Prefácio Por Moacir Gadotti EDUCAÇÃO
E ORDEM CLASSISTA
A obra de Paulo Freire teve lançamento lançamento em português quando o educador brasileiro retornou ao Brasil depois de quinze anos de exílio. De acordo com Paulo Freire: “mas a cada momento eu descubro que é indispensável estar aqui para melhor entender toda a atual realidade. Quinze anos de ausência exigem uma reaprendizagem e uma maior intimização com o Brasil de hoje.” "Educação e Mudanças" possui a sua teoria e práxis que são tão fortes, violentas, carregadas por um sentido existencial profundo. Freire foi considerado o “pedagogo dos oprimidos”, depois do golpe militar de 1964. Uma obra inquietante, revolucionária, pois exprime a ideia de libertação dos oprimidos, uma forma de “expressão”, ilustrando a realidade de um oprimido.
mudança.. Temática central deste livro: a mudança
Na prática teórica de Freire a mudança é um “tema gerador”.
O tema consciência está ligado à mudança em todas as obras de Paulo Freire. Ocorre a mudança de uma sociedade de oprimidos para uma sociedade de iguais, e o papel da educação e da consciência nesse processo é a preocupação da pedagogia de Freire. Também há um pessimismo sociológico que consiste em dizer que a educação faz uma reprodução mecânica m ecânica da sociedade.
As possibilidades e limitações da educação.
As possibilidades da ação social e cultural.
EDUCAÇÃO: é um ato de conhecimento e de conscientização que não leva uma sociedade a se libertar da opressão. A questão da mudança com o caráter de dependência da educação em relação à sociedade. Os limites da conscientização são os limites da própria consciência. Os limites para o diálogo.
O diálogo pode estabelecer-se talvez no interior da escola, da sala de aula, em pequenos grupos, mas nunca na sociedade global. O diálogo que Paulo Freire nos fala é o diálogo entre os oprimidos para a superação de sua condição de oprimidos.
Em uma sociedade de classes toda educação é classista.
E, na ordem classista, educar significa conscientizar e lutar contra esta ordem. A educação é sustentada por dois tipos de humanismo, ambos conservadores: o humanismo conservador e o humanismo tecnológico. Um se perde na contemplação dos ideais de uma sociedade “humana”, “acima” da luta de classes, outro elimina todo ideal, substituindo-o pela ciência e pela técnica.
EDUCAÇÃO: é sempre um ato político.
O Compromisso do Profissional com a Sociedade
Este título que será analisado está relacionado a forma de como expressar. A questão: "Quem pode comprometer-se?". Aquele que é capaz de comprometer-se tem que fazer a busca pela essência, ou seja, uma reflexão/entendimento do ato comprometido. A primeira condição para que um ser exerça um ato comprometido é a capacidade de agir e refletir. E há a reflexão sobre a capacidade de influência do mundo, seu estar neste mundo se reduz a um não poder transpor os limites impostos pelo próprio mundo. Este tempo para tal ser seria um perpétuo presente, um eterno hoje. Somente um ser capaz de abstrair-se do seu mundo, do seu tempo, de tornarse um ser histórico, é capaz de comprometer-se. “Somente a capacidade gera o compromisso?” Nesta questão ocorre a reflexão da relação homem-realidade e homem-mundo, onde implica a transformação do mundo. É através da experiência nestas r elações que o homem desenvolve sua ação-reflexão, como também pode tê-las atrofiadas. Portanto, o homem desenvolve ou condiciona o pleno exercício de sua maneira humana de existir. E a realidade não se transforma por si só, mas, ao mesmo tempo em que dificulta a ação transformadora do homem, é criação do mesmo homem. E no jogo interativo do atuar-pensar o mundo a percepção dos obstáculos permite que a sua razão de ser seja compreendida. Quando se impede um homem comprometido de atuar, os homens se sentem frustrados e por isso procuram superar a situação de frustração. Este homem, comprometido com a humanidade, com a história e com a realidade, não pode dizer-se neutro, a neutralidade reflete apenas o medo que se tem de revelar o compromisso. O verdadeiro compromisso é a solidariedade, e não a solidariedade com os que negam o compromisso solidário, mas com aqueles que, na situação concreta, se encontram convertidos em “coisas”. O profissional é um ser humano, que pode estar autenticamente comprometido, falsamente "comprometido" ou impedido de verdadeiramente se comprometer. Seu compromisso como profissional, além de tudo isto, é uma dívida que assumiu ao fazer-se profissional. O compromisso não deve dicotomizar-se do compromisso original de homem, transformando o ser humano em um escravo da técnica, pois é ela que deve servir o homem e não o oposto . Não é possível um compromisso verdadeiro com a realidade, e com os homens concretos que nela e com ela estão se desta realidade e destes homens se tem uma consciência ingênua. A alienação cultural que vem sofrendo nessas sociedades, principalmente as de economia periférica, conduz à falta de autenticidade em seu comprometimento. A importação de técnicas e tecnologias provenientes de outras culturas leva à alienação do profissional, que termina por considerá-las neutras, e perde sua visão crítica sobre as mesmas.
