geral do relatório, o pesquisador vocabulário técnico-científico e estilo, ou seja, o tipo de leitor e a natureza da descreverá, em termos gerais, os objetivos e a finalidade pesquisa nortearão o estilo e a utilização do estudo realizado. É uma justificativa que o autor do vocabulário técnico na confecção de um relatório final de um projeto de pesquisa. tratará da relevância do tema-problema trabalhado, É adequado que cada parágrafo seja tentando motivar o interesse do leitor. Aqui é necessário constituído de três partes: introdução, desenvolvimento (corpo) e a conclusão. clarear a definição do assunto e a delimitação do tema, situando-o no espaço e no tempo; é o significado do problema. Segue-se ainda a apresentação da hipótese formulada e que se há de demonstrar. O suporte teórico utilizado para o estudo poderá agora ser enfocado, tanto para clarear as definições operacionais consideradas, bem como a inter-relação da fundamentação teórica com o material empírico coletado, quando o trabalho possui está fase.
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Apresentação: Poucas diferenças há entre a apresentação do projeto e a do relatório. Pode também conter elementos de natureza opcional, a exemplo de Dedicatória, Agradecimentos e Epígrafe (citação, seguida da Metodologia do autoria, relacionada à matéria tratada no trabalho). Sinopse: Consiste numa breve síntese, de no máximo 15 a 20 Trabalho linhas, acerca do conteúdo do relatório, realizado pelo autor do trabalho, não Científico devendo ser confundido com uma relação de partes ou capítulos, nem com a enumeração das conclusões. Quando realizado por uma outra pessoa, recebe o nome de resumo. Denomina-se de abstract a síntese do trabalho, redigido na língua inglesa, visando a divulgação da pesquisa de modo abrangente, não deve ser confundido com uma tradução da sinopse, ainda que seja comum, pois a construção do enunciado deve ser efetuado na língua inglesa. Sumário: Relação das partes, capítulos, itens e subitens do trabalho, com a respectiva indicação do número de páginas iniciais. Introdução: A introdução, enquanto parte inicial do texto, na qual se expõe o assunto como um todo. Inclui informações sobre a natureza e a importância do trabalho, relação com outros estudos sobre o mesmo assunto, razões que levaram à realização do trabalho, suas limitações e, principalmente, seus objetivos. Devem constar também as partes principais que compõem o trabalho. Abrange ainda, três itens do relatório: objetivo, justificativa e objeto, incorporando as modificações realizadas depois de aplicada a pesquisa-piloto. Desenvolvimento: O desenvolvimento de um relatório, também denominado corpo, é a parte mais extensa. Nesta fase deve-se apresentar muito claramente a metodologia usada e todo o traçado e caminho do estudo envolvendo variáveis e componentes. Estes elementos são de especial importância pois a partir da análise dos mesmos é que se pode julgar a validade científica do estudo. O corpo ou desenvolvimento de um relatório de pesquisa tem por objetivo fornecer a análise dos componentes mais importantes de um tema-problema. O desenvolvimento de um relatório de pesquisa deve sofrer um processo metodológico divisório. O corpo do trabalho distribui-se em partes, as partes em capítulos, os capítulos em secções ou subtítulos, os subtítulos em parágrafos, os parágrafos em frases ou orações. Conclusões e recomendação: Em um relatório de pesquisa é imprescindível que se institua um item especial para as conclusões. Nas conclusões e recomendações os resultados considerados valiosos e finais para a compreensão e exame da problemática estudada serão aqui apresentados. Como fechamento do trabalho, a conclusão é expressa em termos de síntese dos elementos relevantes analisados no trabalho. A conclusão define o ponto de vista do autor, por isto mesmo expressa as suas características pessoais acerca do assunto tratado – é a sua ideologia. Bibliográfia: Inclui todas as obras já apresentadas no projeto, acrescidas das que foram sendo sucessivamente utilizadas durante a execução da pesquisa e a redação do relatório, de modo ordenado, organizado por autor, em ordem alfabética. Apendices: Apresentando tabelas, quadros, gráficos e outras ilustrações que não figuram no texto; assim como o(s) instrumento(s) de pesquisa, o apêndice é composto de material trabalhado pelo próprio pesquisador. Deve ter ordenação própria e, no sumário, constar apenas o título genérico “Apêndices”. Anexos: Constituídos de elementos esclarecedores de outra autoria, devem ser limitados, incluindo apenas o estritamente necessário à compreensão de partes do relatório. Deve ter ordenação própria e, no sumário, constar apenas o título genérico “Anexos”.
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Monografia Trata-se de um estudo sobre um tema específico ou particular, com suficiente valor representativo e que obedece a rigorosa metodologia. Investiga determinado assunto não só em profundidade, mas também em todos os seus ângulos e aspectos, dependendo dos fins a que se destina. Tem como base a escolha de uma unidade ou elemento social, sob duas circunstâncias: 1) ser suficientemente representativo de um todo cujas características de análise; 2) ser capaz de reunir os elementos constitutivos de um sistema social ou de refletir as incidências e fenômenos de caráter autenticamente coletivo. Localiza-se na origem histórica da monografia aquilo que até hoje caracteriza essencialmente esse tipo de trabalho científico: a especificação, ou seja, a CARACTERÍSTICAS DA MONOGRAFIA redução da abordagem a um só assunto, a um só problema. Mantém-se assim o A característica essencial não é a extensão, mas o sentido etimológico: monos (um só) e caráter do trabalho (tratamento de um tema delimitado) e a graphein (escrever: dissertação a respeito qualidade da tarefa, isto é, o nível da pesquisa, que está intimamente ligado aos objetivos propostos para a sua de um assunto único). elaboração. A monografia implica originalidade, mas até certo
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Estrutura da Monografia
ponto, uma vez que é impossível obter total novidade em um trabalho; isto é relativo, pois a ciência acumulativa, está sujeita a contínuas revisões. As principais características de uma monografia são:
a) trabalho escrito, sistemático e completo; Os trabalhos científicos, em geral, b) tema específico ou particular de uma ciência ou parte dela; apresentam a mesma estrutura: c) estudo pormenorizado e exaustivo, abordando vários introdução, desenvolvimento e conclusão. aspectos e ângulos do caso; Pode haver diferenças quanto ao material, d) tratamento extenso em profundidade, mas não em alcance; ao enfoque dado, a utilização desse ou e) metodologia específica; daquele método, dessa ou daquela f) contribuição importante, original e pessoal para a ciência. técnica, mas não em relação à forma ou à estrutura. Introdução - formulação clara e simples do tema da investigação; é a apresentação sintética da questão, importância da metodologia e rápida referência a trabalhos anteriores, realizados sobre o mesmo assunto;
Desenvolvimento - fundamentação lógica do trabalho de pesquisa, cuja finalidade é expor e demonstrar. No desenvolvimento, podem-se levar em consideração três fases ou estágio: explicação, discussão e demonstração. - Explicação: é apresentar o sentido de uma noção, é analisar e compreender, procurando suprimir o ambíguo ou obscuro. - Discussão: é o exame, a argumentação e a explicação da pesquisa, ou seja, explica, discute, fundamenta e enuncia as proposições. - Demonstração: é a dedução lógica do trabalho; implica o exercício do raciocínio. Demonstra que as proposições, para atingirem o objetivo formal do trabalho e não se afastarem do tema.
