para sua edificação. No século XIX, o grande violinista Joachim, amigo de Brahms, editou-as novamente. Aos virtuosos de hoje parecem fáceis demais. No repertório de concerto sobrevive pelo menos a Sonata em ré menor , op. 5 nº 12, denominada Les folies d’Espagne, nada de folia, aliás, mas uma dança estilizada, de incomparável nobreza. (É, porém, preciso ouvir o original, com acompanhamento do cravo, em vez da versão que fez, no século XIX, o famoso violinista polonês Wienawski, na qual o piano acompanha uma deturpação pseudorromântica da melodia Corelliana, inteiramente alheia ao estilo do mestre antigo.) Corelli não é o inventor do concerto grosso. Mas seus 12 Concerti Grossi op. 6 (1712) têm a maior importância histórica: o mestre ampliou o gênero à maneira da suíte francesa. Essas obras também continuam vivas; sobretudo o Concerto em sol menor, fatto per la notte di Natale , op. 6 , nº 8, em que um movimento pastorale , em ritmo de Siciliana, evoca a atmosfera natalina; Handel aproveitará, no Messias, esse ritmo. Corelli, autor de tantas obras de beleza sempre igual e algo monótonas, talvez não fosse um gênio; apenas um grande talento. Afigura-se-nos maior do que foi porque seus predecessores e contemporâneos caíram no esquecimento. Alessandro Stradella já tinha escrito concerti grossi. De Felice dall’ABACO (1675–1742) existem nobres concerti grossi, que mereceriam ser ressuscitados. Já estão ressuscitados os de Tommaso ALBINONI (1674–1745), mestre do “arioso” nas sonatas e introdutor do oboé no concerto grosso. O gênio do gênero é Vivaldi. Em Corelli, o estilo “sacro” e o estilo “de câmara” ainda são essencialmente idênticos. A separação é apenas formal. Antonio VIVALDI (c. 1678–1741) 7, embora sacerdote, dá o passo definitivo para a música instrumental profana, enveredando por um caminho que levará diretamente à arte de Bach. Não lhe conhecemos o ano de nascimento : entre 1675 e 1680, provavelmente 1678. Só há pouco tempo se sabe que não foi sepultado em Veneza, mas em Viena. Essas incertezas biográficas são características: pois a música italiana dedicou-se, nos séculos XVIII e XIX, de maneira tão exclusiva à ópera que o grande instrumentista foi esquecido. Sobreviveu apenas uma figura lendária, de um padre esquisito, de cabelos ruivos, que foi excomungado porque certa vez durante a missa, ocorrendo-lhe uma bela melodia, correu para a sacristia para notá-la, abandonando o altar no momento sacrossanto da transubstanciação eucarística. Filho de um violinista veneziano, o padre Vivaldi foi famoso como violinista na Europa inteira, especialmente na Alemanha, em Viena, em Dresden (onde Bach o teria ouvido); já então, os estrangeiros o admiravam mais do que os italianos. Viveu em Veneza, contratado pelo conservatório do Ospedale della Pietà. Mas suas obras foram publicadas esparsamente, em Amsterdã, Paris, Londres. A maior parte dos originais ficou inédita: encontra-se na Biblioteca de Turim; foi posta em ordem, só em nosso tempo, pelo musicólogo francês Pincherle; cópias manuscritas servem de base aos arranjos mais ou menos fiéis que hoje pertencem ao repertório dos concertos camerísticos. Entre as obras impressas destacam-se, primeiro, os 12 concerti grossi, reunidos como Estro armonico, publicado em Amsterdã, em 1972, como opus 3. Bach transcreveu metade desses concertos para cravo ou órgão, entre eles os melhores da coleção: nº 8 em lá menor , nº 10 em si menor , e sobretudo nº 11 em ré menor , a obra mais conhecida de Vivaldi. Os arranjos de Bach são, porém, obras de arte diferentes: com a instrumentação mudou o espírito. Vivaldi só pode ser devidamente compreendido nos originais, naquele opus 3 ou no opus 8: Cimento del’armonia e del’invenzione (1728). Nesta última coleção encontra-se os quatro concerti grossi dedicados às Quattro stagione do ano; primavera, verão, outono e inverno, música programática que ilustra quatro sonetos. Não é, ∗