Alienação cultural inibe o processo criativo e a coragem de comprometimento, estimulando o formalismo. O pensamento do homem alienado está perdendo sua força, pois não é autêntico. “Desta forma, como comprometer-se?” Na América Latina exigiu por parte de seus profissionais uma séria reflexão sobre sua realidade altamente dinâmica, não como agentes passivos, mas como homens comprometidos com a busca de um projeto nacional.
A Educação e o Processo de Mudança Social
INTRODUÇÃO
A educação é possível para o homem, porque este é inacabado e sabe-se inacabado. Isto leva-o à sua perfeição. A educação, portanto, implica uma busca realizada por um sujeito que é o homem. O homem deve ser o sujeito de sua própria educação. Não pode ser o objeto dela. Por isso, ninguém educa ninguém. E este processo proporciona uma verdadeira comunhão de consciências.
SABER-IGNORÂNCIA
A educação tem caráter permanente, existem graus de educação e não são absolutos, pois somente Deus sabe de maneira absoluta. Portanto, não há saber nem ignorância absoluta: há somente uma relativização do saber ou da ignorância.
AMOR-DESAMOR
O amor é uma intercomunicação íntima de duas consciências que se respeitam. Nesta sociedade há uma ânsia de impor-se aos demais numa espécie de chantagem de amor. Isto é uma distorção do amor. Quem não é capaz de amar os seres inacabados não pode educar. Não há educação imposta, como não há amor imposto. Nada se pode temer da educação quando se ama.
ESPERANÇA-DESESPERANÇA
Não se pode iniciar uma busca sem esperar algo, portanto não existe educação sem esperança.
O HOMEM - UM SER DE RELAÇÕES
O homem está no mundo e com o mundo, é um ser capaz de relacionar-se; de sair de si; de projetar-se nos outros; de transcender.
CARACTERÍSTICAS
O homem tende a captar uma realidade, fazendo-a objeto de seus conhecimentos. A educação não é um processo de adaptação do indivíduo à sociedade, mas um mecanismo de transformação em busca do ser mais. O homem, diferentemente de Deus, a quem não existe tempo, e dos animais, que estão sob o tempo, está no tempo, dimensionando-se e tendo consciência de um ontem e de um amanhã. As relações humanas são, portanto, reflexivas, consequentes, transcendentes e temporais .
O ÍMPETO CRIADOR DO HOMEM
A educação é mais autêntica quanto mais desenvolve este ímpeto ontológico de criar. A educação deve ser desinibidora e não restritiva. A domesticação é a negação da educação, a negação do desenvolvimento de uma consciência crítica individual que permita ao homem transformar a realidade. E a atividade criadora permite ao homem responder aos desafios do mundo.
CONCEITO DE SOCIEDADE EM TRASIÇÃO
Uma determinada época histórica é constituída por determinados valores, com formas de ser ou de comportar-se que buscam plenitude. Quando os fatores comportamentais do ser humano rompem o equilíbrio, os valores começam a decair, até que novos valores surgem para atender aos novos anseios da sociedade, que, como não morre, continua na busca da plenitude agora baseada neste novos valores. A este período, chamamos transição.
CARACTERÍSTICAS DE UMA SOCIEDADE FECHADA
A sociedade fechada se caracteriza pela conservação do status ou privilégio e por desenvolver todo um sistema educacional para manter este status. Os intelectuais são dignos e os manuais são indignos. Por isso as escolas técnicas se enchem de filhos das classes populares e não das elites. Estas sociedades também se caracterizam pelo analfabetismo e pelo desinteresse pela educação básica dos adultos.
SOCIEDADE ALIENADA
A sociedade alienada não tem consciência de seu próprio existir. Um profissional alienado é um ser inautêntico. Seu pensar não está comprometido consigo mesmo, não é responsável. O ser alienado não olha para a realidade com critério pessoal, mas com olhos alheios. Por isso vive uma realidade imaginária e não a sua própria realidade objetiva.