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Metodologia do
Trabalho Científico
Conclusão - é a fase final do trabalho de pesquisa, mas não somente um fim. Como a introdução e o desenvolvimento, possui uma estrutura própria. A conclusão consiste no resumo completo, mas sintetizado, da argumentação dos dados e dos exemplos constantes das duas primeiras partes do trabalho. Da conclusão devem constar a relação existente entre as diferentes partes da argumentação e a união das idéias e, ainda, conter o fecho da introdução ou síntese de toda reflexão.
Tipos de Monografia Os estudantes, ao longo de suas carreiras, precisam apresentar uma série de trabalhos que se diferenciam uns dos outros quanto ao nível de escolaridade e quanto ao conteúdo. Via de regra, para o término do curso de graduação, os estudantes têm o compromisso de elaborar um trabalho baseado, geralmente, em fontes bibliográficas, que não precisa ser extenso nem muito específico. À medida que ascendem na carreira universitária, esses trabalhos vão exigindo maior embasamento, mais reflexão, mais amplitude e criatividade. Podem-se distinguir três tipos: monografia, dissertação e tese, que obedecem a esta ordem ascendente, em relação à originalidade, à profundidade e à extensão. a) Monografias escolares ou de trabalhos de caráter didático, apresentados ao final de um curso específico, elaborados por alunos iniciantes na autêntica monografia, ou de iniciação à pesquisa e como preparação de seminários. b) Monografias científicas ou de trabalhos científicos apresentados ao final do curso de mestrado, com o propósito de obter o título de mestre. As monografias referentes ao grau de conclusão do estudante universitário não podem ser consideradas verdadeiros trabalhos de pesquisa (para o qual os estudantes não estão ainda capacitados, salvo raras exceções), mas estudos iniciais de pesquisa.
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Formatação da Monografia Antes de ser imprimir a monografia, cabe ao autor observar os parâmetro de formatação do trabalho, devendo considerar: utilizar papel tamanho A4 (210mm x 297mm), digitado de um só lado em espaço 1,5 com corpo de letra Times New Roman 13 ou 14 ou Arial 11 ou 12, exceto: resumo, notas de rodapé, citações muito longas, indicações de fontes de tabelas, referências bibliográficas, índices e apêndices, que devem ser apresentados em espaço simples; margens superior e esquerda 3,0 cm; direita e inferior 2 cm; citações e transcrições devem ficar sete a oito espaços para dentro da margem esquerda, entre aspas; inserção de notas, tanto em listas no fim de cada capítulo, como em rodapé ou no final do trabalho, devendo restringir-se o mais possível às referências bibliográficas; referências bibliográficas poderão ocorrer no texto, quando deverão ser indicadas entre parênteses, sumariamente, ou em notas de rodapé, quando deverão ser numeradas consecutivamente, dentro de cada artigo ou capítulo; a indicação deve ser precedida do seu número de ordem escrito acima da linha;
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a paginação deve ser feita a partir da primeira folha de trabalho, que é a folha de rosto. As páginas devem ser numeradas no canto superior direito, em algarismos romanos e a partir do capítulo 1 ou introdução em algarismos arábicos, a dois ou três espaços do texto; cada novo capítulo ou seção deve começar em uma nova folha, com cabeçalho ou título cerca de 8 cm da borda superior; o texto se inicia cerca de 5 espaços do título.
Elementos da Monografia A praxe é apresentar a monografia com os seguintes elementos:
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Elementos Pré-textuais capa, deverá conter apenas os dados indispensáveis à identificação do trabalho: título em destaque na parte superior, o nome do autor em destaque; especificação do trabalho (dissertação, monografia etc.); dados referentes ao curso; dados referente a instituição acadêmica, com a respectiva localização; data; dorso com o título e nome do autor; contracapa, geralmente sem gravação ou impressão, às vezes utilizada para apresentar um resumo da obra; após a capa, uma a duas folhas em branco; uma página que repete a capa; a página de rosto que contém: na parte superior, o nome completo do autor, sem abreviaturas, com seus títulos ou cargos logo abaixo; o título real do trabalho com subtítulos, se houver; indicação de prefácio ou prólogo ou apresentação com o nome do apresentador (quando não houver apresentador, esse item não deve aparecer); nome da instituição; cidade, ano; página de dedicatória, se houver; epígrafe, ou página destinada a um pensamento, frase, dístico, se o autor achar conveniente; sumário completo (de todos os capítulos e suas seções) ou sumário (enumeração das partes principais) com a indicação das páginas iniciais dos capítulos ou partes destacadas; listas de tabelas e/ou quadros, ilustrações, abreviaturas, siglas, símbolos etc. prefácio, caso haja; apresentação, caso haja.
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Elementos Textuais introdução; desenvolvimento com a seqüência dos capítulos destinados ao corpo do trabalho; capítulo(s) das conclusões.
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Elementos Pós-textuais anexos, elementos que se acrescentam para demonstração, exemplificação ou comprovação do texto, ordenados de acordo com o desenvolvimento; adendos, dados que se acrescentam para complementação do trabalho;
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Metodologia do
Trabalho Científico
notas, fruto de observações ou aditamentos do texto; apêndices, elementos que se anexam para complementação do trabalho; bibliografia ou referência bibliográfica em ordem alfabética dos sobrenomes dos autores; índice de assuntos, nomes de pessoas, nomes geográficos, acontecimentos, etc., em ordem alfabética, com indicação de sua localização no texto; glossário, caso se julgue importante; uma ou duas páginas em branco antes da contracapa. ELABORAÇÃO DE UMA MONOGRAFIA Escolha do assunto
Delimitação do assunto
Formulação do problema
Pesquisa Empírica
Pesquisa Bibliográfica
Pesquisa Não-empírica
Documentação para o trabalho Metodologia dedutiva
Metodologia indutiva Crítica da documentação
Resultados
Resultados
Construção
Introdução
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Desenvolvimento
Conclusão
Atividades
Complementares
1.
Em que sentido a iniciação científica é importante (ou não) para a formação acadêmico-profissional do estudante? Quais são as vantagens e desvantagens que podemos identificar? Elabore um texto de 10 (dez) linhas, segundo as normas da ABNT, acerca das questões propostas.
2.
Há, de modo geral, uma tendência a descuidar-se da linguagem quando se redige um trabalho científico. Elabore um texto de 10 (dez) linhas demonstrando os aspectos fundamentais da linguagem científica e a importância de cada um deles na construção do texto científico.
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3. Metodologia do
Trabalho Científico
Toda ciência utiliza inúmeras técnicas na obtenção de seus propósitos. As técnicas de pesquisa podem ser categorizadas em três grandes grupos. Elabore um esquema evidenciando as categorias de técnicas de pesquisa com seus sub-itens e características principais de cada um deles.
Faça seu esquema aqui.
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Atividade
Orientada ORIENTAÇÕES PARA A ATIVIDADE Caro aluno, iremos realizar a atividade em três etapas, conforme segue abaixo:
Etapa
1
O processo de aprendizagem depende, dentre outros elementos, da capacidade de leitura e assimilação reflexiva dos conteúdos. A leitura pode ser realizada de modo proveitoso e com menor grau de esforço quando efetuada com base em algumas técnicas. A leitura amplia e integra os conhecimentos, desonerando a memória, abrindo cada vez mais os horizontes do saber, enriquecendo o vocabulário e a facilidade de comunicação. Nesta primeira etapa você tomará conhecimento do texto, do que ele trata, quais são os pontos mais importantes. Portanto, comece fazendo o que segue: a) Procure fazer uma leitura geral e atenciosa do texto, percebendo o assunto e o significado do que foi lido; b) Releia o texto grifando os pontos mais importantes e as palavras desconhecidas; - procure as palavras que você não conhece no dicionário; - sublinhe, em cada parágrafo, as palavras que contém a idéia-núcleo e os detalhes mais importantes. c) Destaque do texto: - Tema; - Idéia central; - Problema; - Objetivo do autor.
Etapa
2
Agora que você já conhece o texto e já compreendeu a importância do seu tema central, vamos sistematizar esse conhecimento adquirido. Nesta etapa da atividade, iremos realizar algumas técnicas que já conhecemos para a sistematização do conhecimento. Portanto, vamos à elas: Inicialmente iremos fazer um fichamento do texto. Fichar é transcrever anotações em fichas, para fins de estudo ou pesquisa. À medida que o pesquisador tem em mãos as fontes de referência, deve transcrever os dados em fichas, com o máximo de exatidão e cuidado. Lembre-se dos elementos principais que não podem deixar de existir num fichamento. São eles: - cabeçalho; - referência bibliográfica;
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- corpo; - identificação da obra; - local onde pode ser encontrado o texto. Metodologia do
Trabalho Científico
Etapa
Agora vamos resumir o texto. Deverá ser um resumo descritivo. Portanto, busque transcrever os pontos mais importantes do texto, em, no máximo, uma página, com fonte de tamanho 12 ( Arial ou Time New Romam).
3
Agora que você já sistematizou as informações que continham no texto e já assimilou os conteúdos e informações que ele contém, vamos agora para a parte mais significativa da atividade. Nesta etapa quero ver o seu potencial crítico e reflexivo. Portanto, a tarefa agora é elaborar uma resenha crítica do texto. Lembre-se da estrutura que deve conter numa resenha crítica. - Referência Bibliográfica; - Credenciais do autor; - Resumo da obra (digesto); - Conclusões da autoria; - Crítica do resenhista (apreciação da obra); - Indicações do resenhista. TEXTO PARA ANÁLISE Sumário: APRENDER: O DESAFIO RECONSTRUTIVO é um texto de Pedro Demo. Este texto apresenta a tendência vigorosa de compreender a aprendizagem como fenômeno reconstrutivo, ressaltando a pesquisa como seu ambiente próprio. Passa rapidamente por algumas teorias interdisciplinares (psicologia, biologia, física, lingüística e suas interconexões). Para ilustrar esta tendência, organiza cenários do Mundo de Sofia, tomando em conta que este livro desenha, com rara precisão, a pesquisa como ambiente de aprendizagem e o papel maiêutico do professor. O texto foi extraído do site do SENAC, http://www.senac.br/informativo/BTS/243/boltec243c.htm. Acesso em 02 de out. 2003.
APRENDER: O DESAFIO RECONSTRUTIVO Pedro Demo* Impera entre nós confusão clássica com respeito à aprendizagem, geralmente tomada como simples ensino, ou mera instrução, para não dizer treinamento. Esta banalização foi incorporada na nova LDB, realizando autêntica “salada terminológica” e denotando que ainda prevalece a expectativa de uma escola e de uma universidade preocupadas essencialmente com aulas. O mandato dos 200 dias letivos talvez seja a expressão mais explícita, porque induz a pensar que o aluno aprende escutando aulas e que a função central do professor é dar aulas.1 Embora não seja o caso de rejeitar a aula por completo, pois ela tem seu lugar supletivo, dificilmente se pode hoje mantê-la como paradigma central da aprendizagem. Um dos argumentos mais importantes poderia ser buscado no reconhecimento crescente de que a aula combina com ensino, não com educação. O ambiente adequado de educação exige o diálogo de sujeitos, de cariz participativo e autoformativo, tornando-se contraproducente a relação externa, quando predominante. Certamente, em todo processo educativo existe treinamento também, porque a relação social é eivada da relação de poder e a socialização propende a valorizar comportamentos adaptativos. Mas, se quisermos criatividade, consciência crítica, cidadania de sujeitos capazes de história própria individual e coletiva, é mister cuidar que o processo se marque principalmente pelo desafio educativo ou formativo. Neste texto pretendemos arrolar alguns argumentos favoráveis ao desafio reconstrutivo da aprendizagem, com o objetivo de contribuir para inovações fundamentais na escola e na universidade. Entre elas conta-se a necessidade de perceber a pesquisa como ambiente da aprendizagem reconstrutiva, donde segue que esta noção de pesquisa precisa fazer parte de todo processo educativo, em qualquer nível e em qualquer fase. Sua falta faz com que educação decaia para mero ensino. A noção usual de pesquisa como sendo o processo metodológico geralmente muito sofisticado de produção de conhecimento continua valendo, mas é apenas uma das faces. Seria,
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assim, o caso distinguir entre um “pesquisador profissional”, que vive de produzir conhecimento, e o “profissional pesquisador”, que usa a pesquisa como propedêutica de seu saber pensar. FUNDAMENTOS DA APRENDIZAGEM RECONSTRUTIVA É mais conhecida a terminologia da “construção do conhecimento”, por conta da obra de Piaget que leva o nome de “construtivismo”. Não a adotamos aqui apenas para não insinuar que a aprendizagem reconstrutiva só poderia ser feita através das idéias de Piaget, e também para não reforçar uma certa tendência excessivamente rigorosa ou menos hermenêutica, a saber: normalmente reconstruímos conhecimento, porque partimos do que já conhecemos, aprendemos do que já está disponível na cultura; a construção do conhecimento também pode ocorrer, mas é um passo de originalidade acentuada, dificilmente aplicável ao dia-a-dia. Entendemos por aprendizagem reconstrutiva aquela marcada pela relação de sujeitos e que tem como fulcro principal o desafio de aprender, mais do que de ensinar, com a presença do professor na condição de orientador “maiêutico”. Tem como contexto central a formação da competência humana, de cunho político, certamente instrumentada tecnicamente, mas efetivada pela idéia central de formar sujeitos capazes de história própria, individual e coletiva. Assim, quando se aproxima este tipo de aprendizagem, do saber pensar e do aprender a aprender, a diferença substancial frente às idéias “escolanovistas” ou da assim chamada “qualidade total” está em que o propósito ético-político se constitui na razão de ser do processo, permanecendo o manejo do conhecimento e a referência ao mercado como meio. Ou seja, a qualidade política prevalece sobre a qualidade formal, ainda que uma não substitua nem se desfaça na outra. Ao mesmo tempo, a presença do professor é considerada componente intrínseco da aprendizagem, por ser esta uma habilidade humana e social, não eletrônica ou apenas técnica.2 Por outra, o desafio da aprendizagem reconstrutiva se alimenta igualmente de certas linhas de pensamento do conhecimento pós-moderno, sobretudo frente à problemática da incerteza, da complexidade do real e da interdisciplinaridade. Ao contrário do ensino, que se esforça por repassar certezas e que são reconfirmadas na prova, a aprendizagem busca a necessária flexibilidade diante de uma realidade apenas relativamente formalizável, valorizando o contexto do erro e da dúvida. Pois quem não erra, nem dúvida, não pode aprender. Pode estranhar, mas esta visão mais dinâmica do processo de aprender encontra hoje fundamentos mais explícitos nas áreas das ciências naturais, do que na pedagogia ou nas ciências ditas humanas. Combate-se a propensão instrucionista da pedagogia atual, fixada no treinamento de fora para dentro e marcada pela idéia de ensino.3 Essas teorias reforçam a aprendizagem como processo de formação da competência humana política, mais do que apenas o substrato técnico-instrumental. São menos teorias de como ensinar, do que de como aprender. Chama muito a atenção a convergência formidável das várias teorias, sobretudo daquelas com origem fora das ditas ciências sociais e humanas, além de sua tendência interdisciplinar. 