UMA SOCIEDADE EM TRANSIÇÃO
A pressão de determinados fatores externos despedaça uma sociedade fechadas, mas a abre. Um processo de desalienação, com o surgimento de novos valores, indica a abertura da sociedade, determinando dois posicionamentos, o reacionário e o progressista. Existe uma série de fenômenos sociológicos que têm ligação com o papel do educador. Nesta etapa de sociedade existem, primeiramente, as massas populares passivas. Quando a sociedade se incorpora nelas se inicia a democratização fundamental, impelindo à participação, a busca de seu processo histórico, de sua participação no mesmo. E a educação mostra-se como um propulsor a esta participação, o que leva a busca da educação das massas.
A “CONSCIÊNCIA BANCÁRIA” DA EDUCAÇÃO
Isto ocorre quando o educando se torna um depósito de conhecimentos, onde sua capacidade criativa é menosprezada. A experiência revela que neste sistema só se formam indivíduos medíocres, devido à falta de estímulo à criação. Quem aparece como criador é um inadaptável e deve nivelar-se aos medíocres. Em nossas escolas se enfatiza muito a consciência ingênua.
A CONSCIÊNCIA E SEUS ESTADOS
O homem é consciente e, na medida em que conhece, tende a se comprometer com a própria realidade. O primeiro estado da consciência é a intransitividade. A intransitividade produz uma consciência mágica. As causas que se atribuem aos desafios escapam a crítica e se tornam superstições. A comunidade sofre uma mudança, a consciência se promove e se tr ansforma em transitiva. Partindo de uma visão ingênua até alcançar um caráter crítico, o que depende de um processo educativo de conscientização.
CARACTERÍSTICAS DA CONSCIÊNCIA INGÊNUA
Revela simplicidade tendendo a um simplismo. Um desafio encarado de maneira simplista. Subestima o homem simples. É frágil na discussão dos problemas. Tem forte conteúdo passional. Apresenta fortes compreensões mágicas. Diz que a realidade é estática e não mutável .
CARACTERÍSTICA DA CONSCIÊNCIA CRÍTICA
Anseio de profundidade na análise de problema. Reconhece que a realidade é mutável. Busca princípios autênticos de causalidade. Procura comprovar as descobertas. Está sempre disposta a revisões. Evita preconceitos. É inquieta. Repele toda transferência de responsabilidade e de autoridade e aceita a delegação das mesmas. É indagadora, investiga, força, choca. Não repele o velho por ser velho, nem aceita o novo por ser novo, mas aceita-os na medida em que são válidos .
O Papel do Trabalhador Social No Processo de Mudança
A frase do título nos possibilita perceber a relação de seus termos, na formação de um pensamento estruturado, que envolve um tema significativo. No entanto o papel do trabalhador social não se restringe ao processo de mudança em si, mas pertence a um domínio mais amplo, a estrutura social, do qual a mudança é uma das dimensões. A estrutura social não é somente imutável nem somente estática, de modo que a essência do ser da estrutura social é a "duração" da contradição entre ambos. Mudança e estabilidade resultam ambas da ação, do trabalho que o homem exerce sobre o mundo. E ao responder aos desafios que partem do mundo, cria seu mundo: o mundo histórico-cultural. E este mundo se volta sobre o homem, condicionando-o, e o mesmo não pode fugir de sua própria criação. A mudança implica em uma constante ruptura, enquanto a estabilidade encarna a tendência desta pela cristalização da criação, de modo que não se pode estudar a mudança sem estudar a estabilidade, submetendo a própria estrutura social à reflexão. Assim, o trabalhador social que atua numa realidade mutável precisa compreender-se como um ser em relação com esta realidade e com outros homens tão condicionados como ele pela
realidade. E a reflexão sobre sua relação com a realidade permite detectar o caráter preponderante da mudança ou estabilidade, na realidade social na qual se encontra, ou seja, permite perceber as forças apontam para a mudança e as que apontam para a estabilidade. O trabalhador social não pode ser um homem neutro frente ao mundo, mas tem que fazer a sua opção, ou adere à mudança no sentido da humanização ou fica a favor da permanência. E esta opção determinará tanto o papel como seus métodos e suas técnicas de ação. Se a opção for para frear as transformações, o homem se preocupará em mitificar a realidade e buscará soluções assistencialistas, encaminhando-se nos sentidos da paralisação. Os métodos de ação não deixam lugar para a comunicação e a cooperação, mas para a manipulação ostensiva ou disfarçada. Não interessa a revisão da percepção da realidade condicionada pela estrutura social em que se encontram. No momento em este condicionamento é percebido, alcança-se