1. Começando pela filosofia, é conhecida a proposta de Kohlberg, aproveitada por Habermas e Apel, em torno do desenvolvimento das noções de moral na criança e no adolescente, tendo como base o construtivismo piagetiano; tem de interessante o reconhecimento de que moral se aprende, e permite trabalhar a idéia de ética histórica e política.4 Afasta-se a pretensão de “incutir” a moral nas pessoas, como algo que venha de fora para dentro, sob o signo da autoridade, privilegiando no aluno o senso pela obediência. Trabalha-se muito mais o conceito de responsabilidade, que é a capacidade de responder pelos seus atos em contexto histórico e social. Pode correr o risco de apelar para bases transcendentais da moral, válidas para toda sociedade e todo tempo, contando mais com estruturas dadas do que com a construção histórica, como seria o caso da teoria da justiça de Rawls, por exemplo.5 2. Passando para a psicologia: a contribuição mais importante ainda é a de Piaget, tendencialmente cognitivista,6 no sentido de dar importância maior ao lado cognitivo da mente humana, certamente mais do que, por exemplo, ao lado emocional; encontrou eco nas propostas de Maturana e Varella, bem como na de Capra, que tendem a coincidir vida com cognição,7 dentro de uma visão de “auto-regulação”; o construtivismo estabelece o processo de aprendizagem como o desenvolvimento permanente e cada vez mais elevado da capacidade de elaboração própria,8 sem incidir necessariamente no evolucionismo teleológico, e orientado para a criatividade (fenômeno da equilibração); em termos estruturais, tem-se dedicado a descobrir as condições gerais e invariantes do conhecimento humano, o que, quando mal-entendido, leva à acusação de estruturalismo excessivo.9 3. Na psicanálise: na esteira de Freud, é possível ressaltar a importância para a aprendizagem da relação afetiva e emocional, com reflexo decisivo para a auto-estima do aluno e para uma forma de autonomia emancipada; pode servir de equilíbrio de tendências por vezes excessivamente cognitivistas ou que apreciam apenas tipos lógicoformais de inteligência.10 Entre as várias vertentes, pode-se chamar a atenção para o grupo de “psicoterapeutas construtivistas”, que buscam desenhar os processos de tratamento como similares a processos de aprendizagem de estilo reconstrutivo.11 4. Na psicossociologia: a vertente principal é o interacionismo de Vygotsky, que realça o papel do contexto social da aprendizagem, o que pode, de um lado, diminuir a tendência cognitivista, e, de outro, valorizar a ambiência humana, contribuindo para entender a aprendizagem como competência humana, mais do que somente competência formal; ao mesmo tempo, esta visão abre campo mais facilmente para valorizar os contextos culturais e históricos, inclusive a relação lúdica.12 5. Na biologia: detém grande força ainda a visão de Maturana e Varella, com base no conceito de autopoiesis, para expressar a idéia de autoformação,13 válida para qualquer ser vivo, não só para seres humanos; primeiro, o vivo não é uma substância, mas um modo de se organizar (auto-organização); segundo, todo ser vivo é um sistema fechado, correspondendo isto à sua individualidade e à marca de sistema autodeterminado; terceiro, é dotado da capacidade de reagir construtivamente diante dos estímulos externos, de tal sorte que faz, dentro de seu âmbito, história própria; ao contrário da teoria do reflexo condicionado de Pavlov (típica proposta de ensino domesticador), ressalta-se também a criatividade que caracteriza a vida sob todas suas formas, o que levaria a retocar a teoria da
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evolução das espécies de Darwin, no que tem de apreço excessivo pelo acaso, já que a sobrevivência estaria mais ligada à capacidade de aprender, do que a circunstâncias fortuitas.14 Combate expressamente as teorias instrucionistas. 6. Na física pós-moderna: é ainda mais surpreendente o reconhecimento de que o conceito de vida deveria incluir também a matéria, cabendo a esta igualmente predicados sempre Metodologia do reservados apenas aos seres humanos, como criatividade, conquista de espaços, capacidade reconstrutiva, etc. Colocando em xeque a matemática linear e a visão positivista da realidade, Prigogine encontra um isomorfismo nos seres maior do que se imagina, e parte para entender o caos estruturado, colocando a desordem da realidade como fato primeiro e como fator de criatividade; embora não tenha feito propriamente uma teoria da aprendizagem, seus estudos admitem estender a idéia também para o universo, que, estando em formação, tem um sentido histórico irreversível e é dotado da capacidade de auto-regulação, sem qualquer ligação com uma ordem teleológica; instiga fortemente a noção de realidade complexa ou de ordem complexa, que se aplica também ao processo de aprendizagem de estilo histórico-estrutural.15 7. São bastante conhecidas as propostas tipicamente interdisciplinares: já é modismo o apreço a obras que unem psicologia e biologia e realçam a emoção e a subjetividade na aprendizagem, alcunhado de “novo paradigma”. A pesquisa não está tão avançada como as modas desejariam, mas os resultados são já muito significativos, seja na crítica forte contra os testes de inteligência tradicionais (racionalistas, de cariz europeu), seja na valorização da emoção como motivação e até mesmo como referência principal da mente (mais que a razão), seja na importância da pesquisa interdisciplinar, mais apta a captar as complexidades da vida concreta.16 Cabe apontar também para a pesquisa da consciência, que tem enfrentado a questão da inteligência artificial, em ambiente de polêmica acirrada. Os que defendem a inteligência e a aprendizagem como fenômeno não computacional, como Searle e Penrose,17 apostam na criatividade do ser humano, geralmente apelando para a ciência da complexidade de cariz quântico, enquanto outros confiam que, sendo o ser vivo apenas um modo alternativo de organização da matéria disponível, não estaríamos longe de decifrar a questão e que seria tipicamente computacional.18 8. A lingüística também trouxe colaboração inestimável, porque descortinou o horizonte da fala como ação19 (Austin), ou da linguagem como não espelho da realidade20 (Rorty), ou como construção social da realidade21 (Searle). Habermas tem utilizado esta noção em sua teoria da ação comunicativa, indicando que a linguagem humana, além de ser o diferencial mais importante de sua identidade (Maturana), significa sempre uma postura reconstrutiva diante da realidade. Por certo, o mundo lá fora não depende de nossa linguagem para existir, mas nossos mundos são aqueles que a linguagem permite e reconstrói.22 Esta maneira de ver coincide, com referência à metodologia científica, à tese do “objeto construído”, hoje tão difundida também em ambientes das ciências naturais, como a física pós-moderna que pretende também redescobrir a dialética.23 9. Já a pedagogia continua mantendo a tendência instrucionista, com base em didáticas de mero ensino, tendo como fundamentos principais a aula e a prova. Os próprios resultados muito magros do aproveitamento escolar dos alunos indicam que se trata de propostas obsoletas. O que mais estranha é que, cabendo à pedagogia o mandato de renovar os procedimentos de aprendizagem de maneira permanente, siga resistindo a qualquer inovação mais profunda nesta parte.24
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CENÁRIOS DO “MUNDO DE SOFIA” A título de exemplificação, podemos tomar o “Mundo de Sofia” como ambiente propício de aprendizagem reconstrutiva, com realce para a habilidade básica de saber pensar.25 Com efeito, o ambiente imaginado nesse livro corresponde, a largos traços, a cenários essenciais de um processo adequado de aprendizagem. 1. Cenário I: Existe um professor escondido, que orienta de modo elegante e exigente. Esta situação pode ser compreendida também como parte do “romance”, mas tem um significado eminente: lugar do professor não é no centro do processo, mas na orientação dele. No centro está o aluno. Fazendo analogia com o jogo de futebol, é mister haver um árbitro, mas este “estraga” o jogo se começa a aparecer em excesso. Os artistas são os jogadores e estes devem aparecer. Torna-se clara a posição maiêutica desse tipo de professor, cuja função principal não seria, jamais, substituir, simplificar, facilitar, banalizar a aprendizagem do aluno, mas torná-la viável e tanto mais profunda e qualitativa. Instiga, motiva, desafia, inquieta, instabiliza... Não dá nada pronto. Ao contrário, após cada vitória, arma desafios ainda maiores e mais complexos. 2. Cenário II: A aluna é motivada a construir seu caminho, de maneira abertamente reconstrutiva, no sentido de que vai passando por etapas sucessivas, nas quais se eleva a patamares mais avançados e complexos, de certa forma replicando o caminho reconstrutivo da filosofia. Faz parte deste caminho o sentido emancipatório: colocando a “cuca” para funcionar, ou seja, pesquisando com sistematicidade ou sabendo pensar, a filosofia foi se tornando uma atividade adulta, gerando modos alternativos de intervenção na realidade. Estes modos alternativos representam também modalidades cada vez mais abrangentes de organizar um sujeito capaz de história própria, individual e coletiva. O trajeto é marcado pelo questionamento permanente, pela dúvida constante, pela capacidade de perguntar com obsessão e de armar respostas provisórias. O “Mundo de Sofia” é também o mundo da educação permanente, cuja presença bem pode ser virtual, desde que não prejudique a aprendizagem. 3. Cenário III: A aprendizagem do “Mundo de Sofia” dispensa aula e prova e é à distância. Dificilmente se poderia duvidar que a aluna aprende bem, já que consegue digerir a história da filosofia de modo mais ou menos abrangente. O próprio fato de ela entrar na história de um modo e chegar ao fim dela de outro, mostra que aprendizagem reconstrutiva provoca mudança inequívoca, por vezes também dolorosa. Pode e deve gerar alegria, mas é sempre a alegria do bom combate, não a do “bobo alegre”. Confunde-se com a aprendizagem da e para a vida, sem os estereótipos da escola ou da universidade. Conserva o sentido forte da avaliação, porque o professor não deixa a aluna em paz e imprime sobre ela um ritmo
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forte de trabalho. Entretanto, trata-se daquela espécie de avaliação que é sinônimo de aprendizagem e que, no fundo, é sua única razão de ser. Torna-se movimento intrínseco do processo e representa sobretudo a garantia de qualidade. 4. Cenário IV: Aprender não é acabar com as dúvidas, mas conviver criativamente com elas. Por parte do professor, não se trata, jamais de “tirar dúvidas”, mas de fazer outras tantas. Temos aí um sentido claro pós-moderno: conhecimento é processo dinâmico de questionamento permanente, não gerando respostas definitivas, mas perguntas inteligentes. O professor que tira dúvidas, coíbe o aluno de aprender, já que evita o saber pensar. E quem sabe pensar, não encontra coisas definitivas, mas harmoniza-se com a imprecisão da realidade e a precariedade da ciência. Vai nisso também uma crítica forte à aula expositiva, geralmente distribuidora de certezas. Os alunos escutam, tomam nota e as devolvem nas provas. Trata-se, na verdade, de um ambiente catequético, doutrinador, tendencialmente instrutivo e de treinamento, tanto assim que, como regra, não se pode colocar em xeque a prova ou sua nota. Ainda que muitos professores se esforcem por dotar suas aulas de ambiente participativo, sua marca é de conhecimento imposto de fora para dentro e de cima para baixo. O aluno, a rigor, não é sujeito. Já na visão reconstrutiva e maiêutica, a aprendizagem se alimenta da dúvida e das incertezas, nutre-se da flexibilidade das indagações profundas, vê no saber pensar a dinâmica permanente de um movimento aproximativo que jamais se esgota em si mesmo, aprende a aprender. 5. Cenário V: A formação da consciência crítica e criativa faz parte do saber pensar. Neste sentido, não vale apenas destacar a importância do conhecimento, mas igualmente sua face dúbia. Porquanto, saber pensar é, antes de mais nada, saber desconfiar e desconstruir. Não é assim que, mesmo o conhecimento mais crítico não tenha seus momentos de ingenuidade, mas é mister ler a realidade com olhos abertos. Encontramos aqui um dos pontos mais fulgurantes da aprendizagem reconstrutiva: não se pode questionar sem ser questionado, não se pode arrumar consciência crítica sem tê-la, não se pode avaliar sem ser avaliado. Quer dizer, a coerência da crítica está na autocrítica. Por isso, quem sabe pensar, sabe sobretudo que sabe pouco. A história da filosofia de cariz europeu trilhou caminho tipicamente colonizador, usando o conhecimento principalmente como arma. Sempre foi impiedosamente crítico. Mas, contra os outros. Para consigo mesmo, este conhecimento foi complacente, e neste sentido, absurdamente ingênuo, ou maldoso. E isto leva facilmente a colocar a questão ética: conhecimento para que e para quem? 6. Cenário VI: Por tratar-se de filosofia, sempre causa certo espanto que esse livro tenha se tornado um dos best sellers mais importantes do mundo. Uma de suas qualidades é a combinação criativa entre teoria e prática, mostrando que o saber pensar não é apenas pensar, mas a base teórica para poder intervir melhor. Por conta disso, não só gente das ciências humanas se interessou pelo livro, mas igualmente de outras áreas, como engenharia, medicina, biologia, e mesmo matemática. Nada é mais prático profissionalmente falando, do que saber pensar. Na verdade, trata-se de uma habilidade, não de conteúdo, mas é precisamente disto que se trata: a importância propedêutica do saber pensar, em seu lado teórico e prático. O conhecimento pós-moderno já havia derrubado a distinção artificial entre teoria e prática, porque a importância essencial do conhecimento é de ser a intervenção mais prática dos tempos. Assim, um projeto de intervenção só tem a ganhar se for orientado devidamente pela teoria, bem como a teoria, para ser deste mundo, precisa confrontar-se com a prática. Um recado importante: para estudar bem, não é mister sair da vida, parar a vida, organizar-se de maneira excepcional. O “saber pensar” não pode entrar em nossas vidas apenas de vez em quando, mas como atitude definitiva. Esta maneira de ver recomenda grandes revisões na escola e na universidade: um estudo muito distanciado da prática ou da cotidianeidade não motiva; a prática como atividade que vem depois da teoria significa uma artificialidade; a prática como simples ativismo não sabe inovar, pois apenas se repete; a crítica sem proposta se esvazia em si mesma, pois, se é importante mostrar os erros, é ainda mais importante saber mostrar como superálos; não se aprende aos solavancos, como é a prova, mas de modo continuado, como é a própria vida; o conhecimento que inova é o mesmo que envelhece, donde segue a necessidade de renovação constante; na vida é mister desconstruir práticas e teorias, para se continuar vivendo. Todas as analogias claudicam em algum lugar. Por isso, não se há de supervalorizar o “Mundo de Sofia”. Serve apenas como referência pertinente. Mas mesmo assim, pode indicar vezos arcaicos de nossas práticas e teorias. Talvez se pudesse colocar, à sombra destas colocações, que o aluno ainda gosta de pensar, ao contrário do que a escola insinua, ou seja, que os alunos não querem mais estudar. Deixando de lado que há também alunos que não querem estudar, sendo isto certamente não uma invenção atual, muitos alunos se dizem cansados da escola, porque lá são obrigados a entupir-se de matéria, de modo repetitivo, submeter-se a provas mais ou menos idiotas, escutar professores desatualizados, envolver-se com ambientes profundamente desmotivadores. Um pouco da indisciplina poderia ser explicado por esta via. É possível tomar gosto pelo saber pensar, desde que não seja a farsa de quem não sabe pensar, ou algo meramente reprodutivo, ou algo particularmente penoso. Quando o aluno percebe que o conhecimento crítico e criativo lhe é a bagagem mais decisiva para enfrentar a vida e também o mercado, mais facilmente adere ao estudo sistemático e com ele cresce, sem deixar de lado, nunca, a questão da qualidade política e da ética. Afinal, estudar bem dá trabalho e sempre cansa. A alegria que se retira daí, não é a alegria da superficialidade, banalização, encurtamentos, “macetes”, mas aquela que enche a alma. OBJEÇÕES COMUNS Como uma das marcas mais fortes das entidades que se dizem inovadoras é resistir à inovação própria, não assusta que existam objeções ao aprender, em nome do ensinar. A própria LDB continua com o esquema obsoleto do “ensino/aprendizagem”, reservando o primeiro termo para o professor e o segundo para o aluno. Daí provêm as alusões comuns, tais como: adquirir, transmitir, socializar conhecimento, bem como treinar e instruir. Com