uma percepção capaz de se ver, o que permite ao homem descobrir sua presença criadora e potencialmente transformadora da realidade, o que leva a substituir o fatalismo por uma esperança crítica que move os homens para a transformação, objetivo do trabalhador social que opta pela mudança. Este último procura e vive a comunicação e o seu esforço, de caráter humanista, centraliza-se no sentido da desmitificação do mundo, de modo que os homens não sejam objetos, mas sujeitos da estrutura social. A mudança não é vista como uma ameaça e o trabalhador social torna-se um agente de mudança da estrutura social (um agente e não o agente). A estrutura social, que deve ser mudada, é uma totalidade e o trabalhador social deve analisar a validez ou não das mudanças parciais ou da mudança por partes, antes da mudança da totalidade. Al ém disso, não deve o trabalhador social ser ingênuo quanto à não reação das forças contrárias frente a mudanças parciais. É normal o aprofundamento do antagonismo entre os que querem e os que não querem a mudança, o que leva a criação de novos mitos contra a mudança. O papel do trabalhador social, neste contexto, não é o de neutralizá-los com mitos contrários, mas o de problematizar a realidade aos homens, proporcionando a desmitificação da realidade mitificada. Outro aspecto importante é a possibilidade de ter-se da estrutura social uma visão focalista de fora, normal em uma sociedade em que o centro de decisão não se encontra em seu ser, mas no ser de outra sociedade, em um quadro de dependência. Assim, nem sempre é viável a quem realmente opta pelas transformações fazê-las como gostaria e no momento em que gostaria. Além do desejo de fazê-las, há um viável ou um inviável histórico do fazer. O papel do trabalhador social que optou pela mudança, neste contexto, é o de atuar e refletir com os indivíduos com quem trabalha para conscientizar-se junto com eles das reais dificuldades da sua sociedade, o que implica na constante necessidade de ampliar seus conhecimentos. Outro ponto que também exige uma reflexão crítica é sobre a mudança cultural, que será ou deixará de ser um "associado conseqüente" ou "eficiente" do quefazer conforme a estrutura social se encontre, concretamente ou não, em transformação.
Se uma realidade for vista como algo imutável, a tendência dos indivíduos é adotar uma postura fatalista e sem esperança, levando-o a buscar fora da realidade a explicação para sua impossibilidade de atuar, uma percepção mágica da realidade. É necessária, pois, uma mudança de percepção da realidade, de distorcida para crítica. Esta mudança de percepção implica no enfrentamento do homem com sua realidade, de que a mesma seja ad-mirada em sua totalidade e por dentro, em uma visão mais crítica e profunda da sua situação na realidade que não condiciona. Implica em reconhecer-se homem que deve atuar, pensar, crescer, transformar e não adaptar-se fatalisticamente a uma realidade desumanizante. Esta conscientização conjunta com os indivíduos com quem se trabalha é o papel do trabalhador social que optou pela mudança.
Alfabetização de Adultos e Conscientização
INSTRUMENTAÇÃO DA EDUCAÇÃO
O HOMEM COMO UM SER DE RELAÇÕES
O HOMEM E A SUA ÉPOCA
A instrumentação da educação, mais que a simples preparação de quadros técnicos, depende da harmonia obtida entre a vocação ontológica do homem, um ser "situado e temporalizado", e as condições especiais desta temporalidade e desta situacionalidade. Quanto mais for levado e refletir sobre sua situacionalidade, sobre seu enraizamento espaço-temporal, maiior será sua consciência crítica de compromisso com a realidade, da qual, porque é sujeito, não deve ser simples espectador, mas deve intervir cada vez mais .
O homem não só está em, como está com a realidade, que é objetiva e com a qual ele se relaciona. Diferentemente de simples contatos, as relações do homem com a realidade guardam em si conotações de pluralidade, criticidade, conseqüência e temporalidade. A pluralidade envolve a reação do homem a uma ampla variedade de desafios do mundo, na medida em que não se esgota num tipo padronizado de resposta, mas busca a melhor resposta.
O jogo criador apresenta melhores resultados sempre que o homem, integrando-se no espírito das épocas históricas, se apropria de seus temas e reconhece suas tarefas concretas baseando-se em uma atitude crítica. E uma época realiza-se na proporção em que seus temas forem captados e suas tarefas resolvidas, e se supera na medida em que os temas e as tarefas não correspondam a novas ansiedades emergentes. A passagem de uma época para outra caracteriza-se por fortes contradições que aprofundam entre valores emergentes e os valores do ontem.