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efeito, diante de um professor que ensina, cabe ao aluno uma postura receptiva, submissa, cordata, de estilo preformativo domesticado, condenado a seguir normas e a engolir o que vem de fora. A prova garante, mais que todas as outras táticas, que a matéria repassada seja efetivamente assimilada. Seu horizonte de estudo é aquele desenhado pelo professor, o que torna este um autêntico fetiche acadêmico. Mesmo quando exige leitura dos alunos, é sempre Metodologia do algo direcionado, empacotado, e, de todos os modos, reprodutivo. O achado reprodutivo geral é “fichar livro”. Não se pode negar que alunos “formatados” desse modo consigam “aprender” alguma coisa, pelo menos memorizar conteúdos, e, encontrando na vida um espaço profissional repetitivo, possam se dar bem. Entretanto, estamos forçando o conceito de “aprendizagem”, esvaziando-o do desafio reconstrutivo. E estamos supondo que, na vida e no mercado, as profissões continuem repetitivas, o que é um engano clamoroso. Há aí dois reptos incondicionais: boa formação, que ultrapassa flagrantemente o mero ensino, e habilidade constante de renovar a profissão. Neste sentido, nem o mercado se satisfaz mais com profissionais que apenas “adquiriram” conhecimento, porque são estáticos com respeito aos desafios do futuro. Estudaram para trás, como é uso na universidade. Não são capazes de se confrontarem com novos desafios, encarar o desconhecido e o incerto, refazer caminhos e continuar sempre andando. Foram “ensinados”, não “educados”. Isto mostra o problema de estudar com um professor que apenas ensina, porque, na prática, atravanca o desenvolvimento adequado do aluno, que desaprende de saber pensar, olhando somente para trás e reproduzindo o que já passou. Diante disso, convém encarar algumas objeções mais comuns: 1. Sobretudo a educação capitaneada pelo Banco Mundial e hoje adotada pelo Ministério da Educação atrela-se ainda ao ensino.26 Buscam um fundamento prático em experiências tipicamente norte-americanas, sobretudo de educação profissional, estreitamente ligadas ao mercado e consideradas muito exitosas.27 Com efeito, uma das marcas mais comuns do sistema universitário norte-americano é de privilegiar algumas universidades dedicadas à pesquisa de ponta, enquanto as outras praticam o ensino sistemático, usando a pesquisa. O método básico de aprendizagem é a aula de professores que passam a vida dando aula. Daí seguiria a premissa de que pesquisa não é necessária para ensinar. Há, primeiro, uma imitação barata de ambientes de fora. Qualquer professor nos Estados Unidos tem o título de doutor e, portanto, passou pelo processo de produção própria de conhecimento. Ou seja, não aprende apenas escutando aulas, mas igualmente pela via reconstrutiva. Segundo, está embutido no processo de aprendizagem dos alunos que não se trata apenas de escutar aulas e fazer provas, mas igualmente de produzir textos próprios, sobretudo para seminários ou coisas do gênero, nos quais os alunos são levados a defender o que produziram. Terceiro, o critério de inserção prática no mercado obriga a manter um ritmo forte de inovação reconstrutiva, com o objetivo de acompanhar ou mesmo de se antecipar a demandas futuras. Estas três marcas já mostram a distância que existe para situações brasileiras: poucos professores possuem doutorado, a maioria só sabe dar aulas e a maioria dos alunos só sabe tomar nota e fazer prova, e o estudo está quase sempre desvinculado do mercado, até mesmo porque nosso mercado é muito estreito. Assim, quando se fala de ensino por lá, toma-se como fulcro uma situação pelo menos razoável de aprendizagem autêntica, ainda que a subserviência ao mercado possa trazer outros vícios, mas que não são compensados aqui pela alienação quase sempre total frente ao mercado. Poderíamos caricaturar a situação norte-americana em dois passos interligados: a. leva-se o ensino às últimas conseqüências, no sentido de ser bem-feito, incluindo todas as táticas eletrônicas: disponibilidade do conhecimento e de vias de acesso, possibilidade recorrente de voltar a tópicos não dominados, ampla oferta de aulas atualizadas, e assim por diante; b. inserção natural de estratégias autênticas de aprendizagem, à medida que o aluno é levado a produzir textos próprios e a defendê-los em seminários. Talvez se pudesse mesmo dizer que o acento principal está no primeiro ponto, comparecendo o segundo com menor evidência. Ainda assim, o ambiente acadêmico, por mais pragmático que possa parecer, implica a presença de um professorado habituado a reconstruir conhecimento. Isto ocorre também com aqueles professores que publicam pouco, já que estão, como regra inseridos, em ambientes normais de reconstrução do conhecimento, pelo menos para levar até ao aluno conteúdos atualizados. Aí temos uma diferença monumental entre estudar com um professor que jamais reconstruiu conhecimento, sequer sabe o que é isso, e reduz o aluno a consumidor de aulas obsoletas, e estudar com outro que tem uma história acadêmica reconstrutiva comprovada. O resultado poderia ser que, nos Estados Unidos, o aluno termina o curso bem atualizado e com chances claras de inserção no mercado, enquanto entre nós, nas faculdades do interior sobretudo e na maioria das instituições acadêmicas, o aluno termina o curso claramente ultrapassado e suas chances no mercado são apenas eventuais. É certamente congruente pensar que os alunos, como regra, buscam inserir-se no mercado, não transformarse em pesquisadores profissionais. Esta atividade é seletiva, com certeza. Entretanto, estamos confundindo, de novo, pesquisa com ambiente da aprendizagem e pesquisa profissional. Parece cogente que, para aprender de maneira reconstrutiva, é mister saber pesquisar e elaborar com autonomia. 2. A idéia da pesquisa como ambiente da aprendizagem pode ser boa, mas tende a incorporar como pesquisa qualquer coisa, sobretudo por conta do despreparo dos professores e dos alunos. Esta objeção tem razão de ser, já que pesquisa pode virar modismo. Com efeito, a pretensão da pesquisa como ambiente da aprendizagem supõe um professor minimamente preparado, porquanto a qualidade da aprendizagem do aluno é diretamente proporcional à aprendizagem do professor. Uma definição mínima da pesquisa para esta finalidade é de ter que atingir o nível do questionamento reconstrutivo. Dois reptos estão em jogo: a. há que aparecer o desafio do questionamento: um sujeito capaz de perguntar, inquirir, duvidar, contraporse, confrontar-se, significando sobretudo a capacidade de autonomia e a habilidade de saber pensar;