A TRANSIÇÃO
BRASIL, UMA SOCIEDADE EM TRANSIÇÃO
DEMOCRATIZAÇÃO FUNDAMENTAL
MAIS UMA VEZ O HOMEM E O MUNDO
Esta passagem, denominada transição, apresenta um aspecto desafiador, tornando-se um tempo de opções. A transição implica na marcha concreta da sociedade na busca de sua objetivação, através não somente de meras mudanças, mas do surgimento de novos temas que vem substituir os antigos, que perdem sua significação. Nesta fase é indispensável a integração, o desenvolvimento de uma mente crítica, com a qual o homem possa se defender dos perigos de irracionalismos provenientes da emoção característica desta fase.
O Brasil vivia esta transição de épocas, de uma sociedade "fechada" para uma sociedade "aberta", da penetração de uma nova sociedade que se incorpora a uma velha. A velha tentam sobrepor a formação da nova sociedade, que por sua vez se opõe a vigência dos privilégios contrários aos interesses do homem brasileiro.
Com a ruptura da sociedade e sua entrada em transição, o povo, até então imerso no processo como mero espectador, emerge ingênuo e desorganizado exigindo sua participação no processo. Em contraposição se agrupam forças reacionárias que se sentem ameaçadas em seus princípios.
A relação sujeito-objeto do homem com o mundo da qual nasce o conhecimento é feita também pelo analfabeto, o homem comum, mas por uma via preponderantemente sensível, e não preponderantemente reflexiva, o que leva a uma concepção mais mágica e menos crítica do mundo, e, portanto, a uma ação também mágica.
A ORGANIZAÇÃO REFLEXIVA DO PENSAMENTO
Deveríamos, então, inserir o pensar entre o compreender e o atuar, incentivando o senso crítico, o que ajudaria a assumir formas de ação também críticas, identificadas com o clima de transição. E respondendo às exigências da democratização fundamental, o homem renunciará ao papel de simples objeto para exigir seu papel por vocação: o de sujeito.
COMO FAZÊ-LO?
NOVO CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
A ALFABETIZAÇÃO COMO UM ATO CRIADOR
LEVANTAMENTO DO UNIVERSO VOCABULAR
SELEÇÃO DE PALAVRAS GERADORAS
CRIAÇÃO DE SITUAÇÕES SOCIOLÓGICAS
AMPLIAÇÃO
Somente um método ativo, dialogal e participante poderia fazê-lo, concomitantemente com a modificação do conteúdo programático da educação e o uso de técnicas.
O objeto primordial do diálogo deveria ser o novo conteúdo programático da educação que defendíamos, que ajudasse a substituir a compreensão mágica pela compreensão crítica, separando natureza de cultura e focalizando o homem como sujeito de seu mundo, agente de sua cultura.
A alfabetização como mecanismo crítico de comunicação gráfica implica em uma atitude de criação e recriação onde se entende o que se lê e se escreve o que se entende. O principal papel do educador é o dialogar com o analfabeto sobre situações concretas, oferecendo-lhe os meios com os quais possa se alfabetizar.
As palavras geradoras devem ser típicas do povo e serem ligadas a sua experiência existencial, da qual a profissional faz parte, sendo carregadas de certa emoção. Podem ser obtidas através de entrevistas com os próprios analfabetos, possibilitando uma grande riqueza de resultados.
Com o material recolhido chega-se a fase de seleção das palavras geradoras, com os seguintes critérios: a riqueza fonética; a dificuldade fonética crescente e o aspecto pragmático da palavra com relação a conscientização sobre uma determinada realidade.
Com as palavras selecionadas, criam-se situações nas quais são colocadas as palavras em ordem crescente de dificuldade fonética, funcionando como elementos desafiadores dos grupos, que, com a colaboração do coordenador, codificam as informações nelas contidas.
Somente após a análise da situação, o educador se volta à visualização da palavra geradora, a partir da qual se busca estabelecer um vínculo semântico
para com a situação. Em seguida a palavra é apresentada em sílabas, os "pedaços", que reconhecidos introduzem as famílias fonéticas.
A CAPACITAÇÃO DOS COORDENADORES
A grande dificuldade está não no aprendizado do método, mas na criação de uma nova atitude, o diálogo, que fugindo da domesticaçãoconduz à verdadeira educação, através de uma relação de sujeitos.