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b. há que aparecer o compromisso de reconstrução: à crítica deve seguir a contraproposta, devidamente reconstruída, na qual comparece a competência humana pertinente e capaz de intervir na prática. Dentro desta perspectiva, não pode ser aceita como pesquisa o mero fichamento de livro, a simples coleta de material, a transcrição de textos e aulas, a reprodução de análises de outrem, a justaposição de citações e assim por diante. Entretanto, tomando as coisas a sério, implica reconhecer que é natural começar do começo, ou seja, de algo muito pouco reconstruído, praticamente copiado, desde que seja apenas o primeiro passo. Todo gênio um dia também copiou. Mas é reconhecido como gênio porque não copia mais. Assim, é difícil esperar de um aluno que, já na primeira fase, se expresse de modo original. Ao mesmo tempo, é mister desfazer a proverbial dicotomia entre teoria e prática, pois o conhecimento pósmoderno coloca um natural entrelaçamento entre ambas. Pode-se pesquisar partindo da prática ou da teoria, porquanto estudamos teoria para melhor intervir, e praticamos para melhor compreender a realidade. A inovação permanente exige retorno à teoria, como a teoria exige confrontar-se com a prática. 3. A aula seria o lugar privilegiado do contato pedagógico, havendo mesmo ainda professores que gostariam de defender a função histórica de “professar”. Certamente, não é o caso simplesmente combater a aula, porque detém seu lugar supletivo, sobretudo nos processos de ensino sistemático. Ao mesmo tempo, já passou o tempo em que professor era alguém comandado pelo idealismo religioso, embora esta motivação possa ser essencial. Um professor vocacionado tende a ser melhor que outro apenas profissional. Todavia, é mister discutir o que seria “contato pedagógico”. A pedagogia corriqueira propende a aceitar a situação de ensino como paradigmática, na qual a influência da presença do professor seria a pedra de toque. Hoje, em concepções reconstrutivas, privilegia-se o diálogo crítico e criativo entre dois sujeitos que, no fundo, fazem a mesma coisa: aprender. A diferença entre professor e aluno, além da social, é apenas de estágio de desenvolvimento com respeito à aprendizagem. Neste sentido, a situação de aula tende a representar uma relação de ensino, ressaltando no aluno a atitude de ingestão de conhecimento advindo de fora. Não seria, pois, uma condição educativa favorável, se insistirmos na necessidade de formar sujeitos capazes de história própria individual e coletiva. Caberia melhor a idéia de um professor orientador, de estilo maiêutico. Neste caso, haveria condições mais visíveis de autopoiesis, tomada como referência educativa com base na formação da autonomia emancipatória. A aula mantém seu lugar como expediente supletivo, seja no sentido de organizar o semestre e os temas a serem tratados, propiciar uma visão geral inicial, ainda que superficial, retomar questões durante o percurso, interromper procedimentos por conta de resultados dúbios, transmissão de informação relevante, socialização de pesquisas, e assim por diante. De certa maneira, a aula tem a ver com aprendizagem, assim como o ensino tem a ver com educação. Ambos existem e se interconectam, mas o segundo termo é que dá o sentido educativo. Do ponto de vista do professor, a aula tende a recuar naturalmente, à medida que sua qualidade reconstrutiva se torne preponderante, porque facilmente entende que o aluno aprende melhor na condição de sujeito participativo. Geralmente, professores mal-preparados só podem dar aula, porque não alcançam ultrapassar o patamar de reprodução de conhecimento alheio. Aí, o apelo à função social de “professar” tende a encobrir seus vazios, já que um “profeta” mais competente vai preferir argumentar e convencer, a impor oráculos. 4. O ensino teria a vantagem de traduzir visões amplas da matéria, o que é complicado através do método da pesquisa. De fato, uma sucessão de aulas permite percorrer um longo caminho de temas, cuja soma daria uma visão geral. Mas, é mister considerar que este tipo de visão geral não é nem visão, nem geral, porque não passa, como regra, de um vôo nas alturas, onde nada acontece. Os alunos chamam a isto de “ver matéria”. Não é “estudar matéria”, entrar em seus meandros, discutir autores com propriedade, desconstruir argumentações e contraargumentar. As aulas apostam no domínio de conteúdo, enquanto a pesquisa em habilidades. Quanto aos conteúdos, é mister levar-se em conta que há dois problemas: não é possível dominar todos os conteúdos (nenhum sociólogo consegue saber a sociologia toda), e, quando se imagina dominar os conteúdos, já estão ultrapassados. Daí não segue que não seria mais o caso tratar conteúdos. Pelo contrário, ninguém se torna profissional sem dominar conteúdos. Mas, como todo conteúdo se desgasta, é fundamental saber renovar, de modo permanente, os conteúdos. Isto só é viável pela pesquisa e elaboração constante. Assim, preferindo-se pesquisa como ambiente da aprendizagem, não segue o abandono dos conteúdos, mas apenas uma organização diferenciada, com privilégio para as habilidades básicas. Imagina-se que, sabendo pesquisar bem, pode-se dar conta de qualquer conteúdo, sobretudo dos novos ou surpreendentes. Pois, prepararse para a vida não é acumular conteúdos, mas ultrapassá-los de modo permanente. Para tanto, saber pensar e aprender a aprender são habilidades vitais e fatais. Qualquer profissão que não se renova, se inviabiliza. Por outra, não se faz uma profissão, apenas sabendo pensar. Será, pois, mister encontrar um meio termo, no qual seja possível dar o tratamento adequado a conteúdos, numa extensão razoável, e encontrar o espaço privilegiado das habilidades. Porquanto, também é verdade que nada é mais profissional do que saber pensar. Um aluno, a título de pesquisa, pode insistir sempre no mesmo tema, privando-se de visão geral. Aí entra o papel do orientador, no sentido de evitar a monotonia. 5. O ensino teria uma aproximação maior com a prática ou com a inserção na vida das pessoas, enquanto pesquisa tende a encerrar-se no mundo acadêmico. Esta objeção revela, primeiro, ligação débil entre teoria e prática, coisa que já anotamos. Segundo, instila a idéia errada de que, para dar conta da vida, basta ser prático. Olvida-se, desde logo, que a prática, se não for constantemente renovada pela teoria, esgota-se em sua mera repetição. Geralmente, 20 anos de experiência, por exemplo, significam mais facilmente 20 anos de repetência (sempre fazendo a mesma coisa). A pesquisa dentro da universidade como a temos no Brasil tende, certamente, a encerrar-se em cuidados acadêmicos e proclama um tipo de elaboração que não passa de textos. A necessidade de elaborar para aprender não significa elaboração escrita, porque, se assim fosse, o analfabeto não poderia saber pensar. A elaboração
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escrita ou similar (pode ser eletrônica também) é absolutamente necessária para professores e para muitas outras profissões, sobretudo de nível superior. Seja como for, continua valendo que, para aprender, é mister elaborar, por escrito ou não. Em disciplinas que usam laboratório, a elaboração passa, necessariamente, pela experimentação em laboratório, que fica ainda melhor se estiver por escrito. Neste sentido, facilmente é o caso de disciplinas que usam Metodologia do laboratório oferecerem uma aprendizagem mais sólida, porque a experimentação induz a um estágio claro de elaboração e pesquisa. Em outras, fica-se na conversa esticada, de modo geral ainda mais reprodutiva. Existe aqui um problema de fundo, voltado para a compreensão adequada do que seria prático na vida das pessoas e da sociedade. “Saber pensar”, de si, não tem utilidade prática imediata. “Filosofia”, como regra, é vista como discurso aéreo para gente aérea. Entretanto, o próprio mercado coloca hoje esta exigência, desde que se trate de “habilidades básicas”. Nestes termos, “prático” não é somente o que tem utilidade imediata, mas aquilo que resolve a proposta de trabalho de modo mais profundo. É neste sentido que se diz: fazer não basta; é mister “saber fazer”, porque é sempre necessário refazer. Assim entendida, pesquisa é de absoluta utilidade, ainda que não necessariamente imediata. Por outra, o critério de utilidade não pode ser a medida das coisas, já que, se assim fosse, o mundo da cultura estaria condenado, entre outros. É mister poder pesquisar também aquilo que não é diretamente útil ao mercado, mas útil à humanidade. Esta é uma argumentação importante em favor de entidades educativas públicas e gratuitas. Isto dito, é claro que temos melhor aproximação de coisas úteis. Significa dizer que a formação acadêmica só tem a ganhar se souber também dar espaço para práticas com teor útil. De certa maneira, a extensão foi inventada para isso, embora possa decair em meras práticas sem vinculação com a pesquisa. O ensino, sobretudo o mero ensino, dificilmente é prático, porque esconde uma visão mecânica de prática. Distribuir fórmulas feitas é atrapalhar a vida das pessoas. Sobretudo, se as rebaixamos a entes passivos que seguem ordens dos outros. A pesquisa tem esta vantagem: exige um sujeito que questiona.
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* Pedro Demo é PhD em Sociologia pela Universidade de Saarbrücken, Alemanha e professor titular da UnB, Departamento de Serviço Social.
Notas 1 Veja crítica a respeito em: DEMO, Pedro. A Nova LDB: ranços e avanços. 4. ed. Campinas: Papirus, 1997. 2 DEMO, Pedro. Questões para teleducação. Petrópolis: Vozes, 1998. - veja capítulo sobre aprendizagem. DEMO, Pedro. Educar pela pesquisa. 3. ed. Campinas: Autores Associados, 1998. 3 Veja interessante argumentação contra a “instrução” feita por Maturana, com fundamento biológico: MAGRO, C. et alii (Org.). Humberto Maturana: a ontologia da realidade. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1997. 4 HABERMAS, J. Consciência moral e agir comunicativo. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1986; APEL, K. O. Diskurs und Verantwortung: das problem des übergangs zur postkonventionellen moral. Frankfurt: Suhrkamp, 1988; APEL, K. O. Estudos de moral moderna. Petrópolis: Vozes, 1994; veja também FREITAG, B. (Org.). Piaget: 100 Anos. São Paulo: Cortez, 1997. (sobretudo textos de Kesselring e Freitag). 5 RAWLS, J. Uma teoria da justiça. São Paulo: Martins Fontes, 1997. 6 Existe atualmente também a objeção baseada na descoberta de que a capacidade perceptiva da criança seria bem mais ampla do que Piaget imaginava. “A percepção depende da detecção das propriedades fixas e variáveis do ambiente, mais do que da sua construção por intermédio da ação” (BUTTERWORTH, G. Inteligência Infantil. In: KHALFA J. (Org.). A Natureza da inteligência. São Paulo: Ed. UNESP, 1997. p. 61). Daí não segue que as crianças sejam “meros receptores passivos dos estímulos visuais” (p. 62), mas “as relações entre os sentidos são mais desenvolvidas do que a explicação de Piaget assumiu” (p. 64).7 Veja principalmente recepção de Capra da teoria de Maturana e Varella: CAPRA, F. A Teia da vida: uma nova compreensão científica dos sistemas vivos. São Paulo: Cultrix, 1997. 8 GROSSI, E.P.; BORDIN, J. (Orgs.). Construtivismo pós-Piagetiano: um novo paradigma sobre aprendizagem. Petrópolis: Vozes, 1993; GOULART, I.B. Piaget: experiências básicas para utilização pelo professor., Petrópolis: Vozes, 1996; KAMII, C., DECLARK, G.. Reinventando a aritmética: implicações da teoria de Piaget. Campinas: Papirus, 1992. KESSELRING, T. Jean Piaget. Petrópolis; Vozes, 1993.. 9 Veja FREITAG, B. Piaget: 100 Ano, op. cit., sobretudo texto de Ramozi-Chiarotino; quanto à acusação de “desenvolvimentismo”, veja texto de Esther Grossi. 10 BARALDI, C. Aprender: a aventura de suportar o equívoco. Petrópolis: Vozes, 1994. LAJONQUIèRE, L.. De Piaget a Freud : a (psico)pedagogia entre o conhecimento e o saber. Petrópolis: Vozes, 1993 .
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17 SEARLE, J.R. Intencionalidade. São Paulo: Martins Fontes, 1995; SEARLE, J.R. O Mistério da consciência. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1998; PENROSE, R. Shadows of the mind: a search for the missing science of consciousness. New York: Oxford Univ. Press, 1994. 18 Veja também: CHALMERS, D.J. The Conscious mind : in search of a fundamental theory. New York: Oxford Univ. Press, 1996; DENNETT, D.C. Consciousness explained. N. York: Back Bay Books, 1991; COMBS, A. The Radiance of being: complexity, chaos and the evolution of consciousness. Minnesota: Paragon House, 1996; JAYNES, J. The Origin of consciousness in the breakdown of the bicameral mind. Boston: Hougghton Mifflin Company, 1990. 19 AUSTIN, J.L. Quando dizer é fazer: palavras e ação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1990; AUSTIN, J.L. Sentido e percepção. São Paulo: Martins Fontes, 1993. 20 RORTY, R. A Filosofia e o espelho da natureza. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1994. 21 SEARLE, J.R. Intencionalidade. São Paulo: Martins Fontes, 1995; SEARLE, J.R. O Mistério da consciência. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1998. 22 WINOGRAD, T., FLORES, F. Understanding computers and cognition: a new foundation for design. New Jersey: Ablex Publishing Corporation, 1986; HABERMAS, J. Consciência moral e agir comunicativo. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1989. 23 PRIGOGINE, I., STENGERS, I. A Nova aliança. Brasília: Ed. UnB, 1997. Veja tentativa de reconstrução da dialética da natureza de Engels. 24 DEMO, P. Questões para a teleducação. Petrópolis: Vozes, 1998; DEMO, Pedro. Conhecimento moderno: sobre ética e intervenção do conhecimento. Petrópolis: Vozes, 1997; DEMO, Pedro. Desafios modernos para a educação. 8. ed. Petrópolis: Vozes, 1998. 25 GAARDER, J. O Mundo de Sofia: romance da história da filosofia. São Paulo: Cia das Letras, 1995. 26 DRUCK, G. , FILGUEIRAS, L. O Projeto do Banco Mundial, o Governo FHC e a Privatização das Universidades Federais. 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Anotações Metodologia do
Trabalho Científico
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Anotações
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Metodologia do
Trabalho Científico
FTC - EaD Faculdade de Tecnologia e Ciências - Educação a Distância Democratizando a Educação.
www.ftc.br/